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FOTOGRAFIA

As conexões de Tacun Lecy com o Reino de Oió, na Nigéria

Tacun conheceu a cultura Oió em 2014

Por Gilson Jorge

06/04/2025 - 9:00 h
Fotógrafo foi documentar a assunção do Príncipe Abimbola Akeem Owoade I
Fotógrafo foi documentar a assunção do Príncipe Abimbola Akeem Owoade I -

Desde a sua conta no Instagram, o fotógrafo e pai de santo baiano Tacun Lecy começou a semana exibindo imagens da região de Oió (em iorubá, Òyó), na Nigéria, onde foi documentar a assunção do Príncipe Abimbola Akeem Owoade I como o novo Alafim, líder da dinastia que melhor representa o legado de Xangô.

A publicação de fotos foi uma promessa que fez aos amigos que colaboraram com a vaquinha online que permitiu a sua residência de um mês no outro lado do Oceano Atlântico, a convite de autoridades nigerianas, com parte da viagem bancada pelo Edital de Mobilidade Cultural da Secult, que forneceu R$ 20 mil ao projeto. Mas para fazer frente às despesas, foi necessário pedir ajuda aos amigos. "Só o visto custou R$ 3 mil e as passagens cerca de R$ 10 mil", conta o fotógrafo.

Tacun conheceu a cultura Oió em 2014, quando o então Alafim de Oió, Oba Adeyemi III, representante maior da Dinastia de Xangô na Terra, visitou Salvador. Naquele período, o fotógrafo iniciante registrou a visita das autoridades nigerianas e teve seu trabalho requisitado pelo governo regional de Oió para integrar um dossiê que seria enviado à Unesco, pleiteando o tombamento dessa região nigeriana e da Festa de Xangô, como patrimônio cultural da humanidade. "Em 2023, a Unesco concedeu o tombamento da festa. Em relação ao sítio, o processo está em andamento", conta o fotógrafo.

Tacun foi convidado em 2015 pelas autoridades locais a documentar a reconstrução dos templos de Oió. Mas não conseguiu recursos para a viagem. Anos depois, ele decidiu se candidatar a uma residência artística na Nigéria, o que só se viabilizou este ano, graças a uma vaquinha promovida por ele.

Agora, 12 anos depois, o fotógrafo realiza o sonho de conhecer esse território nigeriano, justamente quando acontece a passagem de trono em Oió, uma das dinastias mais importantes da África Ocidental e também um centro de tráfico de pessoas escravizadas e enviadas às Américas durante os séculos 17 e 19.

Ele ressalta que tanto no território histórico de Oió, quanto nas comunidades negras que se formaram na Bahia, a figura de Xangô extrapolou o culto religioso e se tornou parte do DNA cultural dessas regiões.

A aproximação de Tacun com Xangô é ainda mais antiga do que o seu encontro com o universo Oió. Data de 1999, quando ele começou a frequentar o Terreiro Raiz de Ayrá, em São Félix, uma casa de Xangô, da qual hoje é babalaxé, palavra iorubá que designa a pessoa responsável pela distribuição de axé no terreiro. Mas na volta à Bahia Tacun deve assumir a liderança do terreiro fundado em 1917. A ialorixá Mãe Mariá, que vinha adoecida, morreu no dia 29 de março, dia da viagem de Tacun à Nigéria, e o fotógrafo lhe rendeu homenagens através do Instagram.

Tacun iniciou sua caminhada na fotografia por acaso. Quando trabalhava no Instituto Mauá, no Porto da Barra, a instituição precisou registrar peças de seu acervo de artesanato e, como não havia recursos no orçamento para a contratação de um fotógrafo, alguém lhe entregou uma câmera e o incumbiu de fazer os registros.

"Até então, minha cachaça por esse viés artístico era a música”, conta o líder religioso, que toca guitarra profissionalmente desde os 14 anos de idade e mantém uma banda chamada Soldados de Ogum, que tem como foco a fusão dos sons de terreiro com a música eletrônica. "Eu estou produzindo um material com uma galera da França, que está vindo para o Instituto Sacatar. Quando eu voltar à Bahia vou estar com eles", afirma Tacun, que fica em Oió até o início de maio.

Uma das aspirações musicais do líder religioso é difundir a música sagrada dos terreiros na cultura pop. "É um canto que pode produzir outro tipo de transe nas pessoas que não são do Candomblé. A gente ouve tanto a música gospel e padres que cantam falando de Jesus. Eu entendo que as pessoas precisam conhecer essa outra perspectiva", afirma Tacun, ressaltando o lado cultural do Candomblé e que não é preciso ser do axé para frequentar um terreiro ou ingerir comida de santo.

Até o próximo dia 12, Tacun estará em tempo integral dedicado à cobertura fotográfica do processo de transmissão do cargo de Alafim, iniciado em 31 de março. O Alafim que veio a Salvador morreu em 2022, mas os ritos iorubanos de sucessão levam três anos.

"Além de ser indicado pelo conselho religioso, o novo Alafim tem que ser aprovado também pelo governo nigeriano", explica o fotógrafo.

Após sua estadia em Oió, Tacun deve passar uns dias realizando pesquisas nos estados de Ogum e Oxum, que também faziam parte do império iorubano, para avaliar elementos que dialogam com a cultura afro-baiana.

Em princípio, Tacun deveria ficar até o fim do próximo mês em Oió, mas teve que encurtar a estadia por razões econômicas. Uma das maiores economias da África e grande exportadora de petróleo, a Nigéria enfrenta um dos seus maiores ciclos inflacionários nas últimas três décadas.

Diferencial

Responsável pelo acervo fotográfico da Fundação Pierre Verger, onde Tacun trabalhou como técnico, o cineasta francês Alex Baradel elogia a fotografia do líder religioso baiano e ressalta a importância do seu envolvimento com o Candomblé, que lhe traz o diferencial de saber o que pode e o que deve ser registrado.

Baradel conheceu o trabalho de Tacun em 2016, quando fez a curadoria para o Espaço Verger da Fotografia Baiana, que a fundação criou no Forte de Santa Maria, no Porto da Barra.

"Eu achei o trabalho dele muito interessante até porque era uma pessoa que tinha um importante cargo no Candomblé e agora está ainda mais", destaca Alex, ressaltando que muitas vezes a fotografia no Candomblé por pessoas de fora do axé pode ser problemática.

Sobre a relevância do trabalho de Tacun o cineasta cita a viagem à Nigéria. "Quem mais que está aqui poderia viajar para documentar a consagração do Rei de Oió, que é ligado a Xangô?", questiona Alex, que também elogia a técnica do fotógrafo, como o seu processo de transformação de fotos coloridas em preto e branco.

"Ele está em um lugar em que poucos fotógrafos baianos podem estar. Ele é um fotógrafo muito talentoso, um músico muito talentoso e um grande comunicador", define Alex, ao se referir ao ex-estudante de Ciências Sociais que precisou interromper os estudos e agora cursa Geografia no Ifba.

Para colaborar com a temporada de Tacun na residência artística, é possível adquirir fotografias do catálogo Povo de Sangó - Diáspora e Ancestralidade Iorubanas, disponível no site tacunlecy.com.

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