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CRÔNICA

A tela sem fronteiras

Antonia Damásio*

Por Antonia Damásio*

16/02/2025 - 5:00 h
Imagem ilustrativa da imagem A tela sem fronteiras

Com o advento do streaming, o acesso aos filmes, documentários, animes do mundo inteiro, foi facilitado. Todos assistem ao mesmo tempo os mesmos seriados, comentam entusiasmados a evolução dos episódios. Uma versão mais deletéria da cultura de massas. Coisa difícil era assentar no refeitório e nada saber sobre Game of Thrones. Ser outsider ou não pegar no compasso tem seus contratempos.

Uma questão de timing. Demorei para engatar as marchas. Engatinhei tardiamente e só dei os primeiros passos com um ano e cinco meses. Foram 27 aulas para dirigir com pouca confiança. Preferia o acostamento, a estrada vicinal. Se o início foi tortuoso, os próximos capítulos foram de glória. Quantos de vocês já fez curso de direção ofensiva com a equipe da SWAT? É verdade que não sou fã do piseiro, mas não posso dizer o mesmo da pisada.

Quando descobri as alegrias de Seinfield, entendi que não havia sincronia entre o mundo das telas e a minha alma expectante. Sou maestrina da defasagem. Acompanhei as desventuras de Friends com uma década de atraso. Nos compromissos e nas consultas costumo ser pontual.

Ainda outro dia descobri um seriado que me entreteve seriamente. A produção escandinava tem parte importante da minha atenção. Gosto da maneira como apresentam suas mazelas na dramaturgia. Aprecio o estilo nórdico de revelar a desordem das relações, numa casa impecavelmente organizada. A nossa lente latina acredita que o pensamento divergente habita um guarda-roupa caótico. A cozinha é uma caixinha de surpresas.

Além de notar que a comida era gostosa, quando em Gotemburgo, mamãe reparou que as mulheres mais velhas tinham parceiros muito mais jovens, o que amplia consideravelmente os horizontes intercontinentais. No entanto, onde quer que vamos, levamos nossa mochila cultural. Os contrapesos e os medos nos seguem juntamente.

Cambiemos, mas sem perder a perspectiva de futuro. No fim do ano, elucubrações sobre como gastar o montante da mega rende muita polêmica e risadas. Ainda outro dia, na academia, uma mulher madura exclamou:

– Se ganhar no sorteio da virada, vou ser a velha da lancha!

Rimos muito e eu fiquei imaginando por que raios eu gastaria com um jovem desconhecido? E se fosse conhecido, eu gostaria?

A gente se pensa descolado, mas percebe, retrospectivamente, que não é tanto assim. Nas primícias da minha juventude houve momentos em que me dei conta da minha dificuldade em me relacionar com moços ligeiramente mais jovens. E nem se falava em lancha. Era o tempo do jet ski. A diferença etária nem era tão expressiva, mas a sombra materna lhes sobrepujava. Quase todos filhos de mães fálicas. Cronos devorou seus filhos e eu não seria devorada por uma sogra malvada. Aquela capa do livro de Lacan assombrava minha timeline.

Naquele tempo não imaginávamos que a pirâmide etária do Brasil seria subvertida. A expectativa de vida foi se alongando e postergando as aposentadorias. As mulheres vivem mais que os homens. E os homens, vivem melhor que as mulheres? Penso que as avaliações qualitativas falam melhor sobre nós. E é precisamente neste ponto que o nó desata.

Vivemos num momento muito peculiar da história. Filhos convivem com os pais, avós, bisavós. A perspectiva intergeracional amplia nossos horizontes. Ao mesmo tempo, uniões de décadas declaram sua decadência. Novos arranjos a vista e desarranjos, juntamente. Seja como for, não é preciso ser milionário para tentar a sorte no amor, visto que é um livre perde/ganha. Parece mais equilibradamente rentável que lançar a sorte nas jogatinas, ou num passaporte. Dominó é para quem não tem malícia e sabe contar as pedras. Que elas rolem, e não despertem o Sísifo adormecido em nós.

*Psicanalista

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