MERCADO
45% dos jovens entre 21 e 26 anos têm intenção de adquirir um imóvel
A chamada Geração Z atrai a atenção e determina tendências no setor imobiliário
Por Mariana Bamberg
Marcada pelo senso comum com o rótulo do desapego, a Geração Z, formada por jovens de 21 a 26 anos, vem mostrando que o desejo da casa própria - seja para moradia ou investimento - não é algo tão ultrapassado assim. Uma pesquisa realizada pela Brain Inteligência Estratégica, no terceiro trimestre deste ano, apontou que esse é o grupo com maior interesse em comprar um imóvel: 45% deles têm intenção de adquirir uma casa ou apartamento nos próximos meses. Não é à toa que, mesmo sendo recém-chegado ao mercado de trabalho e consumidor, esse público vem guiando tendências no setor imobiliário e chamando atenção de incorporadoras, imobiliárias e corretores.
O movimento não era esperado pelo mercado. Sócia e coordenadora de projetos especiais da Brain, Tiziana Weber lembra que já existia uma discussão sobre o modelo de posse para a geração anterior, os millennials (entre 27 e 42 anos). Os especialistas no setor imobiliário se questionavam se, de fato, esse grupo e os seguintes também priorizariam esse ideal de espaço próprio e fixo.
“O senso comum, muitas vezes, dizia que essas eram gerações que buscariam uma vida mais nômade, com menos posse, mais compartilhamento, um modelo mais de locação. No entanto, há alguns anos observamos que, conforme as novas gerações se estabelecem no mercado de trabalho e adquirem capacidade de compra, passam a desejar um imóvel próprio”, afirma a coordenadora da Brain.
Mesmo com as diferenças e divergências comportamentais entre as gerações, a casa própria, segundo Tiziana, continua sendo no Brasil um marco importante também para os mais jovens que estão chegando no mercado de trabalho e passando a ter poder de compra. “Isso porque o imóvel está associado à autonomia, à independência e também à formação de novas famílias. E a geração Z é aquela que está, neste momento, no auge da busca por esse marco”, pontua.
Apesar do expressivo índice de jovens da Geração Z que demonstram interesse na compra de um imóvel, o conselheiro do Conselho Regional de Corretores de Imóveis (Creci-BA) José Alberto Vasconcelos acredita que a busca por locação ainda é maior entre esse público. A justificativa dele é o estilo de vida desses jovens.
“São pessoas que costumam querer mais flexibilidade, que têm uma vida e uma rotina mais inconstante. Muitos trabalham de forma remota, então não precisam da localização próxima ao trabalho. Existe aí uma mudança na relação com o lar”, defende o conselheiro do Creci.
A operadora de dados Ananda Costa é um dos exemplos dessa geração que prioriza o aluguel. É a formação de uma nova família que a fez tomar a decisão de sair da casa dos pais. Ela e o noivo estão buscando um imóvel e pretendem se mudar já em janeiro. Os dois trabalham para uma empresa do sul do país e é justamente a flexibilidade do home office que os levaram a optar pela locação.
“Hoje, com nosso modelo de trabalho, temos mais liberdade, podemos morar em outros estados. E, apesar da casa representar a formação de uma família, temos uma relação diferente da dos nossos pais com a casa. Os meus, por exemplo, têm outros imóveis que são a realização de sonhos para eles. Já discutimos sobre isso, porque, por meu irmão e eu, venderíamos, não temos esse apego. Para eles, é diferente”, conta a jovem.
Ananda já tem buscado opções através de redes sociais e plataformas digitais de compra e locação. Esse é um comportamento comum em sua geração. O corretor Abimael Góis, por exemplo, acredita que o profissional que não tiver domínio dessas ferramentas vai ter dificuldade de chegar a esse público.
“Hoje, se o corretor não estiver na internet, nas redes sociais, nas plataformas de compra e locação de imóveis, ele não existe. Ainda mais para esse público, que é muito conectado e engajado tecnologicamente. Mas se você faz um vídeo atraente, se cria uma conexão através daquela plataforma, ele já entra em contato, marca uma visita e pode fechar um negócio”, afirma o corretor.
Para Abimael, a Geração Z tem sim sido destaque na busca por imóveis para compra, principalmente em empreendimentos com lazer e infraestrutura completa. Sala de reuniões e coworking, por exemplo, são alguns dos espaços que chamam atenção de Ananda e outros membros dessa faixa etária. “Eles querem ter a possibilidade de fazer tudo em um mesmo espaço. Um condomínio que oferece isso tem prioridade para eles”, afirma.
A operadora de dados já sabe que quer um apartamento. Nas capitais, esse tipo de imóvel é, segundo a pesquisa da Brain, o preferido da Geração Z, com 54% das intenções de compra. Logo atrás, aparecem casas em rua (43%) e em condomínios fechados (5%). E os compactos – studios, unidades de um quarto ou quarto-sala de até 50 m² – também caíram nas graças desse público. É a corretora Magda Alcântara que confirma isso. De acordo com ela, a onda de lançamentos deste tipo de empreendimento em Salvador vem sendo também uma resposta do mercado imobiliário à demanda dessa geração.
“Apesar dessa busca, a relação deles com o imóvel é diferente das gerações anteriores. A casa própria não é vista mais como algo perpétuo, um compromisso para sempre. É um lugar para investir ou então para o jovem descansar, colocar a mochila nas costas e sair”, avalia a corretora.
Primeira moradia
A pesquisa da Brain também confirma essa análise. De acordo com o estudo, 81% desses jovens com interesse de compra buscam um imóvel para uma espécie de transição. Seja para sair da casa dos pais ou do aluguel, porque se casou ou se separou, eles partem para essa primeira moradia, mas já sabem que depois vão querer uma espécie de upgrade, com um imóvel maior, que proporcione mais segurança, comodidade ou em uma localização melhor.
Ainda assim, a localização é, segundo Magda, um dos pré-requisitos na hora da escolha do primeiro imóvel da Geração Z. A proximidade com espaços de lazer costuma ser um dos diferenciais. Por isso, a corretora cita bairros como Pituba, Ondina, Rio Vermelho e Barra - perto da praia e de outras atividades de entretenimento - como os mais buscados por esse público, que tem um ticket médio de até R$ 300 mil.
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