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Beach clubs apostam em segurança e conforto para atrair público

Com flexibilização das medidas restritivas, estabelecimentos são opção para segundo verão sem Carnaval

Publicado domingo, 09 de janeiro de 2022 às 06:00 h | Autor: Vinícius Marques

Muitos acreditam que não há espaços mais democráticos do que as praias.  Na capital baiana, há para todos os gostos e recebem públicos variados. Antes, era muito comum sair cedo de casa, escolher uma barraca de praia e passar o dia todo comendo, bebendo e tomando sol. Mas em agosto de 2010, a relação do soteropolitano com o mar sofreu uma grande mudança.

Naquele mês, mais de 300 barracas foram demolidas. A decisão partiu do juiz federal baiano Carlos D’Ávila. De acordo com ele, as barracas foram construídas ilegalmente porque ocupam uma faixa de areia que pertence à União.

Declarou em sua sentença que a orla de Salvador estava "favelizada, imunda, entupida de armações em alvenaria", e a construção das barracas "reduziu as praias da cidade, outrora belas, no mais horrendo e bizarro trecho do litoral das capitais brasileiras".

Na ocasião, a Barraca Marguerita e a Barraca do Lôro, na praia do Flamengo, foram as primeiras a ser derrubadas. Hoje, essas duas barracas fazem parte de um grupo de equipamentos diferenciado. São, agora, beach clubs. Basicamente, estabelecimentos dentro de uma casa de praia.

Diferentemente das barracas ou quiosques, os beach clubs prezam pelo conforto, segurança, sensação de exclusividade e uma vista privilegiada.

Um dos pioneiros na gestão de barracas de praia e beach clubs em Salvador, Aloísio Melo, o Lôro, hoje gerencia cinco estabelecimentos no grupo que leva seu apelido – três deles são beach clubs: o Lôro Flamengo, Lôro Stella Maris e Lôro Pedra do Sal. Todos abertos de segunda a domingo, das 10h às 18h. Os espaços não cobram day use para entrada.

Surfista desde sempre, Lôro busca associar a imagem dos estabelecimentos aos esportes. Ao chegar por lá, logo é possível ver fotos de surfe espalhadas. Isso foi intensificado em 2015, quando o grupo Lôro completava 20 anos e decidiu realizar pela primeira vez o Festival do Lôro.

“Colocamos campeonato de surfe, com baterias de pais e filhos, e foi superlegal, a galera adorou”, lembra Lôro. Nos anos seguintes, os espaços passaram a realizar também campeonatos de futevôlei e prestaram apoio em campeonatos de beach tênis.

Conscientização ambiental

O gestor pontua que ao realizar esses eventos, sempre dão destaque também para a conscientização ambiental. É possível notar que nos estabelecimentos do grupo o paisagismo utiliza da vegetação de restinga e outros materiais da própria praia.

Hoje, o Festival do Lôro se chama Festival Pura Vida, organizado por Pedro Imbassaí de Melo, filho de Aloísio. E agora, além dos campeonatos de esportes, o Pura Vida também apresenta shows musicais. Entre as atrações, já esteve por lá o cantor Russo Passapusso, do Baiana System.

“A gente faz sempre esse evento num lugar que tem uma praia com uma extensão maior e que tem menos vizinhos, porque nos preocupamos também em não estar incomodando com o volume de som. Sempre tentamos colocar um volume adequado e não gerar muita zoada”, diz Aloísio.

Essa preocupação parte também de um entendimento de quem são os clientes do grupo. “Nossa pegada é diferente, o público que nos visita é bem eclético. Eu posso arriscar que a maior parte é formada por famílias”, conta Lôro.

Quem tem uma opinião parecida é Fábio Pipa, dono das antigas Barracas Marguerita e hoje gestor do Pipa Beach Club: “Lôro é um perfil mais família, a gente tem um perfil mais jovial, até pela minha pessoa, pelo meio que eu ando, pelas coisas que a gente faz”.

O perfil descrito por Pipa se confirma ao ver que no Lôro Beach Club a maior parte das pessoas estão em família, com crianças pequenas e de colo. Entretanto, o estabelecimento também recebe os mais jovens, mas com um perfil mais caseiro.

 É o caso das amigas Tais Durans, de 24 anos, e Marcelle Braga, de 26. Estudantes de psicologia e medicina, respectivamente, as duas contam que estão sempre visitando o Lôro. “Eu sou mais praieira e não gosto muito de sair à noite. Aqui posso curtir estando em um local mais seguro”, conta Tais. Já Marcelle prefere o espaço pela calmaria, que segundo ela “nesse momento de retomada, estar num local mais aberto é o ideal e os beach clubs oferecem isso”.

As amigas contam ainda que além do Lôro, frequentam o Pipa Beach Club, também localizado na praia do Flamengo. Lá, vão para os eventos com atrações musicais.

No Pipa Beach Club, se percebe que o público gosta mais da curtição mesmo. Casais e grupos de amigos dominam o espaço. A vendedora Itala Marques, 30, nunca tinha visitado um Beach Club e decidiu conhecer o Pipa pelos comentários na internet, que destacam que o espaço oferece diversas atrações musicais. “É bem do jeito que eu gosto”, afirma a vendedora.

Na mesa ao lado, um grupo de quatro amigos, entre eles a médica Jaqueline Mota, 32, que é uma frequentadora do Pipa Beach Club desde quando era a Barraca Marguerita. “O que me atrai aqui é a segurança e a vigilância sanitária”, afirma. Para ela, os dias de shows valem muito a pena por serem mais confortáveis e seguros do que em outros lugares.

Acompanhando Jaqueline, está o gerente de eventos Carlos Pereira, 51, baiano que há 11 anos mora na Inglaterra e já visitou beach clubs em outros países. Quando morou nos Estados Unidos, ele era frequentador assíduo. “Lá em Nova Iorque, beach club é mais privado, elitizado. Aqui é muito mais aberto, para todo mundo. Acho que aqui é até melhor”, afirma.

Programação

Com uma intensa programação para o verão, Fábio Pipa revela que na programação contarão com DJs todos os dias; já às sextas, sábados e domingos, a partir das 16h, bandas locais se apresentam. Hoje, o club recebe a dupla Matheus & Kauan, que teve o show adiado no final de dezembro devido às fortes chuvas. Para o show, o valor cobrado é de R$ 150. No dia 22, o cantor Thiaguinho sobe ao palco. A programação de verão do club segue até o final de fevereiro, encerrando com a banda Parangolé.

“Aqui no Pipa, a gente está procurando fazer um verão bem forte, bem agradável, porque esse é um verão diferente, já que não vamos ter carnaval”, conta Pipa. O espaço funciona todos os dias, das 10h às 19h, e cobra um day use de R$ 20 (de segunda a sexta-feira) e R$ 40 (nos finais de semana).

Sobre os valores de day use, Fábio conta que sempre encontra problema com os clientes locais. “As pessoas de fora não têm esse problema, mas o baiano sempre tem. A gente não tem essa cultura, é uma cultura nova”, explica.

Para ele, o valor inclui a estrutura que oferecem, a segurança, DJ, ducha e o banheiro climatizado: “Isso tudo está dentro de uma taxa, não é couvert. Eu cobro, mas paga quem quer”.

E apesar da grande programação de verão, Fábio não está animado. As fortes chuvas dos últimos meses deixaram um gosto amargo na boca do gestor. Ele lembra que há 23 anos fazendo praia, como gosta de dizer, nunca tinha visto tanta chuva nos meses de novembro e dezembro. “Foram meus dois meses com pior faturamento desde quando comecei com barraca de praia. Um verão meio estranho com esse tempo aí que não faz sol. Está sendo duro”, lamenta.

Fábio Pipa também é proprietário de outros estabelecimentos, como o Caranguejo do Farol, na Barra que, segundo ele, é “o bar mais bonito da orla de Salvador”, além do Frederico, no Jardim Brasil, e o Bão Petiscaria, na Pituba.

“Mas praia, que é onde comecei minha vida e gosto de fazer, está difícil. Porque o turista não está na Bahia, o turista está fora de Salvador, a verdade é essa”, afirma. Ele acredita que os turistas não estão em Salvador porque “acabaram com as praias”.

Recentemente, Pipa viajou por 20 dias pelo Nordeste, mais especificamente na região de Alagoas, e conta que ficou “abismado” com tantos turistas: “Em Salvador não tem nem 10% daquilo”. Um movimento que pode mudar, acredita Fábio. Isso porque, no final de dezembro, a Prefeitura de Salvador, através da Secretaria de Cultura e Turismo (Secult), lançou a campanha Escolha o calor, escolha Salvador.

Na campanha, sete Beach Clubs recebem destaque, entre eles as unidades do Lôro e do Pipa, além do Blue Praia Bar, no Rio Vermelho, e a novata Salvador Beach Club, na praia de Patamares.

“Eles vão voltar a investir pesado em praia. Fizeram gravações na Pipa, fizeram gravações no Lôro, chamaram agências de viagem. A prefeitura de Salvador vai voltar a incentivar o turismo de praia. Eles perderam muito e viram isso”, afirma Pipa.

Central

Situado no Rio Vermelho, na praia de Buracão, desde 2014, o Blue Praia Bar é uma opção para aqueles que desejam ficar mais perto da região central de Salvador. Antes, o Blue era uma barraca localizada na praia da Pedra do Sal.

“Estar agora no perímetro urbano é um dos nossos diferenciais. Oferecemos um refúgio, mas sem se isolar ao mesmo tempo. Isso nos permite brincar aqui com várias experiências que a gente traz para o estabelecimento”, conta Sérgio de Moraes Filho, proprietário do Blue Praia Bar.

De acordo com ele, o Blue oferece uma série de atividades holísticas e de bem-estar. “Ainda mais agora nesse momento em que as pessoas estão com esse burnout de tela, de estarem sempre conectados ao mesmo tempo”, pontua.

No espaço de três andares, cada um serve para uma coisa, desde uma cama flutuante a um teatro, de fato, onde acontecem algumas apresentações artísticas e visuais, como performances circenses de tecido durante o pôr do sol.

Também são oferecidas massagens, reiki, acupuntura e outras opções de relaxamento. Tudo isso incluso no day use do local, que custa R$ 80. O espaço funciona todos os dias, das 9h às 19h. Durante o verão, essas atividades são oferecidas diariamente, além de apresentações musicais dos DJs residentes, o Telefunksoul e o Riffs.

“Eles trazem uma curadoria de música com a identidade da casa, que é uma música de um ritmo novo da Bahia, o que é bacana, porque agrada tanto os soteropolitanos quanto quem quer conhecer nossa música baiana”, diz Sérgio.

Na decoração, o Blue Praia Bar dá destaque para as cores monolíticas e os móveis vêm de uma parceria com a empresa Tidelli, a mesma utilizada nos móveis do Pipa Beach Club.

Tudo isso para dar um ar mais sóbrio e low profile ao local. Para Sérgio, essas escolhas servem para “proporcionar à pessoa que está aqui vivenciar isso da forma e do momento dela”.

 Gastronomia

Apesar de terem sido indicados pela Revista Veja como a melhor carta de drinques de Salvador em 2019/2020 (e ficado em segundo lugar na edição de 2018/2019), Sérgio conta que tudo isso fica em segundo plano para eles.

Ele acredita que as pessoas não vão ao Blue porque estão com fome ou sede. “Dentro do drinque que a gente faz, independentemente da substância, tentamos ser o mais fotogênico possível, para que aquilo ali se destaque perante toda a paisagem paradisíaca em que a gente está instalado”.

Na parte da comida, o destaque é para a cozinha regional baiana. Entre eles, o arroz de hauçá, o peixe assado e o camarão empanado na tapioca. O mesmo ocorre nos outros Beach Clubs: todos com foco na gastronomia baiana.

“A gente está sempre renovando, sempre tentando inovar, criar coisas para despertar o desejo do cliente”, conta Lôro. Mais recentemente, o grupo lançou uma carta de cachaças, para valorizar a bebida nacional.

Já Fábio Pipa admite que é exigente para a gastronomia do Pipa Beach Club e chega até a cozinhar com os funcionários. “Meto a mão mesmo, gosto, discuto com os cozinheiros, a gente troca uma ideia com a equipe e consegue elaborar umas coisas boas”, brinca. Para ele, “com uma comida boa e cerveja gelada ganhamos qualquer cliente”. Entre os mais pedidos estão as moquecas e o peixe frito.

No Salvador Beach Club: praia, três piscinas e brinquedos para crianças
No Salvador Beach Club: praia, três piscinas e brinquedos para crianças |  Foto: Rafael Martins | Ag. A TARDE
  

No outro lado da orla, em Patamares, o Salvador Beach Club oferece ainda a opção de acarajé frito na hora, com uma baiana da casa. No cardápio, estão mais de 100 produtos, entre petiscos e refeições. Dos pastéis e espetinhos, a partir de R$ 16,99, até uma refeição completa, como a Chapa do Mar, contendo 1,500kg de proteína. No prato vai polvo, lula, salmão, camarão e custa R$ 199.

Com uma grande estrutura, o Salvador Beach Club ainda oferece três piscinas para aqueles que não queiram sair para o mar. Para as crianças, ainda oferecem brinquedos, tobogã, parques na areia com escorregadores e balanços.

“Nesse momento de retomada, acreditamos que somos uma opção mais segura até pela estrutura que oferecemos, aqui temos esse diferencial do espaço com as nossas piscinas. Ao visitar qualquer praia de Salvador hoje, você só vai encontrar mesa e cadeira”, conta Leoncio Ribeiro, gerente do Salvador Beach Club.

Para entrar no Salvador Beach Club, são oferecidos dois tipos de pulseiras – uma de acesso (R$ 30) e outra de acesso + piscinas (R$ 60) e há capacidade para 800 pessoas, de segunda a domingo, das 9h às 18 horas.

“Com a mistura do público local com os turistas, nossa expectativa é muito boa para o verão”, diz Leoncio, que garante que nesta temporada ainda irão levar música ao vivo para o estabelecimento aos domingos.

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