ADMINISTRAÇÃO
Contratações de síndicos profissionais mais do que dobram em apenas 2 anos
Entre 2022 e 2024, o número de gestores contratados pelos condomínios passou de 18% para 40%
Por Joana Lopes

Cada vez mais os moradores de condomínios preferem contratar síndicos profissionais em vez de eleger algum vizinho para realizar a administração do local. Entre 2022 e 2024, o número de profissionais contratados para essa função mais que dobrou, saltando de 18% para 40%, de acordo com o último Censo SíndicoNet. Ainda que a maior parte de síndicos se mantenha entre os gestores residentes (60%), os dados revelam uma crescente busca por uma gestão mais profissional. 24,5% dos condomínios contam com síndico profissional há mais de uma gestão, outros 14,7% estão na primeira experiência com esse tipo de gestor e 6,1% já se inclinam para uma contratação futura. Além disso, o censo mostra que até mesmo síndicos moradores decidiram ingressar no cargo já pensando em virar síndicos profissionais (4,2%).
“Os síndicos moradores são poucos e cada vez em números menores. Eles sofrem com a sobrecarga de demanda e aumento da complexidade na gestão, e é aí que os síndicos profissionais entram, com um trabalho mais estruturado”, comenta Julio Paim, fundador do SíndicoNet.
O levantamento mostra que a figura do síndico é considerada tão importante pelos moradores que seu desempenho tem relação direta na qualidade de estruturas e serviços avaliados do condomínio. “Se o síndico tem um desempenho considerado bom, todo o resto tende a ser bem avaliado também”, sinaliza Paim.
Mudanças na área
Rose Smera trabalha há 32 anos nessa área e acompanhou de perto as mudanças no setor. Ela conta que, quando começou, os condomínios eram apenas como uma grande casa a ser administrada, mas, nos últimos anos, se tornaram verdadeiras empresas, com uma série de obrigações perante os órgãos públicos. “Cada condomínio precisa de pelo menos um advogado e um contador”, explica.
Rose acredita que “ninguém mais quer ser síndico, porque não quer se indispor com os vizinhos”. Ela e outros profissionais ouvidos pela reportagem afirmam que, durante e após a pandemia de Covid-19, que confinou quase todo mundo em casa, os ânimos ficaram mais exaltados e a convivência, mais complicada. “Qualquer pequena situação se torna um grande problema. Esse é um dos fatores que têm favorecido a contratação de um profissional externo para, além de outras funções, mediar os conflitos”, relata.
Por isso, o também síndico profissional Luis Alexandre considera que a inteligência emocional é um dos principais requisitos para desempenhar bem essa função. Há 20 anos trabalhando em condomínios, primeiro como vigilante e porteiro e há quatros anos como administrador, ele diz que as maiores vantagens de contratar um especialista é garantir uma gestão transparente e com neutralidade.
“De nossa parte, o desafio é manter uma qualificação diária, estando sempre atualizado com as mudanças do mercado e das regulações. É preciso ter uma visão panorâmica e se antecipar às demandas ou problemas que podem surgir, conciliando as necessidades do morador com a realidade do condomínio”, conta ele.
Bruno Tenório, especialista em gestão condominial e CEO da Super Síndico 365 reforça a necessidade de modernizar os processos, "O modelo tradicional de administração condominial não acompanhou a evolução tecnológica e as novas demandas dos moradores. Ainda há muitos administradores sem preparo para lidar com tecnologia, o que gera atrasos, custos desnecessários e falhas na comunicação", pontua
O conhecimento técnico, estrutural e documental é um diferencial que os profissionais levam à gestão. Com os anos de experiência, os síndicos profissionais já sabem quais notas fiscais têm retenção de impostos, quais são os laudos de segurança necessários ou em que periodicidade deve ser feita a manutenção dos espaços e equipamentos do condomínio. “Hoje em dia, por exemplo, é proibido alugar uma vaga de garagem para alguém que não seja morador. Um síndico não residente pode não saber dessa especificidade e permitir algo que infringe a lei”, exemplifica Rose.
Outra mudança que ela tem acompanhado em seu setor é a automatização e o maior uso de ferramentas tecnológicas que auxiliam a gestão - e que, geralmente, estão à mão apenas dos administradores profissionais. Nas últimas duas décadas, a equipe de Rose foi reduzida: ela, que tinha quatro pessoas para fazer a contabilidade, hoje conta com apenas duas, graças às ferramentas que auxiliam nos pagamentos e cobranças. “A tecnologia ajuda muito. Mas se o trabalho fosse só pagar as contas e resolver problemas estruturais, seria mais fácil. O desafio é lidar com gente”, desabafa.
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