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EM 5 ANOS

Número de pessoas que moram de aluguel em Salvador cresce mais de 17%

A cada cinco famílias de uma mesma rua na capital baiana, uma delas mora em um imóvel alugado

Por Mariana Bamberg

23/12/2023 - 6:50 h
Paula Santana mora de aluguel há pouco mais de dois anos
Paula Santana mora de aluguel há pouco mais de dois anos -

A casa própria ainda é um sonho para muitos baianos, mas morar de aluguel vem sendo a realidade para um número cada vez maior de pessoas que residem na capital baiana. Ao todo são 633 mil moradores de imóveis alugados em Salvador. É como se a cada cinco famílias de uma mesma rua, uma delas pagasse aluguel. O número foi revelado pela pesquisa Síntese de Indicadores Sociais 2023, realizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), que apontou um crescimento de 17,2% no número de inquilinos entre 2017 e 2022. A boa notícia, no entanto, é que essa modalidade de moradia vem se tornando mais acessível.

A pesquisa apontou que 25,1% dos inquilinos de Salvador têm gastos excessivos com aluguel. Isso significa que essa despesa é igual ou superior a um terço da renda familiar. Supervisora de disseminação de informações do IBGE, Mariana Viveiro esclarece que esse nível de comprometimento do orçamento doméstico é um indicador internacional, que aponta que provavelmente a moradia é um dos maiores gastos dessas famílias.

Se em 2022, o índice de inquilinos com gasto excessivo com aluguel equivalia a um a cada quatro moradores, em 2017 essa proporção era ainda maior: chegava a 32,6%, ou quase um a cada três moradores. Essa queda, segundo a coordenadora do IBGE, significa que, em média e no geral, ficou mais acessível pagar o aluguel.

“O dado mais antigo que temos é o de 2016. No estado, a proporção de pessoas com ônus excessivo com aluguel, no total das que moram em domicílios alugados, mostrou tendência de queda, em 2016 era 27,4%, em 2019 equivalia a 24,2% e chegou ao patamar mais baixo em 2022, 21,5%”, afirma Viveiros, pontuando que ainda assim a Bahia figura a posição de décimo terceiro estado com maior percentual de pessoas com ônus excessivo com aluguel.

Os primeiros colocados nesse ranking são Roraima, com 34,9% dos inquilinos enfrentando gastos excessivos com aluguel; Amazonas, com 29,4%, e Rio de Janeiro, que tem o índice de 28,2%. No Brasil como um todo, são 43,2 milhões de pessoas morando de aluguel e 23,3% delas gastam 30% ou mais do orçamento domiciliar com a moradia.

Mãe e analista de patrimônio, Paula Santana mora de aluguel há pouco mais de dois anos e faz parte desses 25,1% de inquilinos soteropolitanos que gastam mais de um terço do orçamento doméstico com aluguel. “Somando com o valor do condomínio, chega a consumir a média de 31% do meu salário, fora os outros gastos que são referentes à moradia”, conta.

Bairros da capital

Paula mora em Canabrava e a escolha do bairro levou em conta a proximidade da família e a mobilidade para ir trabalhar. Mas, para economizar e realizar o sonho da casa própria, ela vem pesquisando opções de aluguel mais em conta e já pensou até em mudar de bairro. “A busca do imóvel próprio fica mais distante tendo que juntar dinheiro e pagar aluguel e despesas de condomínio de um imóvel que nunca vai ser meu”, afirma.

Não é só com Paula, no geral, os inquilinos priorizam localização e infraestrutura na hora de escolher onde morar. Quem garante isso é Carine Alves, corretora e dona de uma imobiliária com foco em locação e administração de imóveis. De acordo com ela, quem mora de aluguel pode até não ter ainda condições de comprar seu imóvel, mas quer morar bem.

“Eles buscam estrutura no empreendimento. Geralmente quem opta por prédios mais antigos em bairros como Brotas e na região da Cidade Baixa, leva em consideração a proximidade com a família. Mas muita gente tem dado preferência à qualidade de vida e infraestrutura com custo-benefício. Quem vem para a região de Piatã, por exemplo, quer isso, a localização perto da Avenida Paralela, perto de faculdades, segurança e estrutura de lazer”, afirma a corretora.

Apesar dos dados do IBGE mostrarem que o nos últimos cinco anos o aluguel ficou mais acessível, desde a pandemia, houve uma valorização dos imóveis para locação. Carine cita como exemplo apartamentos que em 2019 eram alugados por R$ 1,8 mil e agora passaram para R$ 2,5 mil. E a tendência, segundo ela, é que em 2024 eles sofram uma valorização ainda maior.

Conselheiro do Creci-BA (Conselho Regional de Corretores de Imóveis da Bahia), Noel Silva também tem acompanhado um aumento nos valores do aluguel. Para ele, esse cenário tem relação com a pandemia, quando proprietários foram forçados a reduzir ou manter o valor do aluguel diante da paralisação de muitas atividades econômicas. “Com o retorno delas, os donos de imóveis buscaram recompor esse valor, o que acabou resultando no aumento do aluguel”, explica.

Os números confirmam a análise dos corretores. O índice Fipezap de locação residencial apontou em Salvador uma alta de 15,96%, somente nos últimos doze meses encerrados em novembro. Os bairros com preços mais caros por metro quadrado são Barra (R$ 43,6/m²), Pernambués (R$ 42,6/m²) e Caminho das Árvores (R$ 41,6/m²).

Para Noel, o ideal é que esses custos com aluguel e outros gastos relacionados à moradia não cheguem a 25% da renda familiar. Mais do que isso vai, segundo análise dele, comprometer excessivamente a renda do domicílio. E, apesar do crescimento no número de inquilinos, o conselheiro do Creci acredita que a casa própria ainda faz parte dos sonhos do baiano.

“Ainda é um sonho. Talvez daqui a 10 anos mude principalmente entre os jovens e dependendo da classe social. Mas, para a classe média, ainda existe uma demanda muito grande. As pessoas não compram porque não têm recursos. Já que até para um financiamento é preciso, no mínimo, 20% do valor do imóvel, fora despesas cartoriais. Mas as pessoas precisam morar e acabam encarando essa realidade do aluguel”, afirma.

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Tags:

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