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Brasil já consegue erguer uma casa de 100 m² em oito horas

Tecnologia Steel Frame usa ligas metálicas e promete rapidez e durabilidade

Publicado sábado, 09 de setembro de 2023 às 07:54 h | Autor: Mariana Bamberg
A construção industrializada é impulsionada pelo Steel Frame
A construção industrializada é impulsionada pelo Steel Frame -

O mundo ficou chocado quando a China, durante a pandemia, construiu um hospital inteiro em apenas 10 dias. Os especialistas não demoraram a revelar que o segredo estava na construção industrializada, segmento que não surgiu por agora e vem transformando os canteiros de obra em uma espécie de montadora. 

O setor não é exclusividade dos chineses. Ele vem crescendo no Brasil, impulsionado pelo chamado Steel Frame, uma tecnologia que usa ligas metálicas, promete rapidez e durabilidade e teve um crescimento de mais de 10% entre 2020 e 2021, segundo a Associação Brasileira da Construção Metálica (Abecem).

O hospital construído na China tinha 25 mil metros quadrados, mas, no Brasil, já é possível erguer uma casa de 100 metros quadrados em oito horas. Quem garante isso é Aleh Bossan, CEO da Inovahouse, uma franquia especializada em Steel Frame. Ele pontua, no entanto, que esse período é referente apenas à estrutura. Depois ainda será necessária toda a parte de acabamento, rede elétrica, piso e outros detalhes que podem levar, em média, mais 90 dias. 

Segundo o CEO da Inovahouse, a agilidade para erguer a estrutura só é possível porque essa tecnologia usa estruturas de aço pré-fabricadas e leves, que são montados em fábricas e levado ao local da obra, onde são apenas encaixados para formar o esqueleto da construção.

“É um sistema construtivo diferente da alvenaria, que usa tijolos ou concreto para formar as paredes e suportar a estrutura do edifício. São as estruturas de aço que são utilizadas para a construção de casas, comércios, prédios e indústrias”, explica o CEO.

Para Aleh Bossan, o Steel Frame já deixou de ser uma tendência e passou a ser uma realidade no Brasil. Ele conta que a tecnologia já se enquadra, por exemplo, nas habitações da faixa 2 do programa Minha Casa Minha Vida, que passou a oferecer um subsídio  de até R$ 55 mil para imóveis entre R$ 190 mil e R$ 264 mil. 

Dados da Abecem apontam que a técnica teve um crescimento de 10,3% entre 2020 e 2021, isso mesmo após um boom de 52,7% no período anterior. E o Nordeste, segundo o vice-presidente da área de Light Steel Frame da Abecem, Fábio Luís de Gerone, não tem ficado de fora deste avanço, “mesmo sendo uma região que costuma ser resiliente a novos processos”.

“Definitivamente é uma realidade que ganhou força principalmente a partir de 2019. No Nordeste, o cenário é o mesmo, com um pouco de atraso é verdade, mas não resta dúvida que o mesmo fenômeno está acontecendo no Brasil inteiro, não é exceção no Nordeste, portanto, encontramos sim muitas construções atualmente utilizando esse sistema construtivo lá”, afirma Gerone. 

Apesar do crescimento recente, a técnica não é nova. Segundo o executivo da Abecem, o primeiro protótipo de uma casa feita com o Steel Frame foi apresentado na Feira Mundial de Chicago, em 1933. Na época, a principal diferença era a substituição da madeira pelo aço. A estrutura, de acordo com ele, está intacta e no mesmo lugar até os dias de hoje.

“Não existe dificuldade técnica, é um sistema consolidado, com norma aprovada agora também no Brasil.  O maior desafio é cultural. As pessoas cresceram ouvindo a história dos três porquinhos, que precisavam morar em uma casa de tijolos. Esse é o maior impasse para o sistema. Mas felizmente está rapidamente sendo vencido”, avalia Gerone.

‘É o futuro’

Para ele, a construção industrializada é o futuro, tanto no Brasil como no mundo. Gerone estima que esse segmento vem tendo anualmente um crescimento superior a 15% e, mais uma vez, faz parte deste avanço. O presidente do Sindicato da Indústria da Construção do Estado da Bahia (Sinduscon-BA), Alexandre Landim, também enxerga no Steel Frame e outras técnicas da construção industrializada um importante passo para a evolução desse setor. É dele a analogia entre um canteiro de obra e uma montadora automotiva.

“Hoje uma fábrica de carros só faz a montagem das peças que são produzidas em outros lugares. A construção industrializada permite algo semelhante, que nos canteiros você faça a montagem de itens produzidos fora dele. Hoje não compramos alumínio, compramos esquadrias. Compramos o kit da porta, o kit elétrico, kit hidráulico. Hoje é o que tem de mais moderno e funciona em todos os segmentos. E em Salvador já encontramos obras racionalizadas com as tecnologias da construção industrializada”, afirma.

Além da agilidade na obra, o Steel Frame pode trazer, segundo Landim, mais precisão, durabilidade e possibilitar uma melhor instalação de componentes para isolamento acústico e térmico. “A técnica também não leva água, é uma construção a seco e isso é muito importante para o setor e para a obra”, afirma.

Já sobre o valor que é preciso desembolsar para adotar a técnica, Landim explica que vai depender da obra e que a tecnologia não é necessariamente a mais barata. “Mas à medida que ela for ganhando ainda mais escala, vai ficar mais em conta. É uma técnica que está aí para usarmos e que já tem muita gente preparada no mercado para trabalhar com ela”, diz o presidente do Sinduscon.

A visão de Aleh Bossan é outra. Para ele, o Steel Frame acaba sendo financeiramente mais atraente, já que vai evitar atrasos que são comuns em obras e que acabam gerando mais custos com mão de obra, água, energia e até a inflação dos materiais. O CEO da Inovahouse garante que com essa técnica a construção vai terminar milimetricamente como o planejado: “Não tem atraso, o projeto é montado como se fosse um Lego”, diz. 

Bossan chama atenção também para a equipe envolvida na obra. De acordo com ele, o número de acidentes entre os colaboradores diminui drasticamente, porque com o Steel Frame eles usam apenas uma furadeira para erguer as estruturas. O CEO da Inovahouse também acredita que essa técnica pode ser uma solução para um futuro em que a mão de obra na construção civil fique mais cara e mais escassa do que é hoje.

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