CRÔNICA DO JAGUAR
John Lennon e eu
Por Jaguar | Cartunista | Foto: Gustavo Messina | MTur
John Lennon e eu temos uma coisa em comum: ambos ficamos frustrados por não termos encontrado Brigite Bardot em janeiro de 1964. Ele pediu para agendarem um encontro com a musa durante uma turnê que ele fez em Paris, onde ela reinava. Eu estava em Armação de Búzios até a véspera da chegada de BB àquela até então desconhecida aldeia de pescadores. Eu tinha alugado uma casa na Praia Grande, em Arraial do Cabo. De vez em quando pegava a minha Lambreta e rodava até Búzios, a menos de 30 km, para dar um mergulho no mar de águas geladas da praia dos Ossos, depois de algumas doses nas biroscas locais. Não recomendo a baianos, acostumados com águas tépidas: podem ter um choque térmico. Se você for procurar no Google vai deparar com uma foto histórica do grande Walter Firmo. Nela, Brigitte aparece zanzando de biquíni entre as canoas dos pescadores de Búzios. O tecido do biquíni (escandaloso para a época) que ela usava daria para fazer pelo menos meia dúzia dos fios dentais com que as meninas de hoje rebolam pelo calçadão de Ipanema. Um biquíni de titia, diriam, mas foi o que botou Búzios no mapa e no roteiro de celebridades internacionais que vinham ao Brasil. Franceses e argentinos foram se aventurando por lá e logo hotéis e restaurantes sofisticados se espalharam pela área. Coincidiu com o boom do Arpoador: era um vai-e-vem, o pessoal do Pier e da praia dos Ossos se revezava. A Banda de Ipanema, do Albino Pinheiro e o Clube dos Cafajestes, do Carlinhos Niemeyer eram figurinhas fáceis nas duas praias. Agora a área se chama Orla Bardot, com direito a estátua da musa, nada mais justo. Não há dúvida de que história de Búzios (o nome completo ainda permanece, suponho, Armação de Búzios) se divide entre AB (antes de Bardot) e DB (depois de Bardot). Não podemos esquecer da importância do Peru Molhado, fundado em 1981 pelo jornalista argentino Marcelo Lartigue, que sempre incentivou o movimento para a emancipação de Búzios. Ficamos amigos, fiz algumas capas para o jornaleco. Marcelo morreu há dois anos, depois de um transplante de fígado. Anselmo Góes lamentou na sua coluna n’O Globo; “Eu sou da imprensa do interior e sempre gostei muito dela. Por isso o Peru Molhado me fascinava, pois era um jornal engraçado. Eu diria que é um filhote temporão do Pasquim. E Marcelo era uma figura muito generosa com os amigos, dava humor ao jornal (...) Não tem como não gostar e não ter carinho por um jornal com nome tão safadinho”. Célia e eu resolvemos passar uns dias na semana passada em Búzios. Não sei se foi uma boa ideia, talvez fosse melhor ficar com a lembrança. A cidade cresceu desorganizada, sem projeto nem planejamento. Enfeiou. A moçada bonita que desfilava na rua das Pedras deu lugar a hordas da sacoleiros. Do antigo charme pouco restou, como, por exemplo, o Cigalon. No Rio não é fácil achar um lugar onde se come tão bem a preços razoáveis, com direito a um crepúsculo deslumbrante. Mas não ousaria recomendar a quem tem Trancoso.
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