EVENTO
Casa Cor Bahia celebra a cultura regional
A 30ª edição da mostra de arquitetura e decoração tem a ‘cara da Bahia’, com arte, ancestralidade e materiais típicos
Por Joana Oliveira e Dianderson Pereira*
A Casa Cor com “mais cara de Bahia” até então. Essa tem sido a impressão de quem já visitou a 30ª edição da mosta anual de arquiteura, que começou no dia 17 de setembro e vai até 6 de novembro, no Othon Palace, em Salvador. No circuito de 5500 m², com 50 ambientes, a identidade cultural e a história do estado se fazem presentes, seja nas cores, nos objetos típicos ou materiais regionais. A arquitetura e o design dos ambientes homenageiam artistas locais e saberes tradicionais, tudo pensado para criar uma conexão profunda com a baianidade.
Magali Santana, responsável pela Casa Cor Bahia 2024, faz a mostra há 34 anos, mas é sua estreia como franqueada e curadora da marca. Paulistana, ela conta que sempre achou estranho não fazerem uma mostra com mais referências à cultura local. A Quando marca lançou o tema deste ano, “De presente, o agora”, que fala muito sobre ancestralidade e honrar os antepassados, Magali viu a oportunidade de não deixar a Bahia sair daqui. “Quis traduzir a beleza e fartura natural e artística desta terra na casa das pessoas. Conseguimos misturar a arquitetura de interiores com o aconchego e elegância dos artesãos de Maragogipinho, por exemplo. Tudo em harmonia, num resultado emocionante.”
Um exemplo disso é a Cabana Aruan, da arquiteta Camila Maia, que participa da mostra pela quinta vez. O espaço traz uma homenagem ao fotógrafo baiano Alexandre Augusto e ao artesão indígena Werykanan, do povo Pataxó. As fotografias de Augusto retratam a força e resiliência das mulheres da Chapada Diamantina, enquanto os objetos de arte de Werykanan são uma ode à cultura de seu povo.
“A gente buscou elementos que vieram da natureza, principalmente as pedras que foram fotografadas através do olhar do Alexandre Augusto, mostrando o trabalho das mulheres na Chapada Diamantina e essa resiliência. Valorizamos esse lado feminino, o empoderamento dessas mulheres em um trabalho tão árduo", destaca Camila.
Outra veterana da Casa Cor Bahia, a designer Dolores Landeiro buscou inspiração na obra de Frans Krajcberg, artista polonês que viveu no sul do estado, conhecido por sua luta contra o desmatamento da Mata Atlântica. “Ele morava em Nova Viçosa e denunciava as queimadas na região. Trouxe isso para o meu espaço, alinhando com a temática de preservar o que temos para o futuro", comenta Dolores. Seu projeto também celebra as obras de arte baianas. No seu espaço, tem destaque, por exemplo, uma fotografia de Mário Cravo Neto que retrata a dança no candomblé, e peças feitas de cerâmica, que remetem às raízes da terra.
A valorização da cultura local também está no Studio Ébano, criado pelo arquiteto Vitor Martins, em sua 3º Casa Cor. “O Ilê é uma parte crucial da identidade negra e cultural. Minha proposta captura essa estética de forma elegante e autêntica, sem cair em caricaturas”, diz.
O paisagismo segue a valorização daquilo que é regional. Alex Sá Gomes, que assina diversos espaços, incluindo os projetos de Pedro Córdova com Nanda Miguel e Dolores Landeiro, traz a força tropical com o uso de muitas palmeiras, dracenas e filodendros. “Também temos o colorido dos crotons, alpinias e helicônias, que trazem essa vibração e energia típicas da Bahia”, afirma.
Jovens talentos
Com um elenco composto de 70% de jovens talentos, a Casa Cor Bahia 2024 também traz sopros de diversidade e novos olhares para o design e a arquitetura. “Sempre olhamos, é claro, para os nomes que estão na crista da onda, e muitos desses jovens já passaram pelos escritórios de grandes profissionais, mas estão no momento deles. A possibilidade de trazer projetos pequenos, grandes e médios me permitiu me aproximar desses talentos estreantes”, conta Magali Santana.
Um deles é Pedro Córdova, que estreia em parceria com Nanda Miguel no Refúgio Folhas, uma celebração da brasilidade. “Nós trouxemos muitos elementos e materiais naturais com o intuito de conectar mais o ser humano à natureza. O diferencial são as rochas, especialmente o Bege Bahia, que é uma pedra local. Também priorizamos o uso de artesanato, como cerâmica, argila, barro e cestarias. Trouxemos vasos de vidro reutilizados de garrafas de azeite de dendê e licores locais", detalha Pedro.
A diversidade de olhares proposta pela 30ª edição da mostra vai além do elenco de profissionais. Pela primeira vez, a Casa Cor Bahia contará com espaços de visitação gratuita. Entre eles, destacam-se o paisagismo do acesso principal de Katia Soria, o lobby, de Gregory Copello, a loja da Oficina Brennand, a Experiência GWM, o Café, de Alessandra Cohen, o restaurante, assinado por Rodrigo Rodrigues, e banheiro do local, de João Gabriel, o lounge bar (mediante reserva pelo aplicativo da mostra), de Dinah Lins e o mirante Casa Bolha, de Jessyka Cintra. São ambientes de até 400m². Segundo Magali Santana, que chama a iniciativa de “gentileza urbana”, essa é uma maneira de democratizar o acesso ao design e arquitetura de alta qualidade.
“Não há como negar que é uma mostra elitizada, então quis trazer pessoas que não têm acesso a esse tipo de experiência. Abrir esses espaços ao público sem custo é uma maneira de proporcionar a todos uma experiência enriquecedora e inspiradora”, diz.
*Sob supervisão da editora Cassandra Barteló
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