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27/08/2023 às 5:10 - há XX semanas | Autor: Renato Alban

MUITO

Beleza e batalha: os 35 anos do Balé Folclórico da Bahia

A resiliência do grupo é o foco da comemoração do aniversário do Balé

Balé Folclórico da Bahia - coreografia GINGA
Balé Folclórico da Bahia - coreografia GINGA -

“Serviço de utilidade pública”. É assim que o professor e coreógrafo José Carlos Arandiba, o Zebrinha, descreve o Balé Folclórico da Bahia, que completou 35 anos neste mês. O relato pessoal do artista sobre a companhia é ainda mais forte: “O Balé Folclórico é meu corpo político”. Para ele, o grupo preserva a cultura nordestina e afro-brasileira.

Como diretor artístico do Balé Folclórico desde 1993, Zebrinha afirma que o grupo forma cidadãos. “Entrei nessa companhia com letramento racial, e a primeira coisa que fiz foi formar os bailarinos para que eles não se sentissem cidadãos de segunda classe”. O Balé Folclórico, diz o coreógrafo, prepara os bailarinos para qualquer companhia de dança moderna do mundo.

Vencedor de prêmios do Ministério da Cultura, do governo da Bahia e de empresas privadas e já considerado o melhor grupo de dança folclórica do mundo pela Associação Mundial dos Críticos, o Balé Folclórico celebra as mais de três décadas de fundação com uma exposição no Foyer do Teatro Castro Alves (TCA) até o dia 1º de outubro.

Criador, diretor geral e coreógrafo do Balé Folclórico, Walson Botelho, o Vavá, conta que não imaginava a repercussão internacional quando fundou a companhia junto com o dançarino Ninho Reis, em 1988.

Os dois eram colegas do Grupo Folclórico da Bahia, que acabou em 1985. “Queríamos uma companhia para dançar, se divertir e ganhar dinheiro”, diz Vavá.

Social

O “serviço de utilidade pública”, como descreve Zebrinha, surgiu por necessidade. “Sem planejar, a gente começou a trabalhar o lado social do Balé”, conta Vavá.

Para ter ensaios diários e manter a qualidade do grupo, os fundadores passaram a se preocupar com a condição financeira dos bailarinos. “Sem isso, a gente não conseguiria trabalhar”.

Assim, o Balé transbordou o trabalho dos palcos. “O lado artístico é aquele que o público vê quando a cortina se abre, mas o trabalho do dia a dia, aquele de formação de cidadania, de consciência da negritude, é o trabalho social que a gente faz todos os dias há 35 anos”, declara Vavá, que continua à frente da companhia, atualmente, com 48 integrantes, sendo 20 bailarinos.

“Dentro da companhia, trabalhamos com o maior contingente de formações possíveis, com todas as técnicas para formar um dançarino competente”, explica Zebrinha.

Dentre as formações que Zebrinha menciona estão dança clássica, dança moderna e jazz. “Em audições fora da companhia, eles não têm dificuldade”, afirma o coreógrafo. No total, 800 artistas já passaram pelo Balé.

Um deles foi o ex-dançarino Hugo Cortes, que depois do Balé Folclórico fez parte da companhia britânica Ballet Black e dos elencos dos musicais Carmen Cubana, com estreia em Viena, e Stomp, em Londres. Em 2006, Hugo foi um dos dois bailarinos negros em uma apresentação especial para as primeiras-damas do G20, grupo dos 20 países mais ricos do mundo.

“O Balé Folclórico foi a minha fundação não só como artista, mas também como homem negro”, destaca Hugo, que entrou na companhia em 2002, depois de um ano de aulas. Aposentado da dança desde 2018, Hugo trabalha na Apple, na Inglaterra, onde é um dos únicos brasileiros e negros do setor. “Imagino que tudo que faço pode se refletir em outros como eu, abrindo portas para nossa comunidade”.

Com afeto, o artista lembra das lições da professora Nildinha Fonseca, a primeira bailarina da companhia. “Quem assiste à aula dela pela primeira vez morre de medo, os bailarinos se transformam em super-heróis”. O receio, diz ele, se transforma em amor. De Zebrinha, que Hugo chama de “pai”, aprendeu quem ele poderia se tornar, com livros e dança. “Mais livros do que dança”.

A admiração de Hugo no início dos anos 2000 pelos dançarinos “super-heróis” foi semelhante à que o próprio Zebrinha viveu, na década anterior. “Quando eu assisti a um espetáculo no TCA, fiquei impressionado, tão impactado que me fez sonhar em trabalhar lá”. Na época, Zebrinha morava na Europa e estava de férias no Brasil.

A vontade de dar relevância social ao seu trabalho artístico o levou ao Balé Folclórico. “Existem poucas pessoas que contaram a história preta brasileira e o Brasil deveria agradecer ao Balé e a como essa companhia leva e muda a impressão da cultura do nosso país no mundo”, afirma Zebrinha.

O grupo também tem projetos sociais para o público geral, com oficinas de dança afro e aulas para crianças. O Balé Junior já teve mais de dois mil alunos e retomou as aulas neste mês, depois de a companhia quase encerrar as atividades na pandemia do coronavírus. Neste período, a sede do grupo, o Teatro Miguel Santana, no Pelourinho, pausou o funcionamento.

Vavá Botelho, fundador do Balé Folclórico da Bahia
Vavá Botelho, fundador do Balé Folclórico da Bahia | Foto: Raphael Muller | Ag. A TARDE

Vavá conta que as dificuldades vêm antes mesmo da pandemia. Em 2018, ressalta o fundador, o grupo tinha o plano de realizar o Festival Balé Folclórico da Bahia, em comemoração aos 30 anos da companhia, mas não conseguiu apoio financeiro. “Não sabíamos nem se iríamos seguir com o próprio Balé”, diz Vavá.

No final de 2021, no entanto, a companhia encontrou dois patrocinadores e, em janeiro do ano passado, realizou o festival, que incluía a primeira edição da exposição aberta atualmente no TCA. Vavá relata que encontrar empresas interessadas em financiar os projetos do Balé é desafiador. Os 35 anos de história, para ele, representam muitos sacrifícios. “A palavra não é nem dificuldade, é batalha mesmo, com vitórias para uma instituição artística vencedora num país que nunca apoiou cultura, arte ou educação”, diz Vavá. Para ele e Zebrinha, há elementos de racismo e xenofobia envolvidos no tratamento de empresas e do poder público à companhia.

Com apresentações em mais de 300 cidades, em 30 países, o Balé Folclórico, diz Vavá, sofre para ser mais conhecido no Brasil: “Para isso, a gente precisa de apoio para circular, patrocínio para mostrar o nosso trabalho”. Zebrinha reforça: “Quando a gente recorre aos poderes públicos, existe uma rejeição, e não existe essa rejeição com as companhias brancas”.

Segundo o diretor artístico, em outros países, o Balé conquista públicos maiores que companhias nacionais com maioria de bailarinos brancos e apoio governamental. “Os órgãos públicos e particulares brasileiros não nos apoiam porque somos pretos. Sinceramente, eu estou muito descrente. Em qualquer lugar do mundo o Balé seria apoiado”, afirma Zebrinha.

Ele ressalta que essa não é uma rejeição do público brasileiro. Para Zebrinha, o Balé Folclórico lota qualquer teatro no país. “Se fizermos espetáculos aqui ou fora do Brasil, fazemos para 15 mil pessoas em praça pública”. Ele afirma também que as apresentações do grupo na periferia de Salvador têm audiência. “A gente coloca a periferia toda assistindo a gente”.

Um exemplo do que o Balé consegue fazer com incentivo financeiro foi o festival que realizou no ano passado. Com apoio do Instituto Cultural Votorantim e da mineradora Vale, a companhia conseguiu promover o evento que deu fôlego financeiro e visibilidade ao Balé. Nas redes sociais, destaca Vavá, o grupo saltou de 1,5 mil seguidores para mais de 20 mil.

Aniversário

A resiliência do grupo é o foco da comemoração do aniversário do Balé. “A exposição no TCA traz a história de uma companhia vencedora, que mostrou que é possível batalhar e trabalhar com a cultura negra”, diz Vavá.

A mostra O olhar do tempo tem figurinos, adereços, recortes de jornais, programas, cartazes, prêmios e vídeos de todas as coreografias montadas pelo Balé. A exposição é também uma homenagem aos artistas que já passaram pela companhia. “Queremos mostrar que eles são vencedores, que são lindos, e que são os melhores do mundo”, diz Vavá.

Zebrinha também reforça a qualidade dos dançarinos do Balé: “Acredito tanto na nossa competência, na competência do povo nordestino e baiano, e o brasileiro não acredita”.

O coreógrafo também destaca que a mostra é uma demonstração de como unir ancestralidade e tecnologia. “Os materiais da exposição são verdadeiras obras artísticas e tecnológicas”, atesta Zebrinha. Além da mostra, o Balé Folclórico ainda vai ganhar um documentário, dirigido pela atriz Glória Pires, no ano que vem.

Para finalizar o filme, o grupo tenta financiamento por meio da Lei Paulo Gustavo, de apoio à cultura. O objetivo é lançar o filme em abril, que é o Mês Internacional da Dança e quando é realizado o Festival de Cinema de Paris, que terá homenagem a Glória Pires. Outra possibilidade é lançar em agosto de 2024, nos 36 anos do Balé Folclórico da Bahia.

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