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OLHARES

A maestria de Márcia Magno

Confira a coluna Olhares

Por Celso Cunha Neto*

01/09/2024 - 4:00 h
Márcia Magno
Márcia Magno -

Em 1980, tive o privilégio de ser aluno na matéria Desenho de Modelo Vivo, da primeira turma de professora Márcia Magno, então recém-formada e recém-aprovada no concurso para professora adjunta do curso de Artes Plásticas da Escola de Belas Artes da Ufba.

Márcia, à época, muito jovem, sempre bonita e elegante, parecia mais uma colega que uma professora, embora exercesse sua função enquanto docente com a qualidade e competência esperada de um professor concursado da EBA.

Márcia Magno é baiana de Salvador. Mudou-se para o Rio de Janeiro onde estudou na Escola Nacional de Belas Artes o curso de Arte Decorativa, e na Faculdade Nacional de Filosofia, o curso de Pedagogia. Portanto, já trazia um ótimo currículo acadêmico quando retornou à Bahia e entrou no curso de Artes Plásticas da EBA-Ufba.

Lá, foi assistente do professor Riolan Coutinho na disciplina de Modelo Vivo, e do professor Juarez Paraíso, na disciplina de Arte Mural. Também aluna do grande mestre da escultura, professor Ismael de Barros, com quem se especializou na difícil arte de modelar.

Como professora adjunta da EBA lecionou Desenho VI, Xilogravura, Modelagem e Desenho de Modelo Vivo, tendo sido durantes anos professora de Técnicas de Execução de Murais. Coordenou a Galeria Cañizares, foi idealizadora e curadora da primeira exposição sobre Arte Digital na Bahia, Arte em Computação – Belas Artes Computer Grafics, 1992.

Foi uma das criadoras e participou como artista, em 1980, das Oficinas de Arte em Série do Museu de Arte Moderna da Bahia, onde ensinou xilogravura.

Como gravurista, Márcia destaca-se entre os artistas baianos que dominam com maestria essa primorosa técnica. Dona de uma abordagem pessoal, com sulcos precisos e domínio das texturas, no momento primeiro a artista produz a matriz de madeira para futura impressão da cópia em papel ou outro suporte.

Sua série denominada Arraias aborda um tema do cotidiano das nossas cidades, um misto de esporte e ludicidade. Conhecido também como pandorgas, pipas, papagaios, a depender do estado ou cidade.

Nesse espírito lúdico e inspirado em sua dinâmica e gama cromática, de tons alegres e translúcidos em composições geométricas simples, Márcia Magno alça essas arraias, denominação típica em Salvador e cidades próximas, à condição de obras de arte.

Por meio de impressões xilográficas que primam pela precisão do corte matricial, pela composição elaborada e, principalmente, pelo uso das cores, mantém a tradição popular, porém elevando-a a níveis mais elaborados, extraindo, assim, com competência técnica e criativa, um alto padrão de expressividade artística.

No amplo campo das esculturas de bustos e figuras de corpo inteiro, em que Márcia Magno é profissional referência na Bahia, certamente contribuíram muito a sua sólida formação em modelagem com o mestre professor Ismael de Barros e também seu ex-professor e esposo professor Juarez Paraíso.

Márcia teve a oportunidade de aprender com os melhores e assim tornar-se uma das poucas artistas escultoras especializadas em execução de bustos e corpo inteiro do nosso estado. Uma área quase que exclusivamente masculina, até há poucos anos.

Em Salvador, além de Márcia Magno, só recordo da também ex-diretora da EBA, professora Nanci Novaes e minha querida professora Mercedes Kruchevsky.

Em 1991, a professora Márcia Magno executou o busto em homenagem a Nelson Mandela e na inauguração foi cumprimentada e elogiada pelo líder político sul-africano acompanhado de sua esposa, Winnie Madikizela Mandela. Estava presente o então prefeito de Salvador, Fernando José, entre outras autoridades locais.

É visível e emocionante perceber a virtuosidade que a professora Marcia Magno tem em absorver e assimilar com propriedade a aparência e os traços marcantes da personalidade do retratado em seus bustos.

Quem conhece a milenar técnica da modelagem em argila na representação de bustos, sabe que são necessários muitos anos, exercícios de prática constante, para o domínio das proporções da anatomia e sua adaptação ao modelo em questão, com suas particularidades anatômicas, um aspecto parcialmente técnico e matemático – para daí demonstrar sua genialidade na captação do personagem ao buscar apreender e, principalmente, conseguir retratar plasticamente e tridimensionalmente o indivíduo.

É o caso da excepcional escultura de corpo inteiro em homenagem a Zumbi dos Palmares, líder quilombola, pernambucano de Serra da Barriga. Personagem importante e referência na história da resistência negra no Brasil.

As mãos de Márcia Magno conferem uma altivez, dignidade e nobreza à altura da sua importância, escapando de uma característica comum aos monumentos públicos em bronze, que é, salvo raras exceções, a hieraticidade com sua rigidez e estaticidade pobre de vitalidade e emoção.

Nessa escultura, Márcia exibe e utiliza claramente seu domínio da anatomia humana, aprendida na velha e rígida escola acadêmica, para expressar no personagem toda a sua vitalidade viril, em sua pose altiva e atenta, qual um caçador perscrutando a presa. Com isso, ela consegue conferir-lhe uma tensão dinâmica, raríssimas vezes conseguida na história das esculturas públicas.

Chamo a atenção outro importante elemento nessa escultura, o equilíbrio em uma perna compensado pelo apoio da mão na lança, que por sua vez toca o solo, uma feliz solução que, no conjunto, lhe conferem uma tensão de forças dinâmicas e naturalmente expressivas. Poucos escultores conseguem. Posso afirmar sem sombra de dúvida que Márcia Magno pertence a essa casta, para nosso orgulho e felicidade uma artista baiana.

Mestra em Artes, sua tese sobre Arte Mural beneficiou a Universidade Federal da Bahia com três Murais no Pavilhão de Aulas da Federação, na Faculdade de Educação e na Escola de Química.

Um belo exemplo de mural, criado e realizado por Márcia Magno, é o do Instituto de Química da Ufba, pintura realizada com tintas acrílicas, tendo com elemento centralizador da composição um típico sol medieval, que remete às origens da história da química, com sua energia térmica e belíssimo apelo visual carregado de simbolismo.

Observe-se o plano de fundo do mural onde ela cria um arranjo abstrato geométrico, que remetem às suas gravuras e colorido das arraias, criando um contraponto. Esse sol apoiado no globo azul dialoga e atrai os outros elementos constitutivos, interferindo na sua disposição e ordenamento. Resulta, assim, em uma unidade plástica com os elementos compositivos que ao se combinarem resultam em uma composição harmônica, equilibrada e didática.

O Mural foi desenvolvido atendendo a um tema específico, no caso a história parcial da química, permitindo que o espectador consiga compreender e identificar-se com a obra. Enfim, esse é um prefácio da trajetória da professora Márcia de Azevedo Magno Baptista.

*O conteúdo assinado e publicado na coluna Olhares não expressa, necessariamente, a opinião de A TARDE

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Tags:

arte Biografia cultura brasileira escultura Muralismo

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