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CRÔNICA DO JAGUAR

Fernando Pessoa e o panda

Jaguar | Cartunista

Por Jaguar | Cartunista

28/04/2018 - 15:24 h

Pegamos um táxi no aeroporto de Lisboa, mas antes de chegar ao hotel mandei o motorista fazer um desvio pelo Chiado e dar uma meia trava n’A Brasileira. Fernando Pessoa continuava na sua mesa. O vate luso estava sitiado por uma horda de japoneses que tiravam selfies freneticamente. Morreu de cirrose aos 47 anos. Agora tem um fígado de bronze. Eu tive mais sorte: bebi até os 80. E iria passar uma semana bebendo cerveja sem álcool naquela terra de vinhos e bagaceiras. Ninguém merece, nem o Maluf.

Aproveito para falar do estrago que Pessoa provocou. Parecia fazer seus versos com tanta facilidade que levou milhões de leitores a pensar que poderiam fazer o mesmo. O que resultou num formidável lixão literário. Por falar nisso, na viagem anterior Lisboa era um canteiro de obras. Entulho, poeira e andaimes por toda parte. Mas agora está um brinco. O taxista admitiu a melhora , mas reclamou da sujeira nas ruas. Imagina se ele fosse ao Rio, pensei. Tentamos engrenar uma conversa com ele, sempre uma boa maneira de conhecer qualquer cidade. Mas o cara deu o papo por encerrado e só respondia com ruídos guturais até chegarmos ao hotel. E não só ele: é que irmãozinhos brasileiros, fugidos da crise, estão invadindo Portugal e disputando o mercado de trabalho.

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No hotel as camareiras eram brasileiras. Mas vamos deixar de lado essa sociologia de boteco. Valeu, no Gambrinus, comemos o melhor bacalhau da vida. E comprei esse pôster genial contra o racismo: ”Seja como um panda. Ele é preto. Ele é branco. Ele é asiático”. Num jornal que não conhecia, Público, uma análise sagaz da crise brasileira, assinada por Vicente Jorge Silva. A começar pelo título: Da telenovela à tragédia brasileira. Transcrevo um pedaço: “Foi tanta a influência das telenovelas que, muitas vezes, cedendo à tentação de ver a realidade através de suas lentes ou, mais ainda, vimos literalmente desaparecer a fronteira entre realidade e ficção sempre que os acontecimentos proporcionavam – desde os meros fait-divers do dia a dia aos chamados fatos políticos e judiciais (de que o caso Sócrates é principal expoente).

No momento em que escrevo, e na sequência de episódios telenovelescos, Lula anunciava por fim que ia se entregar à polícia (...) Só que a telenovela político-judicial brasileira envolvendo seu antigo presidente escondia há largo tempo um outro gênero: a verdadeira tragédia em que se tornou o Brasil”. O país do futuro, de Stefan Zweig (que, no entanto, acabaria por ali suicidar-se). Os tempos mudaram. Vocês notaram que sumiram as ‘piadas de português’? Agora eles dão o troco; contam ‘piada de brasileiro’. Só que de humor negro. Fomos para o Porto. Três dias de chuva, vento e uma neblina que tudo encobria, até os japoneses e suas ávidas câmaras.

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