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CRÔNICA DO JAGUAR

Uma vez lá em Cuba

Por Cartunista

23/12/2017 - 10:00 h
Jaguar: “A água do Pacífico , pelo menos lá, tem cor de chumbo. O mar da Bahia dá de dez a zero”
Jaguar: “A água do Pacífico , pelo menos lá, tem cor de chumbo. O mar da Bahia dá de dez a zero” -

Minha primeira viagem a Cuba foi em 1981, há 36 anos. Kaká, super craque recém aposentado, nasceu no ano seguinte. Sem saco para escrever (des)memórias, transcrevo trechos do relato que publiquei no falecido Pasquim em maio de 82, quando o general de plantão era o Figueiredo, o que gostava mais de cheiro de cavalo do que de povo.

Tudo começou quando recebi um telegrama me convidando para o júri da Bienal Internacional de Humor de Havana. Como era boca livre, topei . Para não chegar completamente ignaro, tratei de ler livros de Inácio de Loyola Brandão, Marcito ( Moreira Alves) e Fernando de Morais. Amigos que se mandaram para lá na hora do aperto me deram algumas dicas: todo mundo se chama de companheiro e dar gorjeta pega mal. Vavá, lendário garçom do Jangadeiros, comentou que seria o lugar ideal para turistas argentinos. O avião decolava às 8 da manhã, cheguei direto da festa de despedida, sentei na poltrona e pedi um copo de rum (para entrar no clima) para a aeromoça da Varig. “ Só me acorda quando chegarmos ao Panamá”. Porque os generais tinham proibido vôos diretos para aquela ilha cheia de comunas barbudos.

Foi um caso de desamor a primeira vista. Uma chusma de pivetes pedindo grana. “Ei, amigo! Um dólar”. Peguei um táxi, dei o endereço de um hotel tipo rua do Lavradio que me indicaram no Rio, a diária era de trinta dólares, o mesmo valor que o motorista cobrou pela corrida. Carlos Vergara era o nome do negão no volante que ignorou todos os sinais vermelhos até chegarmos . “Tenho um amigo chamado Carlos Vergara. Por causa disso vou te pagar uma cerveja. Num bar no Pacífico, nunca vi esse oceano”. Mais trinta dólares ( pagamento sempre em dólar mas o troco era na moeda local, balboa, se não me falha a memória.) Não valeu. A água do Pacífico , pelo menos lá, tem cor de chumbo. O mar da Bahia dá de dez a zero. Depois de dar uma volta pelo bairro chique, onde marines, nos hotéis cinco estrelas, esmurram as mesas e pedem cerveja americana ( trinta dólares a garrafa). Acabamos numa casa de chicas em Casco Viejo, um bairro antigo, parece New Orleans, que só conheço de cinema. Mocinhas tristes dançavam ao som de uma vitrola de fichinhas. Roberto Carlos me perseguindo até numa casa de chicas no Panamá, caceta! Liberdad - era o nome dela, aparentemente dimenor – pergunta se eu quero ir com ela para um quarto nos fundos. Trinta dólares. De trinta em trinta dólares minha grana estava indo embora. Vergara me cutuca: “Vamos embora”. E aponta para uns caras em atitude, digamos, suspeita. Suadouro no Panamá, era só o que me faltava! Vergara me deixa no hotel e repete que é realmente peligroso sair. A lâmpada do quarto é de 40 velas , tento ler o livro do Gabeira, de pé em cima da cama com o livro próximo da luz. As baratas, digo, as cucarachas observam tudo com indiferença. Meus braços não agüentam mais. Desisti, tomei o resto do rum e capotei. Na semana que vem, prometo chegar a Cuba.

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