CRÔNICA DO JAGUAR
50 anos dos 100 mil
Por Cartunista
Onde você estava em 1980, no feriado do Dia do Trabalho ? Eu lembro: estava bebendo caipirinhas com uns amigos no bar Tangará, na rua Álvaro Álvaro Alvim, em frente ao teatro Rival, onde brilhavam Dercy Gonçalves, Rogéria e Bibi Ferreira. E Mara Rúbia e Virginia Lane (que diziam ser amante de Getulio Vargas ) disputavam a coroa de rainha do teatro rebolado (copyright de Stanislaw Ponte Preta) . Mas, voltando ao Tangará, rolou a notícia que uma multidão estava passando pela Cinelândia – a uma quadra do boteco – para apedrejar a Embaixada Americana. “Vamos lá, está cheio de mulher gostosa”. Preferi ficar bebericando. Se fosse, tomaria um chope ao passar pelo Amarelinho. E talvez tivesse conhecido Célia, que acabou ficando comigo só em 1987. Ela participou da marcha e deu uma meia trava no Amarelinho, ali na Cinelândia, quase esquina de Evaristo da Veiga – para beber um uísque. Se eu tivesse passado pelo bar, iria na certa pedir um chope e talvez a notasse. E me apaixonaria . A médica, no esplendor do seus trinta anos, possivelmente esnobaria o coroa careca com bafo de cachaça. A dica no Tangará procedia. Mas fui pelo beco, caminho mais curto. Dei de cara com Ferdy Carneiro, da Banda de Ipanema. “As mulheres de esquerda são muito melhores que as de direita!”- bradava. Até o udenista golpista Carlos Lacerda, o Corvo do Lavradio(copyright do Lan ) concordaria com ele. As mulheres da CAMDE (Campanha de Mulher pela Democracia) financiada pelo IPES (Instituto de Pesquisas e Estudos Sociais) foram às ruas para exigir a saída de Jango e dos comunistas, eram uns bagulhos. Só para registro: Rubem Fonseca era diretor do IPES. Grandes escritores podem ser fascistas. Ezra Pound, por exemplo, era nazista assumido. Na frente da passeata, artistas, intelectuais e políticos: Tancredo Neves ( não teve o desgosto de ver o neto na cadeia), Edu Lobo, Caetano, Grande Otelo, Chico Buarque, o psiquiatra Helio Pellegrino, Zé Kéti, Clarice Lispector, Grande Otelo, o líder estudantil José Dirceu (quem te viu e quem te vê), Nana Caymmi, Zuenir Ventura, Nara Leão, Tonia Carrero (a mulher mais bonita do Brasil), e – acredite se quiser - até Wellington Moreira Franco, que deu no que deu. E muitos outros. A rapaziada gritava palavras de ordem contra a ditadura e aplaudia os discursos de Vladimir Palmeira, José Dirceu (quem te viu e quem te vê) e outros líderes estudantis, equilibrados em postes e caixotes. A gente ainda achava que o Brasil tinha salvação. Não teve.
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Minha turma continua morrendo. Lá se foi o Agildo Ribeiro, 86, minha idade. Nos conhecemos aos 16 anos, no Colégio Juruena, em Botafogo. Já era grande comediante, as imitações que fazia dos professores eram hilárias. Um caricaturista que usava palavras no lugar do traço. Agora foi embora e levou o seu humor. Sem ele, ficou mais fácil para os soturnos palhaços que estão saqueando o país.
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