CRÔNICA DO JAGUAR
Sambistas e chargistas
Por Jaguar
Rio de Janeiro – Zé Kéti I (hoje teria 97 anos), com quem tomei grandes porres, mandou seu recado: “Se alguém perguntar por mim/ diz que fui por aí/ levando meu violão debaixo do braço (1)/ Em qualquer esquina, eu paro / em qualquer botequim eu entro / e se houver motivo, é outro samba que eu faço”. O mesmo posso dizer de charges, embora esteja proibido pelo meu fígado de entrar em botequins. O torresmo para acompanhar a cachacinha transformou-se para mim na “madeleine” de Proust, com a diferença que ele podia procurar o tempo perdido ao morder o biscoitinho até morrer de bronquite; ainda não existia o Rhum Creosotado(2). Mas, com torresmo ou sem torresmo, os cartuns vão aparecendo sem que eu possa fazer nada para impedir. Invejo o leitor que simplesmente pega o jornal e lê as notícias da primeira página para se distrair ou para se informar sem que pule de cada manchete uma charge para lhe tirar o sossego. Já este velho cartunista larga o jornal e fico matutando como seriam as charges. Vamos pegar, por exemplo, a primeira página do jornal de quarta-feira de um dos muitos que leio por dia: “Sandro Santos usa Libra (3) para interpretar Hino com ginga”. Rolei de rir ao ver a cena na tevê; parecia uma gag bolada pelo Woody Allen. E a principal manchete: “Bolsonaro fala em libertar o país do socialismo”. Outra charge: o careca de óculos falando para a senhora bunduda que já desenhei milhares de vezes, nos respectivos baluns: “a gente era socialista e não sabia”. E no balum dela: “que é isso, companheiro?(4). E a manchete ao pé da primeira página: “Governador do Rio quer apoio para ``abater´´ traficantes”., Balum do careca de óculos : ´´Essa lei não vai passar no Congresso``. Bunduda :``se não for, o governador vai ficar muito abatido´´. E também, cada vez que tocarem o Hino vou tem que conter o riso ao me lembrar do rebolado do intérprete que lembrava Carmem Miranda. Sob risco de ser abatido a tiros pela polícia se a tal lei for aprovada. Afinal, humor sempre foi considerado uma arma perigosa.
1)Licença poética; o único instrumento que Zé Kéti tocava era caixa de fósforos, e olhe lá
2) O mais famoso slogan da publicidade brasileira, veiculado em cartazes nos bondes da Light: ``Veja , ilustre passageiro/ o belo tipo faceiro / que você tem a seu lado / No entanto acredite / quase morreu de bronquite / Salvou-o o Rhum Creosotado´´.
3) Pelo menos aprendi uma coisa no show da posse: o gestual dos surdo-mudos se chama Libra.
.Licença, Gabeira.
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