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Amadeu Alves: Ganhadeiras de Itapuã devem fazer valer essa oportunidade

Por Gilson Jorge

17/03/2020 - 12:54 h
O itapuãzeiro Amadeu Alves fala sobre os projetos das Ganhadeiras
O itapuãzeiro Amadeu Alves fala sobre os projetos das Ganhadeiras -

Na sexta-feira passada, 13, o grupo Ganhadeiras de Itapuã completou 16 anos de existência. E a festa vem desde a Quarta-feira de Cinzas, quando a Escola de Samba Unidos da Viradouro foi declarada campeã do Carnaval do Rio de Janeiro com o enredo em homenagem à história das ganhadeiras históricas do bairro mais cantado de Salvador. A fama trouxe ânimo para projetos de expansão das atividades que já estavam nos planos. Nesta entrevista, o coordenador do grupo, Amadeu Alves, fala sobre a intenção de construir uma sede para as Ganhadeiras e usar a marca para consolidar programas de economia criativa em Itapuã, além de falar sobre a Casa da Música, da qual é o coordenador desde 2007, e a revitalização do bairro.

Como está o planejamento para este ano, após a visibilidade que veio com o título da Viradouro?

Muda tudo. Foi um divisor de águas. Daqui para a frente é desafiador e com grandes oportunidades de crescimento. A informação da existência dessa cultura chegou de uma maneira muito potente não só para quem não conhecia, mas até para quem conhecia. De uma certa forma, até para o grupo mesmo, muitas coisas se revelaram a partir de toda essa pesquisa feita pela Viradouro. A gente, de uma certa forma, começa a entender mais a dimensão de todo o contexto da história das ganhadeiras e essa expansão, a consolidação de um nome. E isso tanto para a comunidade quanto ao povo pelo Brasil afora, o mundo afora. Então, o planejamento agora está sendo feito também. Já existem metas do grupo, como a criação da Casa de Ganho, que é uma coisa antiga, a necessidade de ter uma sede, de poder transmitir esses saberes das senhoras. Muitas delas já estão mais velhinhas. E isso se perpetua com novos atores, crianças que estão no grupo hoje, que daqui a 50, 60 anos vão ser as senhoras. Pelo que a gente vê, percebe-se que a história vai ser levada adiante. Existe todo um indicativo que sim.

Você vê nas pessoas o desejo de querer continuar...

Sim. Ao longo desses 16 anos foi feito sempre um trabalho de levar essa cultura para as escolas, os diversos lugares, principalmente o contato com as crianças, esse encantamento das Ganhadeiras foi sendo disseminado. De uns três anos para cá, as escolas municipais passaram a ter no seu planejamento essa história sendo transmitida para as crianças. Então, a gente já nota que as crianças desde pequenas estão tendo esse contato. A gente esteve em Alagados, em Itinga, a gente teve a oportunidade de ser convidado para eventos e viu as crianças já cantando as músicas das Ganhadeiras. Isso aí já vem sendo plantado. Agora, é também um planejamento para expandir o grupo cultural das Ganhadeiras, que é basicamente um grupo de música, samba e performance teatral. Hoje tem a possibilidade de alçar novos voos Brasil afora e mundo afora.

Com outras linguagens artísticas?

As outras expressões virão a partir dessa escola, do que deve ser criado a partir da sede das Ganhadeiras. Hoje é basicamente um grupo artístico, mas tem um potencial muito maior. É como se ainda estivéssemos acionando 30% do potencial, ou menos, talvez. São possibilidade de projetos sociais e é uma responsabilidade também grande, né? É preciso fazer valer agora mais do que nunca essa oportunidade.

Que projetos você visualiza?

Acho que tem que se consolidar e não pode se perder a ligação com a essência. O que nos motivou a fazer esse movimento? Foi justamente manter a tradição. Apurar o que é essa tradição e fazer a transmissão do conhecimento: o que é a história dos índios daqui desse lugar; o que é a história desses pescadores, dessas outras contribuições culturais que vieram, além-mar, também para cá. Um dos projetos é uma escola que tenha culinária, artesanato, bordado, música, dança e, a partir daí, também fazer um trabalho que pode ser também social. Uma ganhadeira é uma mulher que faz bolinho, cocada ou qualquer coisa para vender de porta em porta. Ontem mesmo eu encontrei uma e falei: você é uma ganhadeira. Pense em melhorar esse atrativo. Como é que essas ganhadeiras faziam? Precisavam ter o produto e ainda um apelo de venda, de chegar ao cliente. Isso vai pelo visual, pela forma de mercar o produto. Hoje em dia a gente vê menos, mas há pouco tempo havia meninas vendendo queijo coalho nas praias, e eu sempre via nessas pessoas uma expressão assim, de como isso foi degenerado. O próprio grupo das Ganhadeiras pode criar um projeto que seja de qualificação, geração de renda, da figura da ganhadeira, seja aqui no Abaeté, atendendo turistas, trazendo algum produto com esse perfil. Então, são várias coisas aí. A minha área mesmo é a música e essa ligação com o ambiente local. Há quatro pessoas que trabalham na direção (Jenner Salgado, Ivana Muzenza, Salviano Filho e Edvaldo Borges).

Já há contato com outras instituições que sejam parceiras? Algum lugar em vista para ser a sede?

O ideal é que seja aqui no Abaeté. Tem alguns lugares aqui com espaço para construção. Aí tem que ter terreno, projeto e o recurso para construir o espaço. Ontem mesmo [dia 9/3] houve uma sessão na Câmara de Vereadores, elas foram homenageadas, receberam medalha de honra ao mérito e lá se falou bastante sobre a necessidade da sede. O governador está sabendo. O prefeito está sabendo. Temos aí a iniciativa privada. É uma coisa que o grupo está batalhando para que aconteça. Por onde vem, como vem, acho que é uma coisa que vai se apresentar agora.

São quantas pessoas no grupo?

Já chegou a ter mais ativamente 19 senhoras. Umas mais idosas, outras menos. Hoje, temos um grupo de 10 cantoras, mas um grupo de 10 sambadeiras, mais 10 músicos e 10 crianças; 40 pessoas. Isso oscila de acordo com a atividade que se vai fazer. A gente viajou para São Paulo para fazer no Sesc Pompeia apenas com oito pessoas. Não é o ideal, mas se consegue contar essas histórias. Normalmente, um show envolve pelo menos umas 20 pessoas.

Os músicos têm suas carreiras. As senhoras, o que fazem ao longo do ano? São pessoas aposentadas, que têm esse perfil. Tem as mais novas, algumas são baianas de acarajé, algumas trabalham com shows, cantando, dançando, basicamente é em torno disso.

Como foi a seleção das pessoas?

O início foi a partir de minha ideia de fazer um trabalho para manter as tradições do bairro. Conversei com algumas e elas foram chamando as outras, e a gente foi formando um grupo com as pessoas que tinham que ser mesmo. Dentro do grupo, vimos quem tinha mais aptidão para cantar, outras que eram mais para sambar, tem quem tira versos e isso foi feito de uma forma bem natural. Com o tempo, uma ou outra pessoa foi se destacando no que sabia mais fazer, mas não houve testes, foi pela amizade, pela sintonia com a história de Itapuã. Um trabalho que começou com o Grita (Grupo de Revitalização de Itapuã), desde 1997. O Grita durou quatro anos. A gente ia se encontrando nas festas, nos presentes para Iemanjá, para Oxum, a Festa de São Tomé. Várias oportunidades em que a gente foi se reconhecendo no processo. Foi espontâneo.

Itapuã tem essa característica de ter ficado famoso por ser um bairro bucólico. A cidade como um todo perdeu aquela tranquilidade, mas até hoje vem turista ao bairro tentando pescar um pouco daquela imagem cunhada por Caymmi, Vinícius... o que pode ser feito através da cultura para revitalizar Itapuã?

Na época do Grita, identificamos que tinha muita gente boa na área da música, das artes plásticas, do teatro, da cultura popular. A gente via que estava ali, mas não havia um movimento, como hoje já tem. A ideia do Grita era juntar essas pessoas e mostrar que existe uma arte. Um potencial para se pensar Itapuã, compor sobre Itapuã, pintar sobre Itapuã. O artesanato de Itapuã. A gente pegava e ia para as praças e cada um levava seu talento. A gente realizou alguns eventos. Isso manteve a chama acesa de uma coisa que estava se apagando, a chama de ser itapuãzeiro. Caymmi conseguiu evidenciar Itapuã com o povo de Itapuã e deixou uma marca com as canções praieiras. Vinícius talvez não tenha se envolvido tanto com o povo, mas ele também conseguiu captar um pouco dessa beleza. Caetano e outros também. Através disso, a gente conseguiu desenterrar o que estava sendo enterrado vivo, nossa raiz, e a coisa começou a fertilizar a mente das pessoas. Através da arte, conseguimos fortalecer uma cultura mais antiga do bairro que estava quase se esvaindo. Hoje, é continuar propondo uma arte de Itapuã mesmo. Consolidar mais ainda o que as Ganhadeiras fizeram, a marca. Itapuã tem história, tem tradição, fundamentos ancestrais. Através da cultura, a gente pode gerar conteúdos, atrativos para visitantes. A beleza natural da APA do Abaeté. Isso pode ser potencializado com eventos culturais.

Qual a periodicidade dos luaus na Lagoa do Abaeté?

Varia um pouco em função do tempo. Hoje [dia 10] estamos aqui esperando para ver se vai ser possível fazer na área externa. O ideal é que fosse toda lua cheia, mas nem sempre dá. Pelo menos de três em três meses, a gente tem um. Ou seja, pelo menos quatro luaus por ano.

A Casa da Música (antigo Museu da Imagem e do Som do Abaeté, inaugurado pelo governo estadual em 1993) já tem seu público cativo para os saraus. Mas e quem quiser se chegar? Como curtir Itapuã?

A programação da Casa da Música vai além dos saraus, tem oficinas, os luaus, bate-papos musicados, fogueira filosófica, várias atividades que acontecem, caminhadas pelas dunas. E falar sobre Itapuã é uma combinação de fatores. A pessoa tem que saber o lugar, o efeito natural quando se tem uma lua cheia, o pôr do sol com o nascer da lua, você associa isso a um ingrediente cultural. Os encantos estão aí, agora precisa essa associação. Às vezes, a gente precisa de alguém que revele isso. É o papel do guia, revelar não só o ambiente físico, mas algum fator que potencialize isso.

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