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ABRE ASPAS

A educação dos filhos é um trabalho contínuo, diz psicopedagoga

Confira a entrevista com a psicopedagoga Faezeh Shaikhzadeh

Por Pedro Hijo

09/03/2025 - 8:00 h
Faezeh Shaikhzadeh, psicopedagoga
Faezeh Shaikhzadeh, psicopedagoga -

Para a psicopedagoga Faezeh Shaikhzadeh, não é só o tempo que uma criança ou adolescente passa em frente a um tablet ou smartphone que deve ser monitorado pelos responsáveis. Os valores compartilhados em família são a chave para que a exposição às telas não seja um obstáculo na criação de laços verdadeiros entre pais e filhos. A educação parental, alvo de estudo da especialista há mais de duas décadas, é um processo de orientação e apoio a pais, mães e cuidadores para promover uma criação mais consciente e respeitosa das crianças e adolescentes. O foco da disciplina é melhorar a relação entre jovens e responsáveis, para que eles aprendam a lidar com os desafios da educação de maneira equilibrada e empática. Nesta entrevista, Faezeh destaca a importância de que pais reflitam sobre os próprios padrões de educação. Para a psicopedagoga baiana, esse exercício inibe a repetição de comportamentos e crenças que possam ser prejudiciais ao desenvolvimento emocional dos filhos. “Quantas vezes uma mãe se pega dizendo: ‘Nossa, eu fiz igual a minha mãe’, mesmo que tenha dito um milhão de vezes que não faria aquilo”, comenta. Para Faezeh a conexão emocional com os filhos pode se dar, inclusive, por meio da tecnologia. No entanto, é preciso vigilância. “Permitir que o filho esteja nas redes sociais sem acompanhamento, é como deixar ele, sem supervisão, numa avenida com muito movimento de carros. Tudo pode acontecer”, explica.

O que é a educação parental e qual é a importância no desenvolvimento das crianças e adolescentes?

A educação parental se destina, principalmente, para mães, pais e cuidadores. Também traz bastante informação e é muito útil para educadores de forma geral. É uma ferramenta voltada para todos aqueles que lidam com crianças e adolescentes e que desejam uma criação com mais consciência, respeito e conexão. Essas são palavras importantes. Cada vez mais pesquisas científicas mostram o impacto da parentalidade no desenvolvimento emocional das crianças e dos adolescentes. A educação parental é importante porque, muitas vezes, quando estamos educando, lidamos com os nossos próprios desafios. Mães e pais fazem a própria história, ou seja, escolhem as próprias crenças, o que pode ajudar numa repetição de padrões. Quantas vezes uma mãe se pega dizendo: "Nossa, eu fiz igual a minha mãe", mesmo que tenha dito um milhão de vezes que não faria aquilo. E aí, quando se vê, está repetindo aquele determinado comportamento.

Você começou a estudar sobre educação parental quando seus três filhos nasceram, há mais de 20 anos...

Sim. Quando eles eram bem pequenos, tive o privilégio de optar por um período para estudar. Sei que essa não é uma possibilidade para muitas pessoas. Mas, me dediquei exclusivamente à educação deles. Eu morei fora por um tempo, e com outras mães, a gente se reunia para ler mais sobre educação parental, sobre como aumentar a conexão com os nossos filhos, melhorar a comunicação com eles, educar de uma forma respeitosa. Então, desde lá, essa semente vem germinando.

Nos últimos anos, há uma discussão importante sobre os efeitos da educação positiva, abordagem pedagógica que foca no desenvolvimento das potencialidades emocionais e sociais dos jovens. Pais que não foram educados sob uma disciplina como esta, que equilibra firmeza e gentileza, são capazes de oferecer uma educação mais acolhedora?

Sim. A disciplina positiva ensina com respeito e gentileza, sem castigos ou permissividade. Ela foca no desenvolvimento emocional, social e na construção de uma relação de confiança. Não necessariamente o responsável precisa ter estudado para exercer a disciplina positiva. Quanto mais nos dedicamos a refletir, aprender e trocar com outros pais, mais relações saudáveis faremos. Estudar sobre esses assuntos, sempre nos baseando no que a ciência traz, com certeza, auxilia. Até porque estudar não necessariamente indica que essa disciplina será posta em prática. Não há um certificado quando falamos deste tema. A educação dos filhos é um trabalho contínuo. Muitas pessoas falam mal da disciplina positiva porque não entendem certos conceitos e acham que significa que o responsável deve dizer sim para tudo que o filho pede. Não é isso. A disciplina positiva trata sobre o respeito mútuo, a cooperação e sobre o equilíbrio entre firmeza e gentileza. Os pais, às vezes, caem nesses polos, sendo permissivos demais ou autoritários demais, e a disciplina positiva oferece ferramentas para ajudar a equilibrar isso.

A educação parental é aplicável a todos os tipos de família, independentemente da classe social? Como ela é adaptada em diferentes contextos?

É uma disciplina para todas as situações e todas as idades. Cada etapa da vida de uma criança tem oportunidades e desafios próprios. Cada momento tem suas potencialidades. A educação parental oferece a possibilidade de ajudar as famílias, independentemente de cultura ou classe social. Somos todos seres humanos, com fases de desenvolvimento. Então, um cuidador que entende as fases do crescimento tem mais empatia. Ele pode regular melhor suas expectativas e frustrações. Por exemplo, um adolescente está na fase da individualização, na qual ele precisa de mais autonomia. Quando os pais entendem isso, fica mais fácil. Porque não se trata de uma questão pessoal. É um recorte de uma vida. Se os pais compreendem isso, a forma como lidam com o filho muda.

Como os pais podem criar espaços de convivência familiar em casa?

De várias formas. A primeira maneira é dedicar tempo de qualidade. Acredito também na busca por informação: mentorias, leitura, cursos e a troca com outras famílias podem ajudar a trazer ideias de como agir. Os pais podem aprender sobre criar reuniões em família, onde todos se sentem para discutir a qualidade da convivência, principalmente quando as crianças são pequenas. Se a família está atenta a criar rotina no dia a dia, ela é capaz de melhorar bastante as relações. À medida que a criança cresce, é importante resolver os imbróglios com a criança e não pela criança. A escuta ativa também é uma ferramenta importante.

A tecnologia é um obstáculo para o desenvolvimento desta escuta em família? Como equilibrar o uso de aparelhos eletrônicos com o desenvolvimento das habilidades emocionais?

É muito possível criar esse equilíbrio, mas exige cuidado. Vejo crianças pequenas, que nem deveriam usar celular, atentas a conteúdos em tablets e smartphones por muito tempo. São pais que usam essas telas como babás. Isso gera dependência, e essa dependência gera estímulos que liberam dopamina e fazem com que o jovem queira sempre mais. O que precisa ser monitorado não é só o tempo que o jovem passa na frente dessas telas, mas os valores que são compartilhados coletivamente. O que a família preza? Permitir que o filho esteja nas redes sociais sem acompanhamento é como deixá-lo, sem supervisão, numa avenida com muito movimento de carros. Tudo pode acontecer. Mas, se a família acompanha [a presença online do jovem], a tecnologia pode até ser uma forma de conexão.

Como vigiar a vida digital dos filhos sem desrespeitar a autonomia e independência desses jovens?

Muitos estudos têm mostrado os efeitos nocivos da hiperconexão [uso excessivo e constante de tecnologia]. Alguns deles são os transtornos mentais, principalmente na adolescência. A ansiedade tem aumentado muito nesta idade, e o uso descontrolado de celulares e redes sociais é um dos fatores. Até as escolas estão proibindo o uso do celular em sala de aula porque perceberam que este uso exacerbado não é saudável. Elas viram que, quando proibido, os jovens começam a conversar mais entre si. Até os 14 ou 16 anos, os pais devem lançar mão de ferramentas que controlam o tempo de uso e monitoram onde o filho está navegando. Como adultos, nós sabemos que muitas vezes, na internet, começamos em um lugar e, quando vemos, estamos em outro, e isso é perigoso para crianças e adolescentes.

Mas, as redes sociais não podem funcionar como um lugar de pertencimento para esses adolescentes?

Boa reflexão. Eu sou idealizadora do Arvorar Jovem, que é um programa que busca oferecer ferramentas para que os jovens lidem melhor com os desafios da adolescência. Muitos desses adolescentes que encontro têm amigos nas redes sociais ou nos videogames jogados online. Mas, será que se eles os encontrassem pessoalmente, teriam habilidades desenvolvidas para conversar? Outro ponto é: a criança que passa muito tempo no celular não desenvolve habilidades motoras. Essa geração lida com o medo dos pais com a violência. Isso tira da criança o brincar livre, que ajuda a desenvolver resiliência, criatividade e habilidades para resolver problemas. Isso tudo é perdido no mundo virtual.

Quais são os sinais de que um adolescente pode estar se envolvendo com grupos que o influenciam negativamente?

A mudança de comportamento, como isolamento, tristeza e medo são sinais de alerta. A internet acaba levando muito ao vício com jogos, pornografia e até ao bullying. Muitos meninos caem em ciladas e isso acaba criando um ciclo perigoso. Para as meninas, a principal questão é a imagem e a autoestima, que na adolescência oscilam bastante. Quando os pais começam a perceber sinais de insegurança, ansiedade e muito isolamento, isso pode ser um indicativo de que as coisas não estão bem.

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