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Autoras e autores da Bahia concorrem ao Prêmio Jabuti

Novos baianos passeiam por exitosas sendas das letras nacionais

Por Gilson Jorge

17/11/2024 - 18:00 h
A escritora e dramaturga Luciany Aparecida é uma das baianas no prêmio
A escritora e dramaturga Luciany Aparecida é uma das baianas no prêmio -

Um dia depois de receber o Prêmio São Paulo de Leitura, por seu romance Mata Doce (Companhia das Letras), na última segunda-feira, a baiana Luciany Aparecida retomou a sua recente rotina na capital paulista. Desde agosto deste ano, a escritora, que é doutora em letras, ensina Teoria Literária no Programa de Pós-Graduação em Literatura e Crítica Literária da Pontifícia Universidade Católica (PUC-SP).

Laureada no seu primeiro semestre na instituição, a escritora e professora teve uma terça-feira feliz e emocionada, mas paulistanamente comportada. Deu aula a manhã inteira, almoçou no bandejão da PUC, foi ao dentista, respondeu as mensagens de congratulação dos amigos, e no fim da tarde atendeu a reportagem de A TARDE por telefone.

Assunto não faltou. Mata Doce, um livro épico sobre uma tragédia que abate uma comunidade rural, concorre ainda ao Prêmio Jabuti 2024, o mais prestigioso da literatura nacional, juntamente com outro baiano, Itamar Vieira Júnior, com Salvar o Fogo. O estado também tem três finalistas em outras categorias do prêmio: Bárbara Carine (Educação), Denise Carrascosa (Inovação - Fomento à leitura) e Marcelo Veras (Saúde e bem-estar).

Novos baianos passeiam por exitosas sendas das letras nacionais. "A cena literária baiana sempre foi ativa", avalia a escritora e professora nascida no Vale do Jequiriçá, nordeste baiano, que se forjou como autora no programa Escritas em Trânsito, oficinas de escrita criativa da Fundação Cultural do Estado da Bahia (Funceb), que Luciany frequentou durante três anos, além de oficinas em universidades baianas e outra no Colégio Central, ministrada pelo escritor Cuti.

A carreira literária de Luciany, autora do livro de poemas Macala e da peça teatral Joanna Mina, também foi influenciada pela descoberta de uma autora baiana ainda na adolescência. "Uma tia me levou para passear em Salvador e comprou para mim em um sebo no Tororó o livro Mulher no Espelho, de Helena Parente Cunha. Quando li, fiquei impactada, porque até então eu tinha lido mais os clássicos", afirma a escritora, ressaltando que, além de Jorge Amado, a Bahia sempre teve escritores relevantes.

O escritor baiano  Itamar Vieira Junior também concorre ao Prêmio
O escritor baiano Itamar Vieira Junior também concorre ao Prêmio | Foto: Divulgação

Luciany aponta, entretanto, que o sucesso internacional de Torto Arado, de Itamar Vieira Jr, outro egresso das Escritas em Trânsito, abriu um novo leque de oportunidades para escritores locais. [O livro recebeu em 2018 o Prêmio Leya, categoria Romance, em Portugal. Dois anos mais tarde, foi agraciado com o Prêmio Oceanos, também em Portugal, e o Jabuti, de romance. Em 2022, ganhou o Prêmio Jabuti de Livro Publicado no Exterior. Este ano, o livro recebeu o Montluc Résistence et Liberté, na França]. "As grandes editoras compreenderam que existe um público maior para nossa literatura, independentemente de ser ficção ou não-ficção", pondera a escritora.

Das categorias do Jabuti em que há finalistas baianos, duas foram criadas este ano, Educação, onde concorre Barbara Carine (detalhes), e Saúde e Bem-estar, na qual figura o psicanalista e professor Marcelo Veras, um carioca radicado em Salvador, que levou três décadas para elaborar o livro A Morte de Si (Cult), um estudo sobre o suicídio e os sofrimentos humanos, a partir de suas experiências clínicas, das leituras de Freud e Lacan, da filosofia e das artes.

Veras afirma que o livro demorou tanto tempo a sair porque o que ele queria transmitir nele era muito mais o fruto de uma experiência do que de uma investigação acadêmica. "Eu queria realmente trazer o que foram esses anos e anos sendo atravessados por essas questões ligadas a essa fronteira tênue entre a vida e a morte", declara o psicanalista.

Na construção do texto, Veras precisou ser muito cuidadoso com a escolha das palavras para não correr o risco de ser mal interpretado em um assunto tão sensível. "É um tema que assusta as pessoas. Eu não queria que fosse um manual sobre o suicídio porque o livro desconstrói a ideia de manual", afirma o psicanalista.

O psiquiatra e psicanalista Marcelo Veras
O psiquiatra e psicanalista Marcelo Veras | Foto: Divulgação

Para conseguir as palavras que considera adequadas para o seu livro, e não correr riscos linguísticos, Veras recorreu à citação das histórias de pessoas que cometeram suicídio, como o compositor baiano Assis Valente, a poeta Ana Cristina César, a escritora Virginia Woolf e o poeta Torquato Neto. "São escritores que se mataram e deixaram uma carta de testemunho. Aí eu fui aprendendo as boas palavras", declara Veras.

Sobre o prêmio, o psicanalista ressalta a importância de estar numa lista de cinco finalistas que inclui um livro do também psicanalista Contardo Calligaris, morto há três anos. "Contardo foi um dos primeiros a tirar a psicanálise dos consultórios e levar para as ruas, para os jornais, pensar um pouco a psicanálise para o século 20 e agora o século 21", afirma o psicanalista, que assume sua posição na escrita do livro como influência do legado de Contardo.

O psicanalista declara que ficou surpreso ao ver seu nome na lista anterior, de semifinalistas. Quando foi sondado pela editora Cult sobre a possibilidade de concorrer ao prêmio, Veras imaginou que seu livro seria inscrito no Jabuti Acadêmico, cujo resultado saiu em agosto. Como não viu seu nome na lista, considerou o assunto encerrado. Quando foram publicados os nomes dos semifinalistas do Jabuti, Veras foi olhar por curiosidade e acabou surpreendido com sua presença na lista.

Na outra categoria estreante do Jabuti, a professora Bárbara Carine concorre com o livro Como Ser um Educador Antirracista (Planeta), lançado em abril de 2023. "O livro é um best-seller, há um ano e meio está como o mais vendido do Brasil em política educacional pelo Amazon, e ele quase não saiu dos primeiros lugares", celebra a educadora, ao informar que prefeituras e instituições educacionais têm comprado o livro e contratado palestras sobre o assunto.

"É um livro que tem circulado muito na formação de professoras e professores de diversos municípios. A Prefeitura de Pojuca comprou 600 exemplares do livro", conta Bárbara. Capim Grosso, na Bahia, e Rio das Ostras, no Rio de Janeiro, são outros municípios citados pela autora como compradores de exemplares.

A educadora vê uma abertura maior na sociedade para a discussão de temas como o antirracismo. "O crescimento das minhas redes sociais mostra isso", afirma a professora, cujo perfil no Instagram, Uma Intelectual Diferentona, conta com 535 mil seguidores.

Bárbara vê os bons números do livro e de suas redes sociais como um indicativo de que as pessoas estão se letrando no assunto. "É um sucesso em virtude de uma urgência", considera a educadora.

A escritora Barbara Carine
A escritora Barbara Carine | Foto: Divulgação

O livro é uma espécie de manual de como agir de uma forma antirracista, com ênfase no que os professores brancos podem fazer, como reagir em sala de aula diante de um episódio de racismo, como pensar em práticas antirracistas e, naturalmente, como ser um educador antirracista, uma mensagem destinada a professores e familiares dos alunos.

Na categoria Inovação - Fomento à leitura, a Bahia é representada pelo projeto Corpos Indóceis e Mentes Livres, um curso de extensão criado em 2010 pela professora de literatura da Universidade Federal da Bahia (Ufba), Denise Carrascosa, que começou com oficinas de criação literária para mulheres presas no Conjunto Penal Feminino, Complexo Penitenciário de Mata Escura. Em 2012, surge uma biblioteca comunitária no mesmo lugar.

"A tese de doutorado que eu defendi em 2009 foi sobre a literatura que vinha das prisões, que virou o livro Técnicas e políticas de literatura e prisão no Brasil pós-Carandiru", explica a professora, que também é formada em direito. Com a defesa da tese, Denise observou que após o massacre do Carandiru, em 1992, o país publicava as experiências apenas de homens encarcerados.

"Eles escreviam autobiografias, contos, letras de rap, mas não havia a publicização da arte de mulheres aprisionadas", conta a professora, que um ano depois de defender sua tese estava dentro do presídio dialogando com as internas. Nesses 14 anos, a professora acredita ter ministrado oficinas a quase mil mulheres, levando em conta o atendimento anual a 70 detentas.

Um levantamento feito pela Defensoria Pública do Estado da Bahia registrou 286 mulheres encarceradas no estado em 2023, o que significa que Denise impactou a vida de um quarto das apenadas no estado. "Eu me envolvo nesse problema porque também sou ativista dos Direitos Humanos. E eu me autointitulo feminista, negra e abolicionista. E nós começamos a ver um crescimento exponencial de pessoas presas por causa das políticas antidrogas", declara a professora, que vê nesse dado um processo de ampliação da, em suas palavras, vigilância, tortura e genocídio da população negra. "Esse fenômeno do aprisionamento começa a atingir mulheres, nessas últimas duas décadas e o presídio estava lotado", afirma Denise.

Denise Carrascosa também é professora
Denise Carrascosa também é professora | Foto: Divulgação

Nesse processo, a professora se interessa pelo instituto jurídico da remição de pena por leitura. No mundo jurídico existe a remição, que é o perdão através de algum esforço do apenado e a remissão, o perdão por misericórdia. Em 2013, três anos depois que Denise iniciou seu trabalho com as detentas, o Conselho Nacional de Justiça estabeleceu as normas para a remição de pena.

"Esse projeto que eu tinha começado em 2010 se torna um instrumento para a redução da pena na Bahia", destaca a professora. A leitura, literalmente, libertando as pessoas.

Através de uma votação entre as detentas que participaram das oficinas, decidiu-se que a biblioteca comunitária se chamaria Mentes Livres. "O projeto recebe o nome Corpos Indóceis, debatendo com o filósofo Michel Foucault a questão do encarceramento, em que eu estou nomeando as pessoas que estão presas no Brasil como pessoas indóceis", afirma a professora. Denise e os outros baianos finalistas vão saber o resultado do Prêmio Jabuti nesta terça-feira, em uma solenidade no Auditório Ibirapuera.

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