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Viktor Medvedchuk, o homem de Putin na Ucrânia

Empresário de 67 anos foi preso pelos serviços especiais ucranianos enquanto fugia

Publicado terça-feira, 19 de abril de 2022 às 06:05 h | Autor: AFP
Viktor Medvedchuk, amigo próximo de Vladimir Putin
Viktor Medvedchuk, amigo próximo de Vladimir Putin -

O ucraniano Viktor Medvedchuk - amigo próximo de Vladimir Putin que pediu, em um vídeo divulgado nesta segunda-feira, 18, por Kiev, para ser trocado por soldados e civis da cidade sitiada de Mariupol, é o homem do presidente russo neste país.

"Quero me dirigir ao presidente russo, Vladimir Putin, e ao presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, com o pedido de me trocarem pelos defensores de Mariupol e seus habitantes", diz o deputado e empresário Medvedchuk no vídeo curto.

Preso pelos serviços especiais ucranianos enquanto fugia, o empresário de 67 anos aparece vestido de preto e sentado a uma mesa, nesta gravação sem data.

Em uma foto publicada na noite de 12 de abril pelo presidente Zelensky, o bilionário, outrora um dos homens mais influentes do país, aparenta apenas uma sombra de si mesmo. Na imagem, aparece algemado, com os cabelos desgrenhados, de uniforme militar ucraniano e sentado em uma cadeira, no que parece ser um antigo escritório. 

O anúncio da prisão desse deputado, um dos políticos mais menosprezados na Ucrânia por suas ligações com o chefe do Kremlin, provocou uma explosão de alegria nas redes sociais.

"É um evento simbólico, como capturar Goebbels", disse à AFP Sergii Lechtchenko, assessor do chefe de gabinete de Zelensky, referindo-se ao ex-chefe de propaganda da Alemanha nazista. 

Apelidado de "príncipe das trevas" pela imprensa local, ele "era o homem que recebia instruções e recursos diretos de Putin para preparar o terreno para a invasão", disse Lechchenko. 

O presidente Zelensky propôs trocá-lo por ucranianos capturados pelas forças russas, mas o Kremlin se esquivou dessa ideia. 

Medvedchuk "não é cidadão russo", declarou Moscou, justificando que não sabe se o próprio deseja que a Rússia interfira em seu caso.

Segundo Medvedchuk, seu relacionamento com Vladimir Putin "se desenvolveu ao longo de 20 anos". "Não quero dizer que exploro essa relação, mas faz parte do meu arsenal político", afirmou em 2021 à revista americana Time. 

Os dois se conheceram no início dos anos 2000: Putin, ex-membro da KGB, acabava de ser eleito presidente da Rússia, e Medvedchuk, advogado suspeito de ter sido um colaborador não oficial da KGB, chefiava o gabinete do presidente ucraniano.

"Vice de Putin"

Neste cargo, é acusado de ter organizado em 2004 uma fraude eleitoral em massa em favor do pró-russo Viktor Yanukovych, o  que desencadeou o primeiro "Maidan", um levante pró-Ocidente.

No final de 2013, a segunda revolução pró-ocidental eclodiu em Kiev, levando à queda do presidente pró-russo. Um mês depois, a Rússia anexou a Crimeia, e uma guerra se seguiu com os separatistas apoiados por Moscou no leste do país.

Discreto, Medvedchuk se juntou às conversas de paz e entrou no Parlamento em 2019, após 15 anos sem função política oficial. Apoiado abertamente por Moscou, seu Partido Plataforma de Oposição Pela Vida ficou em segundo lugar nas eleições legislativas, atrás do partido do presidente Zelensky.

Em fevereiro de 2021, porém, o horizonte começou a escurecer para Medvedchuk, 12ª fortuna da Ucrânia no ano passado, com US$ 620 milhões, segundo a revista Forbes. 

Zelensky sancionou um decreto, proibindo três de seus canais de televisão, porta-vozes da propaganda russa. Em seguida, as autoridades anunciaram a apreensão dos bens da família Medvedchuk, incluindo um oleoduto que transporta petróleo russo para a Europa. 

Em maio de 2021, foi acusado de "alta traição" em conexão com a crise diplomática russo-ucraniana.

Ele é acusado de possuir imóveis na Crimeia, mas também de ter investido em 2014 em uma refinaria russa que abastecia as forças separatistas do Donbass.

A prisão domiciliar de Medvedchuk irritou Putin, que então denunciou "um expurgo político".

"Medvedchuk era o 'vice de Putin', seu homem de confiança, seus olhos e seus ouvidos na Ucrânia, que difundia mensagens de Moscou" por seus meios de comunicação, resume Serguiï Lechtchenko.

A última foto pública de Putin e Medvedchuk é de outubro de 2020.

Nascido na Sibéria em 7 de agosto de 1954, Medvedchuk voltou com sua família para a Ucrânia na década de 1960.

Após estudar Direito, assumiu o papel de defensor de vários dissidentes ucranianos, mas é acusado por seus críticos de não ter feito nada para impedir uma nova prisão por atividades antissoviéticas do famoso poeta Vassyl Stous. Este último morreu no Gulag, aos 47 anos. 

Já atingido pelas sanções americanas por seu papel na anexação da Crimeia, Medvedchuk também foi alvo de medidas similares impostas pelo Reino Unido.

Depois de fugir, a imprensa ucraniana descobriu, no terreno de sua residência perto de Kiev, um vagão de trem em tamanho real profusamente decorado com dourado e veludo e com brasões russos. Trata-se, aparentemente, de um presente de aniversário de sua esposa, a apresentadora de televisão Oksana Marchenko, que fugiu para a Rússia.

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