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PERFIL

A intensidade criativa da escritora e artista visual Alba Liberato

Alba considera-se uma pessoa tímida, avessa à exposição, e sempre apareceu menos do que o marido e os filhos

Por Gilson Jorge

14/11/2022 - 7:00 h
Sua obra A imagem e o semelhante integra a exposição Entre Laçadas, Mulheres na Arte
Sua obra A imagem e o semelhante integra a exposição Entre Laçadas, Mulheres na Arte -

Depois de pedir licença para ir pegar, antes da entrevista, um copo de água na copa da Aliança Francesa, na Ladeira da Barra, a escritora, roteirista e artista visual Alba Liberato, 78 anos, senta-se suavemente no sofá de couro na sala em frente ao acesso para o bistrô na varanda.

A artista teve um bom motivo para sair do sítio onde vive e trabalha, no Trobogy, para passar a tarde da última terça-feira no casarão onde funciona a Aliança.

Até o próximo dia 20, sua obra A imagem e o semelhante integra a exposição Entre Laçadas, Mulheres na Arte, organizada pela artista visual Mônica Colucci, que reúne o trabalho de dez artistas, de 46 a 78 anos, além de uma já falecida, a francesa Louise Bourgeois.

Alba é uma mulher tranquila. Com um copo plástico nas mãos e olhar compenetrado, começa a falar com eloquência e entusiasmo sobre o livro de poesia Ditos do povo, ditos do coração, sobre provérbios populares no interior da Bahia, lançado este ano e que apresentou no início do mês na Flipelô 2022.

A publicação é inspirada nos roteiros do Sertão por onde ela e o marido, o artista multimeios Chico Liberato, viajaram para compor animações como Boi Aruá e Rito de Passagem, e também nos ditados que, na poesia de Alba, são confirmados ou contraditos.

Como no verso: "Sendo a cara/ concentração de prodígios/ ilha de maravilhas/ os olhos da janela da alma/ alma, janela do coração/ a cara é revelação/ quem vê cara/ desmascara/ vê coração", do poema Quem vê cara vê coração.

"Sempre fui interessada pela cultura sertaneja. Era um conteúdo que eu queria explorar mais", afirma a artista. Quando começa a falar sobre o livro, o sorriso vai se ampliando gradualmente.

Mas Alba considera-se uma pessoa tímida, avessa à exposição, e sempre apareceu menos do que o marido e os quatro filhos que se tornaram artistas, a atriz Ingra Liberato, a artista visual e produtora Cândida Luz, a atriz, dançarina e professora Flor Violeta e o flautista João Liberato. Um quinto filho, Tito Liberato, formou-se advogado, mas escreveu dois livros.

Legado

Alba começou a falar mais sobre o seu trabalho a partir de 2015, quando um assalto ao sítio da família no Trobogy resultou em sérias agressões físicas a Chico, que estava sozinho em casa e, após reagir, foi golpeado fortemente na cabeça.

Com o tempo, ele foi perdendo a memória e Alba se sentiu compelida a ser a porta-voz do legado do marido e também do seu próprio trabalho.

Foi mais um episódio de violência na vida do casal que, em 1970, teve o sossego interrompido pelos militares depois de um quadro de Alba exposto na Praça da Piedade, com o rosto de Che Guevara ao lado de um coração, ser interpretado como uma afronta ao regime militar. Os agentes da ditadura acreditaram que a obra era de Chico e o levaram preso.

"Nós avaliamos que foi até melhor, porque estávamos com duas filhas pequenas (Ingra e Cândida) e eu podia cuidar delas. Por sorte, Chico não foi torturado", revela Alba.

Por sorte e ação. Aconselhada pelo advogado da família, ela foi atrás de pessoas influentes e, inclusive de um militar conhecido, para pressionar pela libertação de Chico. Com a repressão militar a todo vapor, o casal deu um tempo nas artes plásticas.

Em 1972, após um encontro fortuito com o cineasta Guido Araújo, que estava organizando a I Jornada Internacional de Cinema da Bahia, Chico aceitou o convite para fazer os cartazes do evento.

Depois, na década de 1980, incentivado por Guido, o artista resolveu enveredar pela animação, ainda incipiente no Brasil.

"Nem havia literatura sobre animação aqui, ele se guiou por um livreto conseguido com um amigo de São Paulo", lembra Alba, que assinou o roteiro de Boi Aruá, baseado no livro O Boi Aruá, de Luiz Jardim.

Golpe

A ditadura militar influenciou diretamente os destinos de Alba desde cedo. Em 1964, aos 15 anos, ela se preparava para ingressar numa faculdade de jornalismo no Rio de Janeiro, aonde tinha ido com a família. O golpe perseguiu jornalistas críticos aos militares, como Samuel Weiner, do jornal Última Hora, que precisou se exilar.

A jovem jequieense de classe média, que tinha realizado o sonho de estudar magistério numa escola pública, por não suportar a superficialidade das colegas de instituições privadas, abriu mão de seu outro sonho, o jornalismo, e casou-se em 1965 com Chico, o amigo soteropolitano que conhecera dois anos antes, no Rio. "Ele sempre me incentivou, me incluiu nos seus trabalhos", diz a artista autodidata, que em 2016 concluiu a graduação em pedagogia.

Foi através do trabalho de Chico, descrito em seu livro Pranchas da linguagem virtual, que a artista plástica Mônica Colucci se aproximou de Alba, de quem ficou amiga e admiradora.

"O trabalho plástico dela conversa com a gente, tem palavra, tem costura. Quando você chega ao ateliê no sítio, sua obra explode em sua cara. Alba é essa força enorme na poesia, na construção", considera Mônica.

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