CRÔNICA DO JAGUAR
A Disneylândia dos ingleses
Por Cartunista
Esbarrei numa calçada do Leblon com um parceiro de inumeráveis rodadas na mesa do falecido bar Jangadeiros. Tenho certeza de que tivemos o mesmo pensamento: “Esse cara ainda está vivo?”. E repetimos a velha piada de quando a gente se encontrava: “Você continua marxista?”. Ele por parte de Karl, eu por parte de Groucho, Chico e Harpo. Fui logo avisando: “E não pergunte pela turma da mesa. Todos devem estar no Inferno ou no Purgatório, já que biritar é proibido no Paraíso. E a música ambiente é dos anjos tocando harpa, o axê de lá, haja saco. E as mulheres monumentais, com aqueles tremendos pares de coxas, que enchiam nossos olhos na fila do gargarejo do teatro Rival e nos carros alegóricos do Cordão do Bola Preta, imagina onde elas devem estar”. Resolvemos mudar de assunto para não entrar em deprê. Dois mil e dezoito está sendo um ano de lascar para nós, os nascidos em 1932. Em menos de um mês foram embora Agildo Ribeiro, Roberto Farias e agora Alberto Dines. Perguntei ao meu amigo se ele foi um dos dois bilhões de pessoas que, como eu e as torcidas do Flamengo e do Bahia, assistiram pela TV o casamento do príncipe britânico com a atriz afro-descendente americana. Meu amigo torceu o nariz: “Tinha mais o que fazer. Além do mais, acho que a Familia Real Britânica virou, como a Disneylândia, atração turística para os panacas de todo o mundo”. Além de marxista, meu amigo é mentiroso. Mas, apesar de ter também 86 anos, continua com neurônios e senso de humor suficientes para fazer uma boa comparação. Achei muito mais divertido o casamento do princípe branco inglês com a atriz negra americana que o do Mickey Mouse com a Minnie. Na verdade, repare: a Meghan não é negra, mas cinza claro, levemente rosado, e o príncipe não é branco, parece uma cenoura peluda e barbuda. Ele, o Duque, e ela, a Duquesa de Sussex (mix de sucesso e sexy). A plateia brasileira adorou. O espetáculo lembrou muito o Carnaval, que tem rei Momo, príncipes e princesas como porta-estandartes. Li tudo que pude sobre o casamento. Por exemplo, a mídia, esperta, deu a entender que Harry poderá herdar o trono real e, portanto, a Duquesa de Sussex poderia sucede-lo, no caso de falecimento. E aí teríamos a primeira rainha da Inglaterra negra, certo? Errado: na fila da sucessão da rainha Elizabeth, seu neto Harry tem cinco antes dele: o pai de Harry, Charles, o marido da rainha, o irmão Willian e mais os filhos: dois meninos e uma menina. Ou seja, só seria possível o príncipe Harry virar rei se o Rolls Royce da família despencasse com os cinco num precipício de alguma colina em Windsor e não sobrasse ninguém. O fato é que o retorno financeiro desse espetáculo global deve ter sido espetacular. Não duvido que a esta altura dos acontecimentos tenha gente bolando outros mega eventos com baitas e rentáveis audiências. Como, por exemplo, o casamento do branquelo inglês Mr. Bean com a americana Serena Williams.
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