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16/06/2024 às 9:00 - há XX semanas | Autor: Gilson Jorge

POLÍTICA

A reação nos EUA à possível eleição de um condenado à presidência

A TARDE ouviu dois baianos residentes nos Estados Unidos e um professor que morou três anos na Bahia

Imagem ilustrativa da imagem A reação nos EUA à possível eleição de um condenado à presidência
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O jornalista americano Alexander Burns é co-autor do livro This will not pass: Trump, Biden, and the battle for America's future, publicado em 2022, dois anos depois que o republicano Donald Trump perdeu a reeleição para o democrata Joe Biden. Em tradução livre do inglês, o título do livro é algo como "Isso não vai passar: Trump, Biden e a batalha pelo futuro dos Estados Unidos da América".

Com os dois líderes prestes a se enfrentar em nova eleição, em novembro deste ano, e com a chance real de o republicano ser eleito, mesmo após sofrer 34 condenações pela justiça americana, Burns escreveu na última terça-feira um artigo no site politico.com, indicando que o primeiro-ministro do Canadá, Justin Trudeau, estaria se preparando para a possibilidade de uma violenta luta no poderoso vizinho nos próximos anos, como resultado da polarização política. Um cenário descrito no filme Guerra Civil, com o astro baiano Wagner Moura, que chegou aos cinemas este ano.

Mas como os Estados Unidos encaram, de fato, a possibilidade inédita da eleição à presidência de um candidato condenado e que, eventualmente, pode estar preso ao tomar posse? Um cenário impossível no Brasil, de acordo com a legislação nacional. O presidente Lula, por exemplo, foi impedido de concorrer em 2018, por causa da Lei da Ficha Limpa, e só pôde entrar na disputa em 2022, após suas condenações serem anuladas pela justiça.

Para discutir como a sociedade americana reage à chance de ter um presidente condenado ou presidiário, A TARDE ouviu dois baianos residentes nos Estados Unidos e um professor que morou três anos na Bahia, acompanha a política brasileira e é defensor da Ficha Limpa.

Nos Estados Unidos, o presidente eleito não precisa necessariamente vencer a votação popular. Ganha quem conquistar os votos de 270 delegados do colégio eleitoral em um total de 538 delegados. Estado mais populoso, a Califórnia tem direito a 54 delegados. O candidato mais votado pelos californianos leva todos os 54 representantes, mesmo que tenha vencido por uma diferença mínima de votos. Na prática, os democratas costumam ganhar bem ali. Mas, se um candidato independente vencer em um estado tradicionalmente ‘democrata’, como o Maine, e levar seus quatro delegados em uma disputa nacional acirrada, pode beneficiar Trump.

Estima-se que as condenações tenham pouco efeito em estados historicamente democratas ou republicanos. A questão é até que ponto as decisões judiciais podem interferir nos chamados "swinging states", os estados que podem dar vitória a democratas ou republicanos.

O baiano Luciano Tosta vive há 27 anos nos Estados Unidos e morou em diferentes regiões do país, o que lhe ajuda a ter uma visão mais ampla da sociedade estadunidense. Professor de Estudos Culturais e diretor do Centro de Estudos Globais e Internacionais da Universidade de Kansas, Tosta não acredita na possibilidade de que a polarização política evolua para uma secessão.

Ao contrário, o acadêmico vê um cansaço do eleitorado em relação às contendas que levaram a divisões familiares quando Trump derrotou Hillary Clinton em 2016. Em seus círculos sociais nos Estados Unidos, por exemplo, o professor baiano não vê mais a circulação de mensagens via WhatsApp contra um político, diferentemente dos amigos brasileiros, que ainda divulgam conteúdos contra Lula ou Bolsonaro.

Sobre o efeito da situação jurídica do republicano nas intenções de voto, o professor baiano considera que quem está decidido a votar nele não deve ser influenciado nem mesmo por uma eventual prisão. "O eleitor de Trump é cego, não está nem aí. O pessoal acha que ele é um santo", afirma Tosta, que acredita nas chances de vitória do republicano, em função da debilidade da imagem de Biden, em função de seus lapsos de memória e de algumas falas incongruentes.

Entretanto, o professor admite que o processo contra Trump pode, sim, ter efeito nos "swinging states", porque para o público conservador que não é necessariamente trumpista as condenações pesam. "O americano acredita na justiça. Não existe nos Estados Unidos uma narrativa contra a Corte Suprema, como a gente tem aqui contra o STF", pontua Tosta.

Diretora de programas para o Brasil da ONG estadunidense Amazon Watch, a baiana Paula Vargas considera que o risco de uma secessão nos Estados Unidos existe desde a Guerra-Civil (1861-1865), quando os estados do sul, de economia agrícola, quiseram se separar da Costa Leste, mais industrializada e defensora da abolição da escravatura.

Mas Vargas não acha que a atual polarização do país tenha um caráter geográfico. "É uma cultura do nós contra eles, que opõe mulheres contra homens, héteros contra homos, conservadores contra liberais", afirma a baiana, para quem a polarização só interessa à extrema-direita.

Sobre os processos judiciais enfrentados pelo ex-presidente, a ambientalista considera que essa é uma vantagem para quem está do lado oposto ao extremismo de direita. "De fato, as acusações e a condenação de Trump afastam dele o eleitorado conservador moderado", avalia a ambientalista.

Vargas, que vive nos Estados Unidos há seis anos, sempre na democrata Califórnia, não sente a força de Trump nas ruas, mas declara temer que Biden perca votos da juventude pelo seu apoio ao, nas suas palavras, "genocídio do povo em Gaza e a tomada de território" por Israel.

A ambientalista ressalta que o voto jovem que ajudou a derrotar Trump em 2020 pode migrar parcialmente para candidatos alternativos, como o independente Robert Francis Kennedy Jr., ou a chapa feminina e socialista Claudia de La Cruz/ Karina Garcia, do Partido pelo Socialismo e Libertação. Ou simplesmente não vá votar. "Um dos fatores para vitória de Biden em 2020 foi o voto juvenil", declara Vargas, que vê no aumento da inflação outro fator que pode atrapalhar a reeleição do democrata.

Professor do Centro de Estudos Latino-americanos da Universidade do Arizona, o colombiano Alberto Arenas morou em Salvador entre 1990 e 1992 e acompanha a política brasileira. Ele explica que a diferença entre os sistemas judiciários dos Estados Unidos e do Brasil reflete as tradições anglo-saxônica (common law) e romano-germânica (civil law), respectivamente.

"Na tradição anglo-saxônica, há uma forte ênfase na proteção dos direitos individuais e na presunção de inocência. Na tradição romano-germânica, o Estado tem um papel mais forte e proeminente na regulação e administração da justiça", compara o professor Arenas, pontuando que o sistema romano-germânico pode ser mais restritivo e explícito na perda de direitos políticos após condenações.

Arenas elogia a Lei da Ficha Limpa, vigente no Brasil, por promover maior ética na política e impedir que pessoas com histórico de condenações criminais se candidatem a cargos públicos. "Infelizmente, no contexto dos Estados Unidos, adotar uma lei semelhante enfrentaria desafios constitucionais, porque qualquer lei que restrinja a elegibilidade presidencial possivelmente exigiria emendas à Constituição do país", destaca o professor.

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