CADERNO IMOBILIÁRIO
Condôminos realizam ações sociais para os mais necessitados
Em geral, são os gestores e síndicos que organizam as iniciativas, sejam avulsas ou sistemáticas
Por Julia Isabela*
Em tempos difíceis, como no Brasil de 33 milhões de famintos, segundo pesquisa da Rede Penssan, toda ajuda é bem-vinda. É pensando nisso que síndicos, gestores de condomínios e pessoas do meio condominial de Salvador vêm se engajando em ações sociais com o objetivo de auxiliar os mais necessitados.
Seja de maneira avulsa, promovendo ações quando há disponibilidade, ou de maneira sistemática e mais definida, os condomínios podem ser bons núcleos de organização de atos de solidariedade, visto que a coletividade impulsiona metas e gera resultados mais efetivos e impactantes.
O projeto Gestores do Bem é um exemplo de grupo de ações sociais organizado e com calendário pré-definido. Composto por gestores, síndicos, condôminos e prestadores de serviços para condomínios, a equipe tem o objetivo de fazer o bem ao próximo, como diz o nome.
Todo último domingo do mês, alguns membros do grupo se juntam para distribuir comida, roupas e produtos de higiene para pessoas em situação de rua ou vulnerabilidade, em frente ao Fórum Ruy Barbosa, geralmente pela manhã.
À frente do projeto, a gestora de condomínios Chris Romão explica como funciona a ação. “O pessoal do grupo faz pix, eu arrecado os valores e vou prestando conta. Aí eu preparo cuscuz, café, suco, um outro prestador faz um mingau, outro faz kit de higiene, depois a gente junta tudo que todo mundo conseguiu produzir com as doações e levamos pro fórum. Quando sobra a gente vai pra outros locais, mas o foco é lá”, conta.
Michele Moura, síndica do Residencial Parque da Lagoa, no Stiep, é membro do grupo. Ela relata que conheceu a proposta em abril e logo ingressou para colaborar. Sempre que pode, ela participa presencialmente das ações de rua dos domingos entregando kits de higiene.
“Como síndica, eu faço a minha parte e levo a proposta pros condôminos. Até finalizar minha gestão, pretendo ter fidelizado os moradores para o projeto. Eu mostro fotos das idosas e mães solteiras que estão precisando de ajuda, para sensibilizá-los”, diz.
Michele ainda reforça que qualquer mínima colaboração é importante. “A gente precisa se unir. Se cada um fizer sua parte, ajudar como puder, mesmo que seja com pouco, isso faz a diferença para quem precisa”.
Já Neto Baptista é síndico do Condomínio Aquarius e presidente da associação do Loteamento Aquarius, que abarca 38 condomínios. De acordo com ele, mesmo sem nenhum grupo fixo, a comunidade já realizou diversas ações sociais de doações de alimentos e máscaras, principalmente na época mais rígida da pandemia e quando houve enchentes no estado.
“Fizemos ações de distribuição de máscaras durante a pandemia inclusive para instituições como Polícia Militar, Polícia Civil e para uma comunidade carente aqui da região que se chama ‘Favelinha’. E promovemos várias feiras de artesanato no loteamento para integralizar as pessoas do bairro, recentemente fizemos uma com o instituto ACM, foi o retorno das feiras por aqui, então foi um marco histórico para nós”.
“Durante as enchentes no interior da Bahia também doamos muitas roupas pra região do Baixo Sul, além de roupas de cama e alimentos”, completa Neto.
Houve também atos de restauração ambiental e urbana, como relata o síndico. “Fizemos ações em parceria com a Secretária de Meio Ambiente Municipal, como o replantio de 40 árvores na praça da Aristides Fraga aqui na Pituba. Tinha também uma rua que era uma ‘rua morta’, então chamamos dois grafiteiros para grafitar e plantamos várias árvores no local para incentivar a visitação”.
Final de ano
Em adição ao ato mensal, os Gestores do Bem realizam ações maiores, que são programadas para acontecer no final do ano, nas quais para além de alimentos, também são arrecadados brinquedos, roupas e quaisquer utensílios que possam ser úteis para serem entregues a instituições de caridade, orfanatos ou asilos.
Aliás, foi a partir de uma ação abrangente como essa que a iniciativa se consolidou. “A gente começou com uma ação nacional no ano passado, teve em Recife, Maceió, São Paulo, Rio de Janeiro, Aracaju. Arrecadamos doações dentro dos condomínios e escolhemos instituições de caridade, houve link ao vivo para todo mundo conseguir ver. Foram mais de 50 condomínios doando. Depois, o grupo de Salvador permaneceu”, conta Chris.
Segundo a gestora, a iniciativa consegue beneficiar cerca de 200 pessoas por mês através das doações de comida dos domingos. São 70 membros no grupo de Whatsapp do projeto, todos do meio condominial.
“Que comparecem presencialmente, são cerca de seis ou sete pessoas. Muitos querem doar, mas ainda são resistentes a ir pra rua, alguns têm medo. Eu fiz umas camisas pra identificar o grupo. A gente também entende que a vida é corrida e tem gente que não consegue ir em todas as ações, mas quando não vão sempre doam, nunca deixam de participar”, diz.
Chris ainda relata que já promoveu uma iniciativa de doação de sangue no Condomínio Green Ville, no qual era gerente. Participaram tanto os moradores quanto os funcionários e houve um engajamento muito satisfatório.
Há iniciativas parecidas em outros estados. A Cipa, que atua no Rio de Janeiro, é uma empresa que cuida da gestão de condomínios e incentiva que eles participem de ações sociais.
No último Natal, a empresa fez uma campanha que arrecadou uma tonelada de alimentos em condomínios e gerou 110 cestas de alimentos não perecíveis, como macarrão e feijão. Foram atendidas três instituições sociais, a Casa do Papai Noel, o Sodalício da Sagrada Família e o Instituto Maria de Lourdes.
De acordo com a vice-presidente da Cipa, Maria Teresa Mendonça Dias, é importante estar em contato com organizações que possam receber as doações, além de sempre prestar conta aos condôminos sobre os resultados das ações, pois assim o estímulo para continuar a colaborar cresce.
*Sob supervisão da editora Cassandra Barteló
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