Menu
Pesquisa
Pesquisa
Busca interna do iBahia
HOME > MUITO
Ouvir Compartilhar no Whatsapp Compartilhar no Facebook Compartilhar no X Compartilhar no Email

MUITO

A rotina de dom Emanuel D’Able do Amaral durante o isolamento social

Por Gilson Jorge

24/08/2020 - 6:00 h
O religioso dedica parte do tempo livre à leitura | Foto: Rafael Martins | Ag. A TARDE
O religioso dedica parte do tempo livre à leitura | Foto: Rafael Martins | Ag. A TARDE -

Três semanas antes de colocar o Brasil inteiro de joelhos com um colossal 7 a 1, na Copa de 2014, a seleção alemã jogou em Salvador contra os nossos colonizadores portugueses. Pouco católica, a Alemanha aplicou impiedosos 4 a 0 sobre a seleção lusitana, na Arena Fonte Nova. Horas antes da partida, a chanceler alemã Angela Merkel, que veio prestigiar os compatriotas futebolistas, visitou um dos principais legados culturais de Portugal na primeira capital do Brasil: o Mosteiro de São Bento.

Filha do teólogo e pastor luterano Horst Kasner, Merkel fez questão de marcar a visita não oficial com um mês de antecedência e longe de autoridades locais, a um dos primeiros mosteiros construídos fora da Europa da Terra Santa (atual Oriente Médio e norte da África).

Em conversa com o arquiabade do mosteiro, dom Emanuel d’Able do Amaral, a maior autoridade de um dos países com a maior quantidade de construções medievais, manifestou encantamento. “Ela ficou impressionada com a antiguidade do mosteiro, o acervo e as jovens vocações”, diz ele.

Bento de Núrsia (480 d.C.-547 d.C.), fundador da Ordem de São Bento, é considerado patrono da Europa e, particularmente, da Alemanha. O papa emérito, o alemão Joseph Ratzinger, adotou o nome Bento XVI ou Benedito XVI. E o Mosteiro de São Bento em Salvador é considerado herdeiro milenar do monge.

Primeira grande edificação fora dos muros da Velha São Salvador, que originalmente terminava no terreno onde hoje está a Praça Castro Alves, o Mosteiro de São Bento começou a ser construído em 1582, ou seja, 33 anos depois da fundação da cidade. Passou por reformas e inclui um gigantesco patrimônio arquitetônico, artístico e cultural, incluindo um colégio, uma faculdade e uma biblioteca com cerca de 300 mil títulos.

A ordem dos beneditinos também traz consigo legados imateriais. Com seus mosteiros em áreas rurais do antigo Império Romano, que englobava toda a Europa Ocidental e o norte da África, os beneditinos criaram um vínculo especial com as artes. E por decisão do imperador Carlos Magno, a ordem passou a estar diretamente sob a autoridade do papa, condição posteriormente estendida às congregações beneditinas criadas nas colônias ao redor do Novo Mundo.

“Invadir um mosteiro beneditino equivale a invadir território do Vaticano”, explica dom Emanuel, ao comentar por que durante a ditadura militar no Brasil oponentes ao regime que eram perseguidos pela polícia encontravam abrigo no mosteiro por horas ou dias, até decidirem que rumo tomar.

Retomada

A rotina dos monges beneditinos começa todos os dias às 5h15 com uma oração coletiva e segue com orações individuais, uma missa e períodos de meditação. No início da noite, há o momento de recreação, e às 19h40 o mosteiro entra em silêncio absoluto. Aos domingos, às 10h, acontece a tradicional missa com canto gregoriano. O acesso ao público, interrompido com a quarentena, deve voltar quando a prefeitura autorizar a terceira fase da retomada das atividades.

Dom Emanuel dedica parte do seu tempo livre à leitura. “É o meu hobby. A Bahia tem excelentes historiadores e escritores. Gosto de saber mais sobre o estado”, afirma, citando Luiz Henrique Dias Tavares e o amigo Fernando da Rocha Peres entre os favoritos.

Nascido em São Paulo, iniciou-se na vida religiosa aos 20 anos, fez o mestrado em Roma e morou no Paraná antes de assumir o mosteiro, logo após a conclusão da última grande reforma no conjunto arquitetônico do mosteiro.

Autor do livro Introdução à História Monástica, dom Emanuel é desde 2009 o ocupante da cadeira 37 da Academia de Letras da Bahia. A mesma cadeira que pertenceu ao ex-governador Antonio Carlos Magalhães, morto em 2007.

Para o historiador Fernando da Rocha Peres, também acadêmico, dom Emanuel ampliou a inserção do mosteiro na vida cultural de Salvador. “Por esta razão, lembrei seu nome ao Conselho de Cultura do Estado da Bahia para ser homenageado como quem mais se destacou no ano de 1996”.

O escritor lembra que, além de administrar o mosteiro, dom Emanuel foi durante 12 anos o presidente da Congregação Beneditina do Brasil: “Ele deu assistência pessoal a 20 mosteiros do país, do Acre à divisa com a Argentina, em Santa Rosa (RS)”.

Aos 63 anos, dom Emanuel preocupa-se com a crescente divisão política da sociedade, mas não acredita que o Brasil repita 1964.

”Os militares não querem um golpe. Há um ou outro com pensamento mais antigo, mas no geral não querem”.

Sobre as declarações do presidente da CNBB, dom Walmor, que emitiu uma nota qualificando o aborto como crime hediondo, após a tentativa de alguns religiosos de barrarem a interrupção da gravidez em uma menina de 10 anos, vítima de estupro, o líder da Ordem contemporiza: “Precisava ver se a família da menina é católica. Como o Brasil é majoritariamente católico, às vezes, o padre, o bispo, fala algo para os fiéis achando que fala para o todo da sociedade”.

Dom Emanuel traça um paralelo com a tentativa do falecido cardeal primaz do Brasil dom Lucas Moreira Neves, então recém-chegado a Salvador, de barrar o Carnaval na Quarta-feira de Cinzas. “A pessoa que é católica sabe que aquele dia é para outra coisa (o início da quaresma). Mas quem não é segue sua vida, do jeito que quer”, pontua.

Compartilhe essa notícia com seus amigos

Compartilhar no Email Compartilhar no X Compartilhar no Facebook Compartilhar no Whatsapp

Siga nossas redes

Siga nossas redes

Publicações Relacionadas

A tarde play
O religioso dedica parte do tempo livre à leitura | Foto: Rafael Martins | Ag. A TARDE
Play

Filme sobre o artista visual e cineasta Chico Liberato estreia

O religioso dedica parte do tempo livre à leitura | Foto: Rafael Martins | Ag. A TARDE
Play

A vitrine dos festivais de música para artistas baianos

O religioso dedica parte do tempo livre à leitura | Foto: Rafael Martins | Ag. A TARDE
Play

Estreia do A TARDE Talks dinamiza produções do A TARDE Play

O religioso dedica parte do tempo livre à leitura | Foto: Rafael Martins | Ag. A TARDE
Play

Rir ou não rir: como a pandemia afeta artistas que trabalham com o humor

x