CADERNO IMOBILIÁRIO
Escola que revolucionou design e arquitetura, Bauhaus faz 100 anos
Por Fábio Bittencourt | Foto: Uendel Galter | Ag. A TARDE

Quem passa em frente ao prédio do Instituto do Cacau da Bahia, no Comércio, ou do Centro de Educação Isaías Alves (Iceia), no Barbalho, pode não se dar conta, mas está diante de edificações cujos traços são inspirados na escola alemã de artes e design que influenciou a arquitetura moderna no Brasil e no mundo e que, em 2019, completa 100 anos – a Staatliches Bauhaus, ou simplesmente Bauhaus.
Fundada na cidade de Weimar, em 1919, pelo arquiteto Walter Gropius, a Bauhaus foi uma das mais expressivas instituições de arte do século passado. Como explica o presidente do Instituto de Arquitetos do Brasil (IAB), Nivaldo de Andrade Junior, a escola representou uma ruptura com as ideias tradicionais e antigos modos de vida, propondo uma nova maneira de pensar arte, arquitetura, educação e sociedade.
Em uma época de “excessos”, o movimento privilegiou a simplicidade e funcionalidade dos projetos. “A Bauhaus influenciou especialmente a vertente funcionalista da arquitetura, que determinava que a forma deveria ser definida pela função (ou uso) que um edifício viria a ter; diferentemente da formalista, que priorizava as questões formais”, diz.
Ainda segundo Andrade, a escola tem papel pioneiro também em uma série de características adotadas pela arquitetura moderna, como a utilização do concreto armado; eliminação dos ornamentos; redução da construção ao mínimo de elementos (estrutura e componentes de vedação, ou seja, paredes e janelas); utilização de formas geométricas simples e com ângulos retos; valorização do conforto ambiental, por meio da iluminação direta dos espaços internos, entre outros.
E destaca a importância da Alemanha nas vanguardas da arte, arquitetura e design modernos, no período posterior à Primeira Guerra Mundial. “A Bauhaus foi o centro desse debate e produção. Atraiu os melhores artistas, arquitetos e designers da Europa para trabalharem como professores e formou jovens não só da Alemanha, mas de diversos países”, afirma Andrade.
Pelo mundo
Com tamanha projeção, a Bauhaus, no entanto, foi fechada em 1933, com a ascensão do nazismo na Alemanha, que considerava a arte e a arquitetura modernas como “degeneradas”, conta ele.
“Daí que seus antigos professores – muitos deles judeus e/ou comunistas – emigram para as Américas. Ainda segundo o presidente do IAB, o Instituto Municipal de Ensino e o Estádio Mário Pessoa, em Ilhéus, ambos inaugurados em 1939, são projetos do arquiteto judeu Alexander Altberg, que estudou na Bauhaus entre 1925 e 1926 e mudou-se para o Rio de janeiro em 1931. “Altberg foi autor de alguns projetos de arquitetura no Rio de Janeiro e em Ilhéus. O projeto do Estádio Mário Pessoa, elaborado em parceria com Lelio Landucci, um dos autores do Cristo Redentor, no Rio de Janeiro, foi vencedor de um concurso em 1933”.
Olhando para os prédios citados no início da reportagem – além da sede do Sanatório Santa Terezinha, no Pau Miúdo, atual Hospital Especializado Octávio Mangabeira –, o Píer Salvador, também conhecido como Hidroporto da Ribeira, e mesmo o Estádio Mario Pessoa, em Ilhéus, é fácil perceber o traçado de linha retas, discretas, simples.
A despeito do estado de conservação dos prédios, o vice-presidente do Conselho de Arquitetura e Urbanismo na Bahia (CAU), Neilton Dórea, destaca a importância em se preservar o patrimônio, lembrando que neles estão contidos “elementos de uma corrente de pensamento único (universal), e não isolado”.
“Progressista, um dos traços mais marcantes da Bauhaus é a criatividade. Em pleno século 20, propunha reunir diferentes formas de arte e pensamento crítico, em busca de uma nova estética, dessa vez mais limpa”, fala Dórea. Para comemorar o centenário da instituição foi criada uma página na internet, a Bauhaus 100, que conta com uma série de eventos e comemorações em torno da, na tradução, Escola da Construção.
Uso e conservação
Segundo o Ipac, a primeira responsabilidade pela conservação das edificações é do proprietário. Depois, da prefeitura, pela outorga do uso do solo. Por último, do órgão responsável pela preservação do patrimônio.
Compartilhe essa notícia com seus amigos
Siga nossas redes