Solar do Unhão agrega o estilo colonial à arquitetura moderna | A TARDE
Atarde > Caderno Imobiliário

Solar do Unhão agrega o estilo colonial à arquitetura moderna

Publicado sábado, 05 de agosto de 2017 às 14:04 h | Atualizado em 21/01/2021, 00:00 | Autor: Thiago Conceição*
O complexo arquitetônico é banhado pelo mar
O complexo arquitetônico é banhado pelo mar -

Na descida da ladeira que serve de acesso ao conjunto arquitetônico do Solar do Unhão, o chão de pedras seculares termina em um passadiço decorado com painéis de azulejos portugueses. Após caminhar por ele, chega-se ao casarão colonial onde se encontra o acervo do Museu de Arte Moderna da Bahia, o MAM.

Refletido nas grandes janelas, o mar da Baía de Todos-os-Santos banha toda a extensão do casarão. No seu interior, a falta de paredes internas deixa em destaque a escadaria de madeira em formato helicoidal que liga o térreo ao primeiro andar do imóvel.

Cronologia do Solar do União

Ao se aproximar da escada, as removíveis peças de travamento do degrau revelam que as tiras de madeira foram conectadas como se fossem as partes de um enorme brinquedo de encaixe.

"A escadaria foi montada sem utilizar parafusos. O objetivo de Lina Bo Bardi, arquiteta responsável pelo projeto, foi usar a mesma técnica de encaixe dos carros de boi", explica Michele Fontes, museóloga do MAM.

A retirada das estruturas internas do solar, realizada por Bon Bardi, possibilita a visão em 360 graus das obras expostas no térreo.

"Bon Bardi era uma arquiteta que gostava de trazer a inovação, o moderno. No entanto, no caso do casarão, ela fez mudanças arquitetônicas de forma que fosse possível instalar o museu sem remover algumas das antigas estruturas", explica Zivé Giudice, diretor do museu.

Imagem ilustrativa da imagem Solar do Unhão agrega o estilo colonial à arquitetura moderna

A escadaria do salão principal foi criada por Lina Bo Bardi  (Foto: Mila Cordeiro | Ag. A TARDE)

Do lado de fora da antiga casa, a capela consagrada a Nossa Senhora da Conceição é o traço de um local que serviu de residência para a família do barão José Pires de Carvalho e Albuquerque, que era muito religiosa.

Atualmente, na frente da capela, um largo interliga as escadas de acesso das instalações subterrâneas do Solar do Unhão. Lá embaixo, elementos do período escravocrata estão presentes entre as velhas árvores do local.

Galpões de mercadorias

Entre as diferentes galerias construídas na parte inferior do conjunto arquitetônico do solar, os trilhos e carrinhos que levavam mercadorias são os resquícios do antigo entreposto da região, que foi gerido pelo desembargador Pedro de Unhão e Castelo Branco.

"Apesar de residir por pouco tempo no local, cerca de 15 anos, ele foi o morador mais conhecido da região. Por isso, o Unhão ficou presente no nome do espaço onde foi instalado o MAM", explica Francisco Senna, arquiteto.

Na função de entreposto, além dos produtos trazidos pela roldana principal do local, os galpões eram as "senzalas" onde ficavam os escravos africanos que seriam negociados. Atrás das robustas grades dos portões que evitam a entrada dos visitantes, a iluminação natural do espaço é feita pelos poucos feixes que passam pelas pequenas aberturas das seculares portas de madeira posicionadas perto do mar.

"Cada trapiche, nome dado ao armazém localizado próximos ao litoral marítimo, funcionou de forma autônoma. Ali, no ponto onde se encontram as portas, existiu o fluxo de mercadorias, como os escravos, considerados mercadorias da época", diz Senna.

Banhado pelo mar

Perto da roldana principal, as ondas do mar quebram ao bater na plataforma de concreto onde foi fixado o equipamento. Além de ser um bom ponto para as ações de entreposto, a localização das construções do Solar do Unhão possibilitou o aproveitamento de uma antiga queda d'água, encontrada em um dos pátios verdes do território.

Imagem ilustrativa da imagem Solar do Unhão agrega o estilo colonial à arquitetura moderna

Roldana da época em que o local era fábrica de descascar arroz (Foto: Mila Cordeiro | Ag. A TARDE)

"Existia uma indústria de descascar arroz. Até hoje é possível visualizar a queda d'água que é proveniente de uma nascente. Ela movia o instrumento por onde passava o arroz. Apesar de falarem que o local foi engenho de açúcar, a verdade é que nunca foi", explica o arquiteto.

Atualmente fechadas, as imensas janelas das edificações do conjunto do Unhão permaneciam abertas para o máximo aproveitamento da luz do dia, estratégia de arquitetura fundamental nos períodos das lamparinas.

A viagem pela história termina ao se passar por um velho chafariz, fonte de água potável para pessoas que circulavam pelo largo da capela. Após o dispositivo, a ladeira de chão de pedras agora é a saída do Solar do Unhão.

* Sob a supervisão da editora Cassandra Barteló

Publicações relacionadas