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ABRE ASPAS

“A busca pela beleza perfeita está uma loucura”

Confira a entrevista com médico Paulo Barbosa

Pedro Hijo

Por Pedro Hijo

20/04/2025 - 4:00 h
Imagem ilustrativa da imagem “A busca pela beleza perfeita está uma loucura”
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À frente da organização da 35ª edição do Congresso Brasileiro de Cirurgia Dermatológica, o médico Paulo Barbosa pretende colocar uma lente de aumento em dois assuntos que considera urgentes para o segmento. Um deles vai ser tema do evento que será realizado entre os dias 24 e 27 deste mês, em Salvador. A programação vai contar com simpósios e cursos sobre os avanços do setor para pessoas de pele negra e pretende reunir mais de três mil profissionais da área. Entre eles, a presidente da Academia Americana de Dermatologia, Susan C. Taylor. “Estamos falando da cidade mais negra fora do continente africano”, afirma Paulo, se referindo à capital baiana. Outro tema cada vez mais caro para o médico é o aumento do número de pessoas que optam por fazer procedimentos estéticos com profissionais não especializados na dermatologia. Segundo Paulo, pacientes que desejam resultados rápidos recorrem a médicos ou esteticistas famosos nas redes sociais, sem antes checar suas formações. Para A TARDE, Paulo ainda fala sobre novas tecnologias voltadas para a pele da população negra e sobre os riscos da busca pela juventude eterna.

Quais avanços mais lhe impressionam quando falamos em tratamentos dermatológicos para peles negras?

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A indústria tecnológica vem evoluindo muito nesse sentido. Há algum tempo, não se cogitaria fazer laser numa pessoa negra com medo do desenvolvimento de queloides ou de cicatrizes hipertróficas [marcas elevadas e espessas que se formam após a cicatrização exagerada da pele]. Houve uma evolução muito grande no que tange a novas técnicas para cuidar deste tipo de pele. Eu sou baiano, nasci de Salvador, e eu acho uma injustiça a dermatologia não abordar esse tipo de assunto com mais importância. Estamos falando da cidade mais negra fora do continente africano, com uma população de mais de 80% de pessoas negras. Por isso, sendo presidente do congresso, quero que esse assunto tenha cada vez mais abrangência. Nesta edição, teremos cerca de 3.500 dermatologistas presentes. É uma oportunidade enorme para falar sobre pele negra e tratamentos voltados para este público. Estou muito orgulhoso também porque nós sempre convidamos a Academia Americana de Dermatologia para participar do evento e eles nunca puderam vir. É a maior sociedade de dermatologia do mundo, seguida da brasileira. Desta vez, eu encaminhei um resumo do que vamos tratar no congresso para a presidente da academia [Susan C. Taylor], e ela topou vir na hora. Vou participar de alguns simpósios e de mesas com grandes mestres, incluindo ela.

Quais assuntos serão abordados no congresso?

A parte de laser terá destaque. Especialmente, laser na pele negra, para rejuvenescimento e para tratamento de flacidez. Este último é um caso muito recorrente, por causa do avanço do número de pessoas que fazem cirurgia bariátrica. Uma novidade que o congresso vai abordar é a radiofrequência monopolar. É um tratamento que já existia, mas surgiu com uma nova abordagem em que se resfria a pele para mandar as ondas de rádio para camadas ainda mais profundas.

Além dos lasers, que outras tecnologias ou procedimentos vêm se mostrando mais promissores para tratar hiperpigmentação, cicatriz e o envelhecimento precoce?

A parte clínica evoluiu muito. Estou falando dos despigmentantes [cosméticos que visam reduzir as manchas escuras que podem surgir devido à produção excessiva de melanina], os clareadores, hidratantes, além dos produtos que rejuvenescem o tecido. Existem kits específicos para quem deseja fazer skincare [termo usado para se referir à rotina de cuidados com a pele]. Para quem quer começar a zelar pela saúde do rosto e do corpo, sugiro um protetor solar de qualidade, um hidratante, um clareador, um produto que estimula o rejuvenescimento e a renovação celular. Tudo isso já existe para todos os tipos de pele.

Quais os riscos da popularização dos procedimentos estéticos?

Me chama a atenção toda essa área da medicina estética, de harmonização facial [conjunto de procedimentos estéticos para equilibrar e realçar os traços do rosto], de intervenções feitas por médicos que não têm título de especialista. A realidade é que, para se especializar, o sujeito deve se formar em medicina e fazer uma residência médica. Isso tudo dura seis anos e as especializações têm cada vez menos vagas e mais concorrência. No entanto, há um caminho de não se tornar um especialista e investir em marketing ou mídia. Há um pessoal que tem ido cada vez mais por esse caminho. O número de pessoas com deformidades no rosto está cada vez maior. Isso é um problema porque os pacientes querem efeitos rápidos e pouco investimento. Então, optam por não médicos e não se informam sobre qual produto estão colocando no corpo. O peeling de fenol [procedimento para tratar rugas e manchas] e o PMMA [sigla para polimetilmetacrilato, utilizado em cirurgias plásticas e tratamentos estéticos] são coisas que comprovadamente dão efeitos ruins, não são indicados pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária, e as pessoas continuam fazendo.

Estamos indo muito longe na tentativa de não envelhecer?

Está uma loucura! Hoje, a paciente chega com uma foto no celular com o rosto da artista que ela quer ficar parecida. "Ah, eu quero a boca de fulana, quero o nariz de sicrana", é o que dizem em consultório. Hoje, o médico tem que ser um psicanalista também porque é preciso frear a expectativa do paciente. É imperativo fazer foto do antes e do depois do procedimento. Se o paciente é calvo e faz um implante bem-sucedido, com o tempo ele começa a apagar da memória a fase em que tinha menos cabelo. Então, é preciso recorrer à foto de como ele era antes para que se dê conta de que as coisas mudaram. Senão, ele fica insatisfeito novamente. A mulher que emagrece 20 ou 30 quilos não lembra mais como ela era quando estava mais gorda, só quando compara as imagens. A busca pela beleza perfeita está uma loucura. As pessoas estão se perdendo e os valores estão mudando. Outro ponto alarmante são os jovens. Há algum tempo, eu recebi um convite de uma agência muito famosa para que eu aplicasse botox [a toxina botulínica é uma substância usada para suavizar rugas e linhas de expressão] em 15 modelos. A mais velha tinha apenas 16 anos de idade. A pressão que adolescentes sentem para atingir o padrão é uma loucura. E mais: se você não fizer o procedimento, outro profissional vai fazer.

Há quem fale que o botox em jovens é uma forma de prevenir o surgimento de rugas na fase adulta. Isso faz sentido?

Não. A maior prevenção que existe é um protetor solar de boa qualidade e a hidratação da pele. É fazer o uso de produtos que tenham sentido de serem usados. O primeiro passo para o autocuidado é a indicação de um bom médico. Se você procura profissional que não é médico, o prejuízo vai ser grande. A medicina virou um negócio extremamente lucrativo, que quem mais ganha são profissionais que não são especializados. Há quem esteja cansado desta realidade e não veja mais sentido em se matar de estudar para fazer residência médica, tirar o título de especialista, para que depois uma blogueira sem especialização surja com um bom número de seguidores, um bom aparelho de laser, e convença todo mundo de que é capaz. Ela não é. Então, a mensagem que eu quero deixar é que é importante procurar alguém que saiba o que está fazendo, que estudou. Não busque a mãe, a amiga, a blogueira. Se assim o fizer, os resultados serão péssimos e as experiências difíceis. Chegam ao meu consultório muitos casos de pessoas com sequelas de procedimentos feitos por profissionais que não são confiáveis. Alguns, eu atendo, mas não consigo tratar tamanha a deformidade. E, infelizmente, os acidentes estão aumentando cada vez mais.

O senhor é médico há 40 anos. A pressão pelo rejuvenescimento sempre existiu ou é algo que ganhou força com o surgimento das redes sociais? As demandas dos pacientes são diferentes do início da sua carreira para hoje?

Esse interesse pela juventude sempre existiu. Mas algo que eu percebo é que é preciso sempre se atualizar para acompanhar o desejo e os interesses dos pacientes. Eu sou orientador de laser na Universidade de São Paulo, estou no corpo clínico do Hospital Sírio-Libanês. Também sou membro das academias europeia e americana de dermatologia, da Sociedade Brasileira de Cirurgia Dermatológica, enfim... Não dá para parar. O mundo cobra isso. Eu frequento, em média, 70 congressos internacionais por ano, além dos nacionais. Se você não está se superando, os pacientes procuram outro profissional. Porque o paciente gosta de uma novidade, principalmente as mulheres. O paciente não pertence a ninguém.

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