Instituto Oyá lança coleção ‘Transformação’ no MAM

O clima de expectativa dos bastidores era o esperado de todo grande evento, mas o orgulho do trabalho bem realizado e dever cumprido também estava nítido na expressão de todos os envolvidos. Tudo foi confirmado pelo público na apresentação de 30 criações da coleção ‘Transformação’ idealizadas e confeccionadas por alunos do projeto Oyá Criativa em desfile, na tarde de sábado, 18, no Museu de Arte Moderna da Bahia.

A produção é resultado dos cursos de moda, modelagem e corte e costura oferecidos pelo Instituto Oyá, localizado no bairro de Pirajá, no terreiro Ilê Axé Oyá. No entanto, a ideia inicial era apenas de formação. “Quando eles finalizaram o desenho das peças, percebemos que o único caminho de encerrar esse ciclo era concretizar as criações em um desfile”, disse a líder espiritual do Ilê Axé Oyá e gestora do Instituto,Nívia Luz.

O desejo de Mãe Santinha, líder espiritual do Ilê Axé Oyá que morreu em 2015, de acolher a comunidade oferecendo oportunidade, capacitação e fortalecendo potenciais com base na educação e transformação social estava mais uma vez realizadoO projeto, em sua segunda edição, beneficiou 70 alunos e tem foco na profissionalização de jovens e adultos de comunidades periféricas e fomentar a economia criativa em comunidades.

As águas dos rios e mares, elementos das religiões de matriz africana e profissões de comunidades tradicionais como pescadores e marisqueiras foram referências da coleção realizada ao longo de 8 meses. Eram cordas, redes, trançados, búzios, palha, pintura, concha, pintura, estampa, renda, transparência. A curadoria do desfile têm assinatura do diretor criativo ítalo-brasileiro Giovanni Bianco com produção de Lícia Fábio Produções.“Estou muito orgulhoso. Tenho 34 anos de profissão e aprendi muito com essa turma extraordinária.Tenho afinidade intensa com a Bahia e é um privilégio fazer parte desse processo”, disse Bianco.

A área externa do MAM carrega de ancestralidade foi palco para os modelos– boa parte deles, alunos que criaram as peças– que desfilaram ao som do Cortejo Afro.Para a diarista, modelo, estilista e atriz Rosângela Morais,46 anos, que desfilhou com sua produção, o projeto deu a oportunidade de entender a moda valorizando as pessoas. “A moda começa muito antes dos minutos na passarela. Com esse trabalho, estamos legitimando profissionais pouco valorizados e incluindo nesse contexto, além de valorizar nossas raízes”, disse ela que homenageou a entidade religiosa Marujo e é fundadora da Tia Ró Fuxiqueira.Ela levou para o projeto o filho Ednei William, 18 anos, que assina cinco criações da coleção. “Dois looks têm inspiração no dendê, um com elementos de Oxalá e outro que evidencia a diversidade dos tons de pele do povo baiano”, explica o modelo, ator e estilista.

As peças foram desenvolvidas com orientações dos professores Ana Paula Tadeu(modelagem), Leila Saron (corte costura)eCarolina Gold e Cid Brito (design de moda). A maquiagem foi de Ricardo dos Anjos e a stylist foi Renata Correa. “Ensinando e aprendendo que fizermos esse projeto acontecer. Moda é isso. Atuei apenas na medida de viabilizar o que eles estavam pensando para as estamparias”, contou o diretor criativo do Instituto Oyá, Alberto Pitta. Segundo Pitta, o destino das peças depende da negociação de algumas marcas que entraram em contato, mas ainda integram no acervo da instituição.

Instituto Oyá

Iniciativa com 23 anos de existência desenvolve os projetos Oyá Educa, Oyá Criativa e Oyá Social. Fundado por Mãe Santinha (Anísia da Rocha Pitta e Silva),que morreu anos 90 anos, o objetivo era contribuir para o desenvolvimento humano, profissional, intelectual e artístico de crianças e jovens em situação de vulnerabilidade.