MUITO
Brichta, o exibido

Por Ronaldo Jacobina

Quem vê o sedutor atrapalhado Armane fazendo mil performances para apimentar seu romance com Fátima (Fernanda Torres), no seriado Tapas & Beijos (Globo), pode passar desapercebido ao ver o ator Vladimir Brichta, 38, sem o figurino ultrafashion do personagem. Embora garanta que é um "mostradeiro" desde pequeno - neologismo para definir exibido -, fora da telinha ele faz a linha low profile e garante que não dá bola para o glamour que cerca o universo dos globais. "Sou muito reservado com minha vida pessoal. Meu tempo livre dedico à minha família. Lá em casa não consumimos revistas de celebridades, meus filhos não veem essas coisas porque queremos que eles tenham uma vida normal".
Isso não significa, ressalta, que deixe de ir aos lugares, de frequentar os amigos, de ter uma vida social normal. "Acho que é a gente que dá o limite. Não me considero nem me comporto como uma celebridade. Acho que a fama e o sucesso podem ser vistos de formas bem distintas", filosofa. Para o ator, que deixou a Bahia no começo dos anos 2000 para encenar a peça A máquina, de João Falcão, hoje em dia, qualquer um pode ter fama.
"O que nós buscamos é o reconhecimento pelo nosso trabalho. Fama é passageira. Não podemos perder as nossas referências, os nossos valores". O que, a princípio, soa como um clichê se desfaz quando ele se refestela em uma das poltronas do Teatro Casa do Comércio, em Salvador, onde mais tarde se exibirá para a plateia do espetáculo Arte, que está em turnê pelo Nordeste, e, no melhor estilo antigalã, arranca os sapatos e começa a massagear os pés, como se estivesse em casa.
"O Vladi continua o mesmo de sempre. Antes de ser um artista conhecido, ele é uma pessoa, um cidadão, pai, marido, amigo, colega, um superparceiro. É uma das pessoas mais especiais e generosas que conheço", diz Marcelo Flores.
O ator, que o acompanha desde os palcos baianos, tem Vladimir como referência. "Ele é louco e irreverente. Seus trabalhos no teatro, em Equus, Calígula e tantos outros, marcaram minha memória, meu aprendizado e mostram uma versatilidade, uma energia cênica, uma entrega, um despudor que encantam a plateia".
Baianidade
O estilo despojado e o desapego ao mundo das celebridades não têm a ver com timidez: "Desde pequeno gostava de me 'amostrar', já nasci metido, 'mostradeiro", brinca. Essa vocação exibicionista costuma usar a seu favor. Especialmente, no trabalho. Foi graças a ela que conseguiu manter a autoconfiança quando caiu de paraquedas no Projac para viver Ezequiel na novela Porto dos Milagres, a primeira da carreira.
"Imagine você ter que contracenar com ídolos como Antônio Fagundes, Júlia Lemmertz e Cássia Kiss! Não dava para vacilar, tinha que ser natural e fazer o meu trabalho. Quando cheguei à TV Globo, a novela estava na metade. Isso ajudou a dar mais visibilidade", diz. Isso e, claro, o fato de ter ficado sem camisa na maioria das cenas.
O preconceito com atores vindos do Nordeste, segundo ele, existe. "Mas não aconteceu comigo. Talvez porque a maioria do elenco já tivesse visto A máquina e elogiado. A recepção foi boa". Ajudou também, acredita Vladimir, seu jeito metido que atribui à sua baianidade. Embora tenha nascido em Diamantina (MG), onde viveu até um ano de idade, chegou a Salvador aos 4, depois de morar três anos na Alemanha. "Minha infância, minha adolescência, e parte da minha vida adulta foi aqui. Me considero baiano. É na Bahia que vivem meus pais (o pai mora em Salvador e a mãe, em Itacaré), meus amigos, onde estão minhas referências e onde fiz minha formação como ator".
Vladimir pisou pela primeira vez num palco aos 6 anos de idade. "Participava do grupo de teatro da Escola Experimental, onde estudava e costumávamos nos apresentar lá e em outras escolas. A trupe ia na Kombi de seu Evilásio, que tinha o nome Turbo escrito na lataria, e eu achava aquilo incrível. Já fazia turnê", sorri.
Foi o aplauso da molecada, acredita o ator, que o impulsionou a se decidir pela carreira. "Adorava me exibir para outras crianças. A paixão pela arte floresceu na adolescência. Aos 16, foi fazer o Curso Livre de Teatro, depois entrou para a Escola de Teatro (Ufba), onde cursou dois anos e meio.
Em uma peça infantil teve o primeiro encontro com o diretor Fernando Guerreiro, um dos primeiros a dirigi-lo. "Posso dizer que a carreira profissional de Vladi foi comigo. Eu participei do amadurecimento dele como ator. Primeiro no infantil Pontapé, depois o adolescente de Equus e o adulto em Calígula, no qual levou o Prêmio Braskem". Apesar da veia cômica, explorada na TV e no cinema, o ator começou no teatro com personagens dramáticos. Para Guerreiro, Vladimir "é um artista versátil, capaz de fazer qualquer papel. A TV o 'enjaulou' na comédia, e isso é muito pouco para um ator como ele". E foi na comédia que Vladimir conquistou o primeiro grande prêmio. Em 2012, foi o melhor ator do gênero pela Contigo!
Já o cinema só lhe deu o primeiro prêmio em abril último, no Festival CinePE, em Recife. O troféu Calunga de Melhor Ator veio por sua atuação em Muitos homens num só, de Mini Kerti, que será lançado no próximo semestre. Coincidentemente, uma comédia. Este ano, além do filme de Kerti, entram em cartaz também os longas-metragens Beleza, do diretor Jorge Furtado, e Um homem só, de Claudia Jouvin. No primeiro, o ator volta a contracenar com a mulher, Adriana Esteves, com quem está casado há dez anos. Os dois não dividiam a cena desde Kubanacan, em 2003, quando se conheceram e casaram.
Família
O artista se considera um bom pai de família. "Formamos uma família moderna. Temos três filhos maravilhosos: a Agnes (16), do meu primeiro casamento; o Felipe (10), da Adriana; e o Vicente (7), de nós dois. Eles se dão superbem. Adriana hoje é a mãe da Agnes. Sempre fomos muito próximos, mas agora, que está uma moça, os assuntos femininos ela divide com Adriana, o que é normal".
Quando fala da filha, os olhos do ator ganham um brilho intenso. Talvez por lembrar da luta que travou com a avó materna da menina para ter a sua guarda depois da morte da mãe, a cantora Gena Karla (1999), com quem o ator foi casado desde os 21 anos. "Foi um período muito difícil para mim, para minha filha, mas, graças a Deus, a justiça foi feita".
Do tipo caseiro, ele diz que, quando as agendas permitem, costuma se reunir com sua galera baiana: Marcelo Flores, Lázaro Ramos e Wagner Moura, para jogar conversa fora e rir muito. "Costumamos nos reunir na casa de Lazinho, onde tem um bar, que chamamos de Bar Joia". Lázaro Ramos confirma e ressalta o bom humor e a boa companhia do amigo.
"Nas situações mais diversas ele tem sempre algo inusitado para dizer que deixa o ambiente mais leve. No trabalho não é diferente. Ele é uma das minhas referências artísticas desde os tempos de Salvador. Assisti muito ele no teatro antes de trabalharmos juntos. É um grande amigo que levarei para toda a minha vida". Até o final do mês, Vladimir segue dividido entre a TV e o teatro. Nas férias do meio do ano, vai baixar com sua filharada toda em Itacaré. Quer matar as saudades da mãe e do resto da família e aproveitar para surfar em águas baianas.
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