A natureza iluminada de Ingra Lyberato

No dia 24 de março deste ano, a atriz e escritora baiana Ingra Lyberato decidiu postar no YouTube imagens da viagem que fez ao Pantanal, em companhia do filho Guilherme, de 17 anos, dois meses antes.

O garoto, que mora com o pai em Porto Alegre, teve a oportunidade de conhecer de perto parte do santuário ecológico onde sua mãe tinha surgido para o país, como a Madeleine, de Pantanal, novela da extinta Rede Manchete – que vai ganhar remake da Rede Globo em 2021).

Há 30 anos, a novela de Benedito Ruy Barbosa conseguiu liderar a audiência no horário nobre da televisão, com imagens belíssimas de uma natureza tão desconhecida como boa parte do elenco da trama. E cenas de nudez, quando isso ainda era um tabu.

A viagem, feita antes das imagens de animais e árvores consumidas pelo fogo durante queimadas, foi a uma região mais protegida, de difícil acesso, às margens do rio Negro, onde a novela foi filmada. “Eu gosto de mostrar lugares importantes ao meu filho. Ainda quero levá-lo à Amazônia”.

Os dois foram hóspedes na fazenda do cantor Almir Sater, colega de elenco de Ingra na novela, que acabou virando um amigo. Ingra segue descobrindo e ensinando coisas ao filho e a si mesma.

Depois do livro de estreia O Medo do Sucesso, de 2016, em que fez um processo público de terapia, chegando a conclusões de por que se afastou das telas, a atriz volta com tudo.

Há cinco anos assinando Lyberato com Y, por conta da numerologia, e há oito de ter se aproximado do xamanismo, Ingra tem pregado constantemente a favor da preservação ambiental.

O contato com a natureza lhe traz a sensação de comunhão espiritual. Um contato que ela tem desde a infância. Filha do cineasta Chico Liberato e da roteirista e poeta Alba Liberato, Ingra cresceu em um sítio perto da Avenida Paralela. “Eu creio muito mais em Deus na beira de um rio do que dentro de um espaço de concreto”, afirma.

Em um vídeo publicado no Facebook, sob o impacto do veredito de “estupro culposo” dado por um juiz catarinense, a atriz faz uma alegoria entre os casos de violação feminina e a violação da vida em todas as suas formas.

“Será que não percebemos que destruir florestas e deflorar é a mesma coisa?”, questiona no vídeo, chamando a atenção para uma indústria de produção alimentar que “mata e envenena o que distraidamente levamos para casa”.

Crueldade

Vegetariana, Ingra não considera que alguém seja superior por não comer carne, mas critica a crueldade a que animais, como bois e galinhas, são submetidos antes e durante o abate.

Ela considera que o mais importante agora é que a humanidade pare de agredir o meio ambiente: “Daqui a pouco não haverá mais essa casa”.

A atriz declara que, às vezes, sente-se confortada ao imaginar que a espécie humana será destruída antes de destruir o planeta, mas lamenta que se abra mão de viver “em um paraíso como esse”.

E o trabalho tem que continuar. No ano passado, Ingra gravou três longas-metragens, todos ainda inéditos. Em A Batalha de Shangri-la, rodado em Cuiabá, interpreta a mãe biológica que se reencontra com o filho após a morte dos pais adotivos.

Ela aparece ainda em duas produções gaúchas: À espera de Liz e Além de nós, com Thiago Lacerda. Ingra também deve aparecer na nova novela da Record, Gênesis.

Durante a pandemia, tem usado a internet para recitar trechos de O medo do sucesso para os fãs. E também já começou a comercialização virtual do segundo livro, A natureza oculta iluminada, em que usa três personagens fictícios para reproduzir experiências reais de sua própria vida e falar de autoconhecimento e espiritualidade.

A atriz, que se recolheu por um tempo, segundo suas palavras por medo de enfrentar o sucesso, está cada vez mais à vontade em dar-se a conhecer.