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A força do Cortejo Afro: pré-réveillon e ensaios de Verão

"Vai ser um ensaio bem raiz", afirma a diretora do Cortejo Afro, Andréa Nascimento

Por Gilson Jorge

29/12/2024 - 6:00 h
Imagem ilustrativa da imagem A força do Cortejo Afro: pré-réveillon e ensaios de Verão
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Com um atraso de um mês, em função de sua agenda de eventos, o Cortejo Afro retoma amanhã a temporada de ensaios de verão, no Largo Quincas Berro d'Água, no Pelourinho, às 21h. E o pré-Réveillon terá uma atração convidada especial: o cinquentenário bloco Ilê Aiyê.

"Vai ser um ensaio bem raiz", afirma a diretora do Cortejo Afro, Andréa Nascimento. O primeiro lote de meia-entrada, ao preço de R$ 100, esgotou. O segundo lote foi colocado à venda por R$ 120 mais taxa de 10% no site Ticket Maker, junto com a inteira por R$ 200.

Mas a grande informação da temporada é que o bloco fundado pelo artista plástico Alberto Pitta recebeu esta semana do Ipac as chaves do centenário Cine-Teatro Jandaia, na Baixa dos Sapateiros, que está fechado desde 1990 e que deve se transformar em médio prazo num centro cultural e a futura sede do Cortejo, que por enquanto ocupa uma casa no Centro Histórico, na Rua Santa Izabel.

A empreitada que visa à reforma do local onde se apresentaram Carmen Miranda e Bidu Sayão conta com a participação da atriz Regina Casé. A direção do Cortejo, entretanto, não deu detalhes quanto ao projeto e ao cronograma.

"São 26 anos de muita inspiração, de muitas alegrias, porque é um bloco que, embora seja dos mais novos, se faz respeitar, é muito lembrado. As pessoas demandam estar com a gente no Carnaval", diz Andréa Nascimento.

Símbolos de força

Pitta criou o Cortejo Afro em 1998 após passar muitos carnavais criando estampas de tecidos para blocos afros de Salvador. A entidade surgiu nas dependências do Ilê Axé Oyá, em Pirajá, no dia 2 de Julho. "É um bloco que nasce cheio de simbologia, às margens da Bacia do Cobre no Parque de São Bartolomeu. Um bloco que nasce realmente de um processo de empoderamento, com vários símbolos de força", resume Andréa.

Dono de uma voz irremediavelmente associada ao Cortejo Afro, o cantor Aloísio Menezes declara-se ansioso pela volta dos ensaios. "A gente tem uma expectativa muito grande para a volta dos ensaios, que é esperada pelos associados e fãs do Cortejo. Sempre temos novidades. Este ano, o tema é Joias de Crioula", destaca Aloísio, referindo-se aos artigos de ourivesaria que eram usados nos séculos 18 e 19 por amas de casa nas residências de senhores muito ricos e por algumas mulheres alforriadas.

Sobre a ocupação do Cine-Teatro Jandaia, Aloísio não vê possibilidade de utilização do espaço em um curto prazo, mas enaltece o propósito de fazer reviver um local tão marcante na história das artes na Bahia. "Eu não acredito que o Jandaia esteja pronto ou preparado para receber os nossos associados tão rapidamente. É um projeto para o futuro", destaca Aloísio, ressaltando que esse é um lugar que ele frequentou na infância e juventude. Assim como o amigo e companheiro de palco no Cortejo, Portella Açúcar, que, em entrevista por telefone em viva voz, ao lado de Aloísio, mencionou ter assistido nesse cinema o filme Império dos Sentidos, clássico erótico lançado em 1976. "E você tinha idade para ver o filme?", questiona Aloísio. Em meio a gargalhadas, Portella rebate: "Tinha uma janela no lado ladeira que dava para pular. Naquele tempo, a gente subornava o segurança".

Mas além das peraltices adolescentes, o Jandaia ficou marcado na lembrança dos dois cantores, que moravam no Centro Histórico, como uma alternativa de lazer e cultura bem perto de casa. "Eu sou um menino do Maciel, ia muito ao Jandaia", destaca Portella.

Além do que presenciaram, os dois têm em mente os grandes espetáculos exibidos ali, antes de eles nascerem. "Pensar que Carmen Miranda cantou ali", declara Aloisio. Curiosamente, a cantora gravou em 1929 uma canção chamada Triste Jandaia, composta pelo baiano Josué de Barros, 18 anos após a inauguração do Cine-Teatro Jandaia, mas que naturalmente não tinha a ver com a casa de espetáculos, e sim com o pássaro.

Josué de Barros, aliás, entrou para a história como a pessoa que descobriu a Pequena Notável. Em 1928, o baiano compunha e dava aulas de violão quando conheceu a portuguesa, que se tornou sua aluna. Ele a levaria posteriormente às gravadoras Brunswick e Victor. Mas enquanto a aura dos tempos de Carmen Miranda não retorna ao Jandaia, a canção Triste Jandaia poderia, sim, ter servido de alegoria ao equipamento a partir do início da década de 80, quando o uma vez nobre espaço para espetáculos, com capacidade para 2.200 pessoas, começou a dedicar a sua programação a filmes de artes marciais e, posteriormente, de sexo explícito.

Com o encerramento total das atividades, em 1990, o imóvel aprofundou o processo de degradação de suas instalações físicas. Os proprietários do prédio, do Grupo Orient, enfrentaram protestos de intelectuais e de artistas que se queixavam do seu estado de abandono. Em 2011, o prédio foi tombado pelo Ipac, o que dificultava a sua demolição. Em 2016, o prédio foi desapropriado pelo estado. Algumas iniciativas de aproveitamento do espaço por artistas chegaram a ser ventiladas, mas nenhuma mudança saiu do papel até agora.

Com a anunciada parceria entre o Governo do Estado, o Cortejo Afro, Regina Casé e o artista visual Vik Muniz, surgiu um novo alento. No início deste mês, circulou pela internet uma postagem atribuída a Regina Casé levantando a possibilidade de que os já tradicionais ensaios de segunda-feira do Cortejo Afro acontecessem no Jandaia ainda neste verão. Mas com o recebimento das chaves do lugar nesta semana e o estado atual de conservação do prédio, essa hipótese perdeu força. Não à toa, o Cortejo Afro assentou-se provisoriamente no Pelourinho, tanto com a nova sede na Rua Santa Izabel quanto nos ensaios na Praça Quincas Berro d'Água. Afinal, Jandaia é nome de ave. E como se diz por aí, é melhor ter um passarinho na mão do que dois voando.

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