IMÓVEIS
Mercado imobiliário foca nos brasileiros que moram sozinhos
Mais de 13 milhões de pessoas no Brasil vivem em lares unipessoais, de acordo com o Censo
Por Joana Oliveira
Em 2023, a soteropolitana Lara Ferreira, de 30 anos, realizou o desejo de comprar a casa própria. Seu apartamento de dois quartos, em Piatã, é ideal para uma família pequena, mas ela mora sozinha. “Não era algo planejado, mas não tenho problema nenhum em viver assim. Gosto de ter meu espaço e não tenho conflitos de convivência, já que às vezes é difícil se adaptar a dividir a rotina com outra pessoa. Eu faço tudo do meu jeito e no meu tempo”, diz a jovem. Ela é uma entre os 13,7 milhões de brasileiros que vivem em lares unipessoais no Brasil, de acordo com os dados do último Censo Demográfico 2022, divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) em 25 de outubro.
Esse tipo de residência ainda é mais comum entre as pessoas de 60 anos ou mais (28,7% delas moram sozinhas), mas o aumento mais significativo foi registrado no grupo de idade dos 25 a 39 anos. Em 2010, 8,3% dos indivíduos dessa faixa etária moravam sozinhos. Em 2022, essa cifra saltou para 13,4%.
Esse cenário já se reflete há alguns anos no mercado imobiliário. Não à toa, proliferam nas grandes cidades empreendimentos de studios ou apartamentos com um único dormitório. “Tem aumentado o número de condomínios com unidades residenciais menores e maior aposta em áreas comuns, com pet places e coworking”, conta Nilson Araújo, presidente do Conselho Regional de Corretores de Imóveis (Creci Bahia).
Os studios, moradias compactas, de espaço integrado, que variam entre 15 m² e 40 m², representaram 27% dos lançamentos na capital baiana em 2022 (totalizando cinco mil empreendimentos), de acordo com a Associação de Dirigentes de Empresas do Mercado Imobiliário da Bahia (Ademi-BA), um número que superou até mesmo os lançamentos de apartamentos de luxo. Segundo a Associação, essa mobilidade imobiliária tem sido a mais procurada para investimentos, com ticket médio de R$ 355 mil por unidade.
Efeito da pandemia
Além da mudança cultural e da realidade socioeconômica que fez com que os brasileiros passassem a ter menos filhos e cada vez mais tarde, a pandemia de Covid-19 também teve influência na procura por residências unipessoais. “Com a flexibilização do trabalho híbrido ou remoto, os mais jovens passaram a viajar mais e demandar apartamentos mais compactos, que se adaptam melhor ao seu bolso e sua rotina”, avalia Nilson Araújo. Ele conta que, entre os jovens adultos que herdam imóveis, tem sido comum desmembrar uma casa ou apartamento grande em unidades menores, onde cada filho pode morar sozinho ou investir em aluguel. “Também temos visto o surgimento de condomínios com até 100 unidades residenciais, mas com áreas reduzidas, de até 28 m²”, diz.
Lara Ferreira pesquisou o mercado durante três anos antes de decidir comprar seu apartamento em Piatã e até cogitou unidades menores ou fora da capital, na região metropolitana. Como a maioria dos consumidores desse mercado, decidiu priorizar, no entanto, a localização. “Encontrei um apartamento maior que cabia no meu orçamento e que tem fácil acesso a outros bairros e ao centro da cidade. A localização sempre foi fundamental para mim. Considerei a possibilidade de valorização do entorno e do próprio imóvel, caso eu precise revendê-lo no futuro”, conta. Ela, que trabalha de casa, diz que a principal desvantagem de morar sozinha é não ter com quem dividir os afazeres domésticos e as demandas de manutenção do apartamento. “Além da vontade que bate, às vezes, de ter alguém com quem conversar ali, na hora, quando surge algum problema ou outra questão emocional”, acrescenta. Nada se compara, no entanto, ao conforto e comodidade de ter um teto todo seu e apenas para si.
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