PROTEÇÃO
Carro elétrico no prédio: especialistas alertam sobre risco e perda da garantia
A instalação dos equipamentos para recarga dos veículos exige atenção às normas de segurança e de regulamentação

Por Laura Pita*

Para além das ruas, o avanço da mobilidade elétrica na Bahia tem se refletido também dentro dos condomínios, mas é preciso de alguns cuidados. A venda de carros eletrificados – que incluem modelos elétricos e híbridos – aumentou 90% no primeiro semestre de 2025, segundo dados da Associação Brasileira do Veículo Elétrico (ABVE).
Foram 4.356 unidades vendidas nos seis primeiros meses do ano, 1.534 a mais do que no mesmo período de 2024. O crescimento nas vendas impulsiona a demanda por pontos de recarga, que já somavam 289 no estado em novembro de 2024. Diante desse cenário, síndicos e administradoras têm se debruçado sobre questões técnicas, de segurança e de regulamentação, fundamentais para garantir a instalação correta e o uso responsável das estações de recarga nos condomínios.
O Brasil ainda não conta com normas vigentes sobre a instalação dos equipamentos de abastecimento de carros eletrificados. Contudo, em agosto de 2025, a Liga Nacional dos Corpos de Bombeiros Militares (Ligabom) publicou a Diretriz Nacional sobre Ocupações Destinadas a Garagens e Locais com Sistemas de Alimentação de Veículos Elétricos (Save).
“Agora o Corpo de Bombeiros de cada estado vai elaborar as normas com base nessa Diretriz Nacional. A previsão é que até o final do ano tenhamos a norma da Bahia. Mas o prazo de 180 dias para os condomínios se ajustarem em alguns pontos da diretriz já está valendo, como o distanciamento máximo dos pontos de desligamento dos circuitos”, explica Fábio Carvalho, CEO da HC Energia, empresa de instalação de carregadores para veículos elétricos.
Instalação e uso
Para a instalação e uso seguro dos carregadores, obedecendo às diretrizes, é imprescindível a contratação de profissionais responsáveis.
“Não é qualquer eletricista que está preparado para instalar uma estação de recarga", destaca Fábio Ricardo de Oliveira, engenheiro eletricista, que destaca alguns conhecimentos específicos:
- Dimensionamento elétrico e sistemas de proteção
- Aterramento e disjuntores diferenciais
- Normas Técnicas Aplicáveis (NBRs), como: NBR 5410 (Instalações Elétricas de Baixa Tensão), NBR 5419 (Proteção contra Descargas Atmosféricas) e NBR 17019 (Instalação de carregadores de veículos elétricos)
Essas normas garantem a segurança do usuário, do veículo e de toda a instalação elétrica do condomínio.
Para encontrar o profissional ideal, Fábio Ricardo instrui: “Sempre procure um profissional habilitado, ou seja, um engenheiro eletricista devidamente registrado no Conselho Regional de Engenharia e Agronomia (Crea). Toda instalação de ponto de recarga deve ser feita com acompanhamento de um engenheiro eletricista habilitado, que faça o cálculo da demanda, verifique a capacidade da rede e defina o tipo de carregador mais adequado. Só assim é possível garantir segurança, eficiência e durabilidade tanto para o veículo quanto para o condomínio”.
O síndico profissional, Florisvaldo Andrade destaca que a sua primeira preocupação ao procurar ajuda técnica foi entender qual era a capacidade elétrica dos condomínios em que atua: “Contratamos um engenheiro eletricista, para a emissão de laudo resultante de um estudo da capacidade de carga do empreendimento”. O presidente da ABVE, Ricardo Bastos, reforça a preocupação de Florisvaldo: “O primeiro cuidado que um condomínio deve ter é fazer o diagnóstico da sua rede de energia. É o primeiro passo para saber quantos carregadores a estrutura atual permite, e se há necessidade de ampliação ou alguma mudança na estrutura de cabeamento”. Ele adiciona: “Se o início for bem feito e a manutenção seguir os procedimentos adequados, o condomínio terá segurança e tranquilidade a longo prazo”.
A partir do diagnóstico profissional, o Residencial Pátio Jardins recebeu um projeto de instalação adaptado às suas especificidades. Após as análises técnicas e as considerações apresentadas, “decidiu-se que, nesta primeira etapa, seriam instalados três pontos de recarga de uso comunitário em área aberta, na região da área verde do condomínio”, explica o síndico Honorato Filgueiras. Ele acrescenta que “essa decisão reduz significativamente o risco de propagação de incêndios, pois, em caso de incidente, o controle pode ser feito de forma isolada, evitando que o fogo atinja outros veículos estacionados nas garagens cobertas”.
Caso a instalação seja feita de maneira incorreta, além do aumento do risco de incêndios, a rede elétrica do condomínio também pode ser afetada. “Um ponto de recarga mal instalado pode causar quedas de energia em outros apartamentos, aumentar o risco de fuga de corrente e até interferir em sistemas de segurança, como portões automáticos e iluminação de emergência”, afirma Fábio Ricardo.
Segundo o engenheiro, os veículos também podem ser prejudicados: “Instalações incorretas podem causar a perda da garantia do carro elétrico, porque os fabricantes exigem que o carregamento seja feito em condições técnicas adequadas e seguras. Os fabricantes deixam claro que a recarga precisa ser feita dentro de parâmetros específicos de tensão e corrente. Se isso não for respeitado, o sistema elétrico do carro pode ser danificado de forma irreversível”.
Se a implantação for bem feita, as normas forem seguidas e as manutenções estiverem em dia, não há motivo para preocupação, de acordo com Fábio Carvalho: “a infraestrutura elétrica apresenta desafios que podem ser superados com tecnologia e instalações seguras”. Honorato Filgueiras concorda com Fábio: “Adotar agora essa estrutura significa estar à frente do tempo, garantindo que o condomínio acompanhe as transformações tecnológicas e ambientais que definem as cidades inteligentes e sustentáveis”.
*Sob supervisão da editora Cassandra Barteló
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