PLURAL
Avanços em diversidade e inclusão estão em risco?
Daniela Castro*
Por Daniela Castro*
O discurso feito esta semana por Donald Trump, que voltou a ocupar o posto de presidente dos Estados Unidos, deixou em estado de alerta ativistas e organizações ligadas à defesa dos direitos humanos. Não dá para dizer que foi uma surpresa ouvir o mandatário minimizar problemas sociais relacionados a temas como gênero e etnia. Mas a perspectiva de retrocesso no campo dos direitos civis na principal potência econômica do mundo preocupa pelo potencial de reverberar em uma tendência global.
O problema é que já não é de hoje que vem ganhando corpo um movimento anti-ESG, sigla em inglês que significa Environmental, Social and Governance e podemos traduzir para Ambiental, Social e Governança. No último ano, grandes empresas como Meta, Microsoft, Zoom, Walmart, Google e Meta abandonaram suas políticas de diversidade e inclusão, que sustentam justamente o S da sigla.
Mark Zuckerberg, CEO da Meta, chegou a argumentar que as empresas precisam de mais “energia masculina”, algo que teria se perdido uma cultura corporativa diversa e inclusiva.
E se essa moda pega mundo afora, já pensou? Eu joguei a questão na mesa para Leana Mattei, diretora da Aganju, agência baiana especializada em ESG e impacto social. Ela confessa que vislumbra tempos desafiadores e sente certa apreensão diante da possibilidade de um processo de ruptura. “O cenário é complexo porque grandes questões políticas e econômicas influenciam e as pessoas tendem ao comportamento de manada, então é possível que haja um efeito dominó global”, prevê.
Ela acredita que a solução para evitar o recuo em avanços já conquistados está na resistência. “A única saída é a ação de países, empresas e pessoas que já entenderam que investir em diversidade e sustentabilidade significa manter os negócios vivos. Mas é preciso que as práticas sejam reais e os benefícios demonstrados com transparência”, afirma. Em outras palavras, Leana está dizendo que não adianta só fazer post no Instagram porque não é na internet que vamos resolver os problemas sociais, viu?
Também fiz questão de trocar uma ideia com Amanda Brito Orleans, co-fundadora da Inclusi, que presta consultoria em DEI (Diversidade, Equidade e Inclusão). Ela faz uma provocação interessante. “Primeiro precisamos pensar por que as pessoas estão voltando a se identificar tanto com o discurso da meritocracia. É porque não querem perder privilégios. Falta entender que ações afirmativas não são para criar vantagens artificiais para grupos excluídos, são mecanismos de correção de desigualdades”, defende.
Ela sabe bem do que está falando, afinal sempre precisou lidar com obstáculos a mais por ser uma pessoa com deficiência. E, a partir de sua experiência, consegue perceber bem as nuances do movimento contrário à agenda “woke” (a gíria em inglês é associada à cultura e direitos de grupos historicamente marginalizados). Mas a especialista prefere ser otimista. “Não acredito que vamos estacionar. Penso que estamos migrando para um modelo mais maduro de gestão de DEI e que vão se destacar as organizações que realmente colocam o compromisso social como um valor central”, aposta. Para Amanda, talvez seja um momento oportuno para começar a separar o joio do trigo.
*Daniela Castro é jornalista, mestra em Cultura e Sociedade e criadora da Inclusive Comunicação. Ela assina a coluna Plural sempre no último domingo do mês.
Dicas plurais:
Livro
Inclusifique: Como a inclusão e a diversidade podem trazer mais inovação à sua empresa (Editora Benvirá, 2020), de Stefanie K. Johnson, apresenta casos de empresas que estão trabalhando para serem mais inclusivas e mostra como isso pode trazer benefícios para os negócios. Ao levantar temas como preconceito, privilégio e empatia, a autora acaba dando dicas para mudanças de atitude úteis também fora do mundo do trabalho.
Pesquisa
A Deloitte assina a pesquisa anual Diversidade, Equidade e Inclusão (DE&I) nas Organizações, que apresenta as principais iniciativas adotadas por empresas que atuam no Brasil. O levantamento apresenta desafios e perspectivas das empresas e tem como objetivo contribuir para o fomento destas pautas na sociedade. A edição atual está em andamento, mas as anteriores podem ser baixadas gratuitamente em deloitte.com/br.
Evento
A ImpulsoBeta está com inscrições abertas para o evento on-line O futuro da inclusão, que prevê palestras, workshops e mesas redondas focados nas principais conquistas e avanços do setor durante a última década e tendências para o amanhã. A programação será transmitida pela página da consultoria no LinkedIn, nos dias 18 e 19 de fevereiro, das 13h às 18h. A participação é gratuita.
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