MERCADO
Entre 30% a 40% dos financiamentos imobiliários são feitos por casais
Eles unem os rendimentos para facilitar a adquisição da casa própria, bem como para alugar imóveis
Por Joana Oliveira
Depois de três anos e meio de relacionamento, Evandro Ciqueira e Leandro Sabino decidiram juntar as escovas de dente e, há um ano e meio, dividem um apartamento em Lauro de Freitas. É a primeira experiência de ambos compartilhando um lar na vida adulta e, além do romance, os dois sentem a diferença (positiva) no bolso. “Viemos viver aqui porque meu marido trabalha no polo petroquímico de Camaçari. Eu morava sozinho e, agora, noto uma melhora no padrão de vida. Temos acesso a mais coisas e a mais lazer sem gastar tanto, porque tudo é dividido”, conta Evandro. A experiência é uma espécie de test drive antes do casal se lançar na aventura de comprar uma casa própria. “Nós pensamos em, daqui a um ou dois anos, dar esse passo. Mas a compra de um imóvel é muito onerosa. Por isso, neste momento, faz sentido pagar dividir aluguel num imóvel com padrão legal e que traz comodidade”, relata Evandro.
Em 2023, o financiamento imobiliário no Brasil foi de R$ 251 bilhões, de acordo com a Associação Brasileira das Entidades de Crédito Imobiliário e Poupança (Abecip). E, embora não haja dados oficiais sobre o perfil dos solicitantes de crédito, empresas corretoras estimam que entre 30% e 40% desses financiamentos foram feitos em conjunto por casais. “É muito comum que, principalmente jovens, procurem em casal a primeira moradia pela possibilidade de somar renda”, diz Antônio Carlos Oliva, gerente de vendas na Pejota Empreendimentos. 40% de seus clientes estão nesse perfil, têm entre 27 e 34 anos e somam uma renda que vai de R$ 3,5 mil a R$ 4,8 mil mensais.
O cenário se repete no mercado de aluguéis. Na Luggo, empresa que tem 12 prédios exclusivamente para aluguel em sete cidades brasileiras – inclusive aquele onde moram Evandro e Leandro –, atende, principalmente pessoas entre 20 e 35 anos que dividem o imóvel com mais alguém. 30% delas estão casadas e a renda conjunta média de R$ 7 mil ao mês. “São clientes que procuram praticidade, condomínios com estrutura de lazer e serviços. A mobilidade é uma das premissas mais importantes, pois querem morar perto do local de trabalho e com fácil acesso a comércios como mercados e farmácias”, comenta Kelly Ferreira, coordenadora de marketing da Luggo.
A presença cada vez mais forte desse público no mercado tem mudado os próprios empreendimentos imobiliários. Com casais que decidem ter filhos cada vez mais tarde ou que simplesmente abdicam da maternidade e da paternidade, os espaços para animais de estimação – os famosos pet places – vêm ganhando destaque nos condomínios. As garagens também vão, pouco a pouco, deixando de ser prioridade para os clientes jovens que já abrem mão de ter um carro. Na Luggo, por exemplo, as vagas de garagem são contratadas à parte, a depender do interesse dos locatários. A empresa oferece pelo menos um carro compartilhado por condomínio, e cada morador pode alugar o veículo por um determinado número de horas. “Já vimos casais que decidiram vender o carro e cancelar o uso da vaga de garagem para reduzir os custos mensais”, conta Kelly Ferreira.
Como somar renda
Não é necessário ter união estável ou matrimônio para assumir um aluguel a dois ou fazer um financiamento coletivo para a compra de um imóvel. Basta somar a renda das pessoas interessadas e dar entrada no processo, no qual o cálculo-base para o crédito a ser concedido será a renda de ambas. Isso pode favorecer as condições da transação, já que o valor das parcelas do financiamento não pode ser superior a 30% da renda familiar. O mesmo vale para os programas habitacionais, como o Minha Casa Minha Vida. É importante, no entanto, seguir as regras de documentação e comprovação de renda, que são exatamente as mesmas quando ocorre a compra de imóvel por um só indivíduo. “A principal recomendação é ter cautela para não comprometer uma renda excessiva do casal. Também é importante que ambos estejam sem nome sujo ou dívidas em cartões de crédito”, orienta Antônio Carlos Oliva, da Pejota Empreendimentos.
Francisco Hélder Sampaio, vice-presidente do Conselho Regional de Corretores de Imóveis (Creci-BA), explica que um dos erros mais comuns é colocar o nome de um parceiro ou cônjuge para pleitear um financiamento coletivo quando essa pessoa não vai, de fato, contribuir monetariamente no cumprimento do contrato. “Quem participa do contrato é coproprietário, corresponsável e codevedor daquelas parcelas. Não dá para colocar alguém que não pode comprovar renda formal, por exemplo, e, na prática, o dinheiro vai sair do bolso de uma pessoa só”, alerta.
Sampaio também aconselha nunca declarar rendas que não condizem com a realidade, apenas pelo desejo de conseguir o financiamento se, depois, o casal não conseguirá honrar as parcelas do imóvel. É melhor ajustar o tamanho do sonho para não cair na inadimplência.
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