CRÔNICA DO JAGUAR
Mestre Lan faz 93 anos
Lanfranco Aldo Ricardo Vaselli Cortellini Rossi Rossini – sete italianos, mais da metade da Comissão de Frente da Portela, escola que Lan adotou e foi adotado. Sua família veio para o Brasil em 1929 fugindo do fascismo. Seu pai, Aristide, era um virtuoso do oboé, elogiado por Toscanini: ”Aristide é o melhor oboísta que conheci”. Ficaram pouco em Sampa. A Orquestra Sinfônica de Montevideo contratou seu pai, que faleceu em 1937. Desde que conheceu uma redação e uma gráfica gamou pelo jornalismo. Fez um baita sucesso fazendo caricaturas de atletas no maior jornal uruguaio, El País. Quando publicou sua primeira charge política, foi desafiado para um duelo com pistolas pelo caricaturado, mas deu o bolo e escapuliu. Samuel Wainer, dono do jornal Última Hora, do Rio de Janeiro – sabia tudo de jornalismo –, o chamou para fazer charges, em 1952. Wainer odiava o golpista Carlos Lacerda (para os mais jovens: era o Bolsonaro da época) e Lan criou o um personagem: o Corvo. Um abutre com a cara do líder udenista. Quando Lan chegou à antiga capital, a cidade tinha atingido seu auge. Era tudo que um garotão no viço dos seus 20 anos queria. Apaixonou-se pelos cheiros e curvas da cidade e de suas mulheres, as mulatas em particular. No que foi efusivamente retribuído: casou-se com Olívia, uma das irmãs Marinho (as outras eram Mary e Norma). Eram as estrelas dos shows de Broadway. O casal continua apaixonado até hoje. Tenho inveja, mas é uma inveja do bem, pelo seu talento e por ter convivido com o pessoal que frequentava o bar Villariño ao cair da tarde: Paulo Mendes Campos, Haroldo Costa (cunhado do Lan, casado com Mary) Caymmi, Fernando Pamplona, Rubem Braga, Sérgio Porto e outros bambas. Antes que o Rio chegasse ao fundo do poço, ele se refugiou em Pedro do Rio, a cem quilômetros da Portela . Nosso ítalo-uruguaio-carioca ouve seus discos, bebe suas duas garrafas de vinho por dia e Olívia tece seus tapetes com temas africanos. Célia e eu ganhamos um que está numa parede da casa em Itaipava. Lan deu um tempo na charge: “Estava me tornando um velho chato de tanto desenhar políticos”. Dez, nota dez! Esses sujeitos não merecem o traço do mestre. Felizmente continua amenizando a nossa vida com desenhos de mulheres! E o Rio de agora com o prefeito Crivella deve achar o Rio uma espécie de Sodoma e Gomorra tropical? Fugiu do Carnaval como o diabo da cruz. A gente zanzava pelas ruas sem medo de assalto às quatro, cinco da manhã. Hoje não dá mais. Ficamos confinados numa prisão domiciliar. Absurdo! E numa cidade que te abraça e te convida. Por que é Flamengo doente? “Porque vi Baltazar, o cabecinha de ouro, fazer um gol de placa”. Pedi ao Lan para definir o Lan: “Sou um terrorista light”.
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