CRÔNICA DO JAGUAR
Humor em tempos de cólera
Por Jaguar | Cartunista | Foto: Divulgação
Rio de Janeiro - Hermenegildo Sábat, recém-falecido aos 85 anos, foi um caricaturista político diferenciado. A começar pelo nome bizarro, difícil de carregar mesmo em outra profissão. Hermenegildo é nome de escrivão, de dono de oficina de lanternagem ou de leão de chácara, qualquer coisa, menos nome de humorista. Os admiradores o chamavam de Maestro e os amigos de Menchi (pronuncia-se Mênqui). Quando nos conhecemos, nos anos 70, numa das suas vindas ao Rio, eu bebia muito, morava num pardieiro na Lapa, o Pasquim estava falido. Apesar de um ano mais novo que eu, Sábat se mostrou preocupado com meu futuro. E eu com o dele. Chegou a ser proibido de desenhar pelo general Videla por uma caricatura publicada no jornal El Clarín: o ditador, minúsculo, afundado numa descomunal cadeira presidencial. Mas nunca tiveram coragem de prendê-lo devido ao seu prestígio internacional. Foi também acusado por Cristina Kirchner num discurso na Plaza de Mayo de ser o autor de uma “caricatura mafiosa”. Ela acusou o golpe, passou recibo. Sábat deve ter adorado. Talvez tanto quando recebeu o prêmio Moors Cabot, da universidade de Colúmbia, entregue por Garcia Márquez. É difícil acreditar que fosse autodidata, pelo domínio completo do desenho, da pintura e da fotografia. Não usava palavras nos desenhos: “Se usasse palavras, teria realmente tido problemas com a ditadura. As pessoas brigam por palavras, não por ideias. Isso é muito grave”. Fica o recado do mestre para cartunistas e humoristas em tempos de cólera.
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