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CADERNO IMOBILIÁRIO

Uso da cor preta confere sofisticação ao ambiente

Tom ganha status de “chique” e consolida-se como símbolo de elegância. Contudo, é preciso saber usar para não deixar a decoração pesada

Por Júlia Isabela*

30/07/2022 - 6:30 h
Sala de estar com porta de entrada e outros elementos na cor preta, em projeto do arquiteto Edilson Campelo
Sala de estar com porta de entrada e outros elementos na cor preta, em projeto do arquiteto Edilson Campelo -

Utilizar o preto na decoração apresenta riscos. A cor é conhecida por ser marcante e dramática. Se usada em excesso, deixa o espaço pesado. Porém, com a aplicação correta, o preto tem a capacidade de dar um toque sofisticado ao cômodo, e destacar os elementos mais importantes do décor.

A cor preta também pode transmitir um ar de mistério, de uma incógnita, ou ser responsável por outras sensações menos agradáveis, como medo, insegurança e, principalmente na decoração, de acordo com os especialistas, clausura.

Para o arquiteto e designer Edílson Campelo, no entanto, o preto alcançou o status de “cor chique” e tem consolidada a característica da elegância. Mas, dependendo de onde for utilizado, pode também ter outras funções, como a de produzir espaço. É o caso do seu uso no teto, por exemplo.

“É a cor do infinito. No teto, ao contrário do que se pensa, tem potencial de dar a sensação de elevação da altura”, diz Campelo.

Por outro lado, a arquiteta Lisandra Cerqueira (@lisandracerqueira.arq) chama a atenção para os casos onde o preto dá a ideia de que o espaço diminuiu, destacando que hoje em dia apartamentos e casas estão cada vez menores.

“De forma pontual, o preto nos objetos pode dar um toque de modernidade, mas se ele toma grandes proporções dentro do ambiente, acaba dando a impressão de encolhimento”, ressalta.

A arquiteta dá dicas de como usar a cor preta de maneira satisfatória nesses espaços menores. “Para usar o preto em ambientes pequenos, a gente pode trabalhar com um objeto, uma parede única, a moldura de um quadro ou na iluminação do ambiente para dar um ar moderno. Pode usar, mas de forma que ele não esteja tão presente”, orienta ela.

O arquiteto de interiores Wagner Farias reforça os cuidados. De acordo com ele, o preto pode ser trabalhado de diversas formas, como no sofá, uma parede ou até no piso, mas com a condição de que o uso seja comedido.

“Em uma comparação com a culinária, a cor preta é aquele tempero que a gente bota com muito cuidado pra não estragar o prato. É bom evitar em uma convivência muito direta”, diz.

“O preto não é nem uma cor, na verdade, ele é a ausência de todas as cores por definição. Então, ele é um elemento que a gente usa como coringa”, explica Farias. O arquiteto também esclarece porque o preto se encaixa bem no chamado “estilo industrial”.

“Quando Henry Ford começou a fabricar carros em larga escala, ele dizia que o carro podia ser de qualquer cor, desde que fosse preto. Por questões econômicas, o preto era a cor que chegava mais rápido, então os carros terminavam saindo todos nessa cor. Isso reverberou naquela época e acabou sendo um item que faz a apresentação da arquitetura dessa referência industrial e isso foi incorporado na decoração”, afirma.

“O preto pode dar um ar industrial, mas pode ser clássico também, depende de como ele está inserido no ambiente”, afirma Lisandra Cerqueira. “Por exemplo, um xadrez feito com um piso de mármore preto com mármore branco deixa a decoração em um estilo clássico. Mas, usar a cor preta com estruturas de metal já vai pra um estilo mais industrial e moderno”, fala.

“Total black”

Além disso, se colocado em contraste com outras cores mais claras, o elemento preto tem a capacidade de ser o grande destaque do décor. É o que Wagner Farias destaca. “Quando a gente tem o preto trabalhando com determinados elementos, você pode realçar aquela peça que é a mais nobre do espaço. Se há um cômodo todo trabalhado em tons mais claros e de repente você tem uma mesa toda preta, ela vai ser aquele ponto focal”, diz o arquiteto.

Quando se trata de combinar a cor preta com móveis de madeira, Edílson Campelo acredita que eles nasceram um para o outro.

“Preto e madeira sempre se harmonizam bem. Em ripados, por exemplo, o preto ao fundo aumenta a legibilidade das ripas, ressaltando a sequência contínua das faixas de madeira”, afirma.

O designer também recomenda que os materiais sejam mesclados para formar contrastes. “Diferentes materiais em preto vão sempre refletir a luz de modo distinto. Então, o segredo é sempre procurar mesclar os materiais. Pastilha preta, alumínio preto, marcenaria preta podem ser bem contrastados com outros elementos em tons e texturas diferentes, a exemplo do branco e da madeira”, diz Campelo.

Com relação ao ambiente “total black”, ou seja, espaço completamente preto, Wagner Farias recomenda cautela com sua aplicação em residências. “Se for um ambiente residencial, tem que ser uma solicitação muito explícita do cliente. Inclusive, eu já tive clientes que a gente tentou trabalhar com preto em algum ponto e acabou que não foi possível”, conta Farias.

No entanto, para ambientes corporativos de empresas ou marcas que tenham o preto como parte da sua identidade visual, o arquiteto não vê problemas na adoção de espaços totalmente na cor preta.

“Uma marca como a Adidas, que trabalha muito preto, pode ter a loja toda preta. Em uma loja como a John John, o ambiente é todo sombrio, é tudo preto. Depende muito do uso ao que se destina o espaço”, conta.

O designer Edílson Campelo explica como produzir um ambiente “total black”, o que pode ser feito misturando diferentes tonalidades da cor na composição do décor. “Acredito que não só o cinza tenha infinitas tonalidades, mas que o preto também possui essa característica. Isso pode ser explorado na composição total black. Texturas também são bem-vindas. Um preto seco ou envelhecido sempre cai bem com um preto brilhante ou acetinado. Essa variação bem calculada de impressões vai produzir um resultado interessante, chique e impactante”, afirma.

*Sob a supervisão do jornalista Fábio Bittencourt

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