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Angela Trad: "O eneagrama é um presente para a humanidade"

Por Daniel Oliveira

04/06/2018 - 9:55 h | Atualizada em 04/06/2018 - 11:25
A psicóloga Angela Trad descobriu os eneagramas depois de um acidente de trânsito
A psicóloga Angela Trad descobriu os eneagramas depois de um acidente de trânsito -

Em 2006, a vida de Angela Trad, psicóloga, terapeuta ayurveda e coach em eneagrama, transformou-se completamente. Depois de um grave acidente de moto, entrou num profundo percurso de autoconhecimento. Foi nessa época que conheceu a figura geométrica milenar do eneagrama, de acordo com ela, mais ou menos por acaso. Interessou-se imediatamente e seguiu no processo de imersão no estudo das características dos nove tipos de personalidade e os seus vícios, a partir do sistema de pensamento baseado no símbolo: ira, orgulho, vaidade, inveja, avareza, medo, gula, luxúria, indolência. “Comecei a ler, me aprofundar e perceber que aquele acidente tinha muito a ver com a minha maneira de ser, a minha personalidade”, conta. Ela é muito cuidadosa ao explicar os detalhes do símbolo eneagrama, indica livros e convida, antes da entrevista, o repórter e o fotógrafo para assistirem a um vídeo exibido sempre em suas aulas. Formada em psicologia e psicodrama, em São Paulo, nos anos 1980, retornou quase 30 anos depois à capital paulista para fazer cursos de coaching em eneagrama para lideranças, nas escolas Iluminatta Brasil e UP9 Desenvolvimento Humano. Atualmente, faz palestras para grupos e consultoria de mapeamento de personalidade em empresas, além de atendimentos individuais. Nesta entrevista, ela descreve o funcionamento do eneagrama, expõe características dos tipos de personalidade e reflete sobre as maneiras que tal sistema pode ser aplicado para o autoconhecimento e na vida social.

O que é exatamente o eneagrama, uma prática terapêutica, um sistema de pensamento milenar ou um processo individual de autoconhecimento?

Diria que é tudo isso e mais um pouco. É um daqueles mistérios antigos, que ninguém sabe muito bem de onde veio, para onde vai, mas que existe e tem uma função libertadora para a humanidade. É filosofia, mas não só, é espiritualidade, mas não é religião. O eneagrama é parte de um conhecimento sagrado. Uma somatória do hinduísmo, cristianismo, islamismo, sufismo, budismo e leis herméticas. Um caldeirão com todas essas culturas. E o eneagrama, em si, é um desenho composto por nove pontos e que contém um conhecimento que explica até o movimento perpétuo contínuo de autorrenovação e as leis universais.

De que modo o eneagrama fornece elementos para o mapeamento e a explicação das características da personalidade?

Esse mesmo desenho explica como funciona a personalidade, como as leis universais se manifestam no ser humano. Traz informações a que nem todos têm acesso, porque pertence a uma sabedoria sagrada e também a uma psicologia sagrada. Nesse conhecimento você encontra o mapeamento de todos os tipos de personalidade, em que é definido qual é o mecanismo de defesa de que o seu ego se apropria como estratégia de vida. Então, é muito rico, profundo e complexo. O eneagrama é como se estivessem todos os que lançaram as pedras sobre o conhecimento da psique humana reunidos num só lugar. O desenho vai dar um ponto de partida a partir do qual você pode buscar, digamos assim, a aplicação do autoconhecimento. É metafísica, mas, tirando o lado mais místico, esotérico, o desenho do eneagrama vai dizer como se relaciona o ser humano e onde ele está localizado dentro do mapa, dentro desses vícios, das fixações egoicas, das paixões e qual é o tipo dominante da pessoa. A partir daí, ela pode começar um caminho de busca da cura, da libertação de uma programação automática que acaba desenvolvendo em função desse mecanismo de defesa. Não é destruir o ego, é tratar e curar, fortalecer. O eneagrama dá um caminho para você tratar o desvio egoico e procurar uma resposta criativa e espontânea do seu ser, da sua essência, que não está atrelada a uma reatividade da sua defesa.

Gostaria que apresentasse um exemplo de caracterização da personalidade.

A ira, que é o tipo 1. São pessoas perfeccionistas. Não são bravas, violentas, mas têm um foco muito mais voltado para o que consideram certo. Ou seja, não podem errar. Então, o perfeccionista busca sempre melhorar. Mas por que a ira? São pessoas que, ao mesmo tempo, têm uma tendência à baixa tolerância, realmente têm uma paciência mais curta com o que, para elas, está errado. A ira vem da história que muitas dessas pessoas tiveram obrigações na sua infância antes dos prazeres. Sempre foi primeiro a obrigação, o dever, e só depois a diversão, o brincar. E esse dever vem, em geral, associado a um amor. Quer dizer, você será amado se for um bom menino. Então, fica uma ideia de que, para ganhar o amor, é preciso ser obediente. E sou obediente com raiva. Eles tornam-se adultos focados, ao longo da vida, em cumprir primeiro a sua obrigação. São pessoas éticas, que no convívio social vão observar o que é justo para todos. Mas que se irritam muito quando as coisas saem erradas.

Entre os nove tipos de personalidade definidos pelo eneagrama, há um que é mais recorrente entre as pessoas hoje?

O eneagrama diz assim: não existe tendência de ser mais “assim ou assado”. Mas acho que o mundo hoje vive o tipo 3, da vaidade, do selfie. E isso ao ponto de as pessoas não terem mais noção dos limites, de perderem a noção do uso que esse material pode ser dado por pessoas mal-intencionadas na internet, no Instagram, no Facebook. É um momento de vaidade.

A Organização Mundial da Saúde (OMS) divulgou um relatório, em 2017, apresentando dados de que a quantidade de pessoas com depressão aumentou 18% entre 2005 e 2015. No Brasil, atinge 5,8% da população, enquanto a ansiedade, 9,3%. A aplicação do eneagrama, numa dimensão social, pode contribuir para o tratamento desses problemas de saúde mental?

Esses números precisam ser analisados mais especificamente. Mas, de antemão, penso como alguns psiquiatras antigos, que esse suposto aumento da depressão é um pouco exagerado. Existe depressão, sem dúvida, mas há também uma supervalorização da tristeza. Então, até quando pessoas próximas falam para mim: “Estou deprimido”, pergunto se está levantando para comer, tomando banho, etc. Muitas vezes, na verdade, estão tristes e sem condição de lidar com a sua frustração forte. O que tem mesmo é uma geração, de 40 anos para baixo, que teve dificuldade de lidar com o não. Não consegue lidar com as frustrações da vida e se entrega à tristeza. E vai logo pedir um medicamento, com um médico que também faz parte dessa geração. Existe uma supervalorização do estar bem. Uma falta de recursos da humanidade de lidar com os impedimentos. Quando você tira tudo isso talvez nem seja essa quantidade toda. E onde entra o eneagrama é quando estou vivendo a vida no meu vício. O tipo 7, a gula, adora viajar, foge dos momentos difíceis, procura uma novidade para ocupar a mente. E assim vai achando que está vivendo a realidade. Um belo dia não acontece o que ele espera e, se tem um estofo, já passou por um processo de autoconhecimento, olha para a realidade e passa por aquilo sem se entristecer e achar que é um momento de depressão. O eneagrama vai ajudar a ter a certeza de que existe a realidade objetiva, que não é essa fantasia. Quando a pessoa se conhece mais e sabe qual é o buraco dela, vai ter menos esses problemas. E, por outro lado, também acredito que o eneagrama deveria fazer parte do SUS (Sistema Único de Saúde), entre as práticas integrativas complementares (PICs). Tenho certeza de que os resultados seriam ótimos.

É possível evitar determinismos na definição dos tipos do eneagrama?

É importante falar que existem as raízes, os tipos, e daí surgem os subtipos. Se sou a luxúria, tenho como vizinha no eneagrama a gula e a preguiça. Tenho asas, como chamamos, tendências para visitar a preguiça e a gula. Esses são os subtipos. A pessoa que visita muito mais a gula vai dar um tipo de personalidade diferente de outra que visita mais a casa da preguiça. Fora isso, há outra questão, que é se usamos mais um instinto de autopreservação, social ou de um a um, na estratégia de vida. Essa estratégia, às vezes, diz mais sobre a personalidade do que o tipo. Isso junto dá em 108 nuances. E o determinismo existe, sim. Ele ajuda bastante a gente a diminuir o sentimento de culpa. Nem todo mundo tem. Mas, por exemplo, quando você começa a estudar o eneagrama, se identifica com um tipo, pensa “poxa, estou nesse vício” e pode se sentir culpado. Na minha experiência, a qual não posso generalizar, observei isso. Conheço muitas pessoas com o tipo gula, do signo de sagitário, que, na astrologia, é a tipologia da gula, e nasceram numa cidade altamente festiva como Salvador. Então você pegar um baiano, de sagitário, do tipo gula e dizer que ele precisa ser uma pessoa séria, comedida, é um crime. Ele vai se violentar a vida inteira para tentar ser uma pessoa que não é. Existe um campo energético, uma genética que favorecem para que a pessoa tenha aquela tendência. A gente chama de DNA da alma.

Qual foi o ponto de partida da sua relação com o sistema eneagrama?

Em 2006, sofri um acidente muito grave, perdi a memória, tive um traumatismo craniano e uma série de sequelas. E comecei a buscar a razão disso tudo, porque foi uma mudança drástica na minha vida. Isso me levou a uma experiência muito forte. E nessa busca de entendimento me bati com o eneagrama navegando na internet. Dizem que o eneagrama vem até você. Comecei a ler, me aprofundar e perceber que aquele acidente tinha muito a ver com a minha maneira de ser, a minha personalidade. O quanto o meu instinto de autopreservação estava debilitado, a ponto de permitir me colocar naquela situação de perigo. Estava dirigindo minha moto à noite em um lugar perigoso e em um horário muito ruim.

Como essa experiência pessoal e, em seguida, o contato com o eneagrama a levaram à decisão de fazer os cursos e trabalhar como eneacoaching?

Através disso tudo, de um ponto de vista pessoal, quando conheci o eneagrama, ele me deu pistas sobre a maneira como eu funcionava, de um modo mais profundo do que tinha descoberto com alguns anos de terapia. Vi a perfeição do sistema, da sabedoria e fiquei encantada. E, assim, busquei mais leituras, conhecimentos, os cursos, congressos, até fazer a capacitação como eneacoaching. Isso foi em 2008 e nunca mais parei. Entendi que, para a minha prática terapêutica, esse conhecimento do eneagrama encurtava alguns quilômetros.

A senhora também realiza trabalhos de mapeamento da personalidade em empresas e organizações. Isso, aliás, já é uma prática em diversos países. Como funciona?

No mundo corporativo, o eneagrama é utilizado em seleção, desenvolvimento de liderança, no trabalho em todas as linhas de relacionamento. Quando você vai aplicar um teste para um cargo que exige grande responsabilidade, é necessário ir mais a fundo. Você não pode tomar isso como uma verdade, “fulano é tipo tal, então serve para isso”, a tipologia como está escrita, é importante ter ética, conhecimento e cuidado na aplicação. Ter esses traços e essas tendências definidas ajuda a gente a direcionar quem é mais adequado para isso ou aquilo. O que não impede que todos sejamos adequados para tudo. Mas, se estou numa empresa e preciso de uma resposta sobre as pessoas que estão mais capacitadas para determinadas responsabilidades e tenho que levar em consideração uma coisa mais profunda do seu caráter, o eneagrama é uma boa ferramenta.

O eneagrama é baseado em elementos da geometria, da matemática, mas também do sagrado e até de algumas religiões. O que a senhora pensa sobre essa associação entre ciência e espiritualidade?

Sempre fui muito cética, até quando entrei na faculdade e comecei a ter sonhos reveladores. Entendi que havia alguma coisa do campo metafísico, que sairia do óbvio da ciência. E vou me distanciando dessa ciência pobre e materialista e me aproximando cada vez mais de Jung. E esse sagrado eneagrama não é místico e esotérico. Quando você estuda o eneagrama e enxerga como o mecanismo de defesa é deflagrado, percebe a perfeição como acontece. Ou seja, a personalidade que alguém assume quando está estressado ou não está bem. Isso é tão perfeito que o sagrado, para mim, está na origem disso, de onde veio. Na mecânica da coisa é científico. É palpável, quantificável. Dentro dele existe um sistema que explica como funciona a personalidade humana, como você pode se autoconhecer se quiser fazer esse caminho, as leis do universo. Uma série de utilidades que o sistema tem. O sagrado acaba sendo mesmo a origem dele. A minha visão pessoal é que o eneagrama é um presente para a humanidade, já que o ser humano é uma máquina que veio com emoção.

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