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10/10/2016 às 13:42 • Atualizada em 10/10/2016 às 13:52 | Autor: Tatiana Mendonça

MUITO

Búzios & Versace

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Talvez a ficção nunca seja capaz de superar o real. É o que se aprende ao encontrar Aritana de Oxóssi, uma das figuras mais interessantes e controversas da Bahia

Uma limusine branca estaciona no largo de Campinas de Pirajá, bairro popular de Salvador. Assim que a avista, um homem em cima de um trio elétrico anuncia a chegada, acabando com a espera que já durava um par de horas. Acompanhado por uma equipe de televisão, Sílvio França sai do carro e acena para os presentes, com um sorriso largo no rosto. Usa camisa, calça e óculos da marca italiana Versace, além de chapéu, colar, pulseiras e anéis de ouro. A pinta é de artista, mas Aritana de Oxóssi, como Sílvio passou a ser conhecido, apresenta-se como sacerdote.

Naquela tarde nublada de sábado, ele comemorava seu 45º aniversário com uma festa carnavalesca. No trio elétrico, que seguiria até Marechal Rondon - bairro onde nasceu e onde ainda vai comprar pão de manhã -, estavam previstas apresentações da Trem de Pouso (tendo à frente Ninha, ex-Timbalada) e da banda de pagode Os Africanos. "No ano que vem, quem sabe pode ser Ivete Sangalo? Ou o Psirico?", indagou, como quem tinha uma visão, ou fazia uma promessa. "Meu nome é Aritana e o resto é conversa!".

Pela sexta vez, ele realizava o sonho de fazer do aniversário uma farra pública. O evento foi transmitido ao vivo, pela internet, "para todo o Brasil", e também foi exibido no "Axé com Aritana de Oxóssi", programa que há um ano vai ao ar na Band Bahia, nas manhãs de domingo, com a alcunha de ser o "primeiro programa sobre candomblé e umbanda na história da televisão baiana".

Um dia antes da grande festa, Aritana corria para deixar tudo ajustado. Sentado no sofá escarlate da sua sala vip, a poucos passos do local onde joga búzios para os clientes que chegam às pencas, gabou-se de já ter pago todos os serviços adiantados, "à vista", e lembrou-se de repente de que ainda não tinha ido buscar as roupas do aniversário. Pediu para Jefferson Williames, 18, seu assessor pessoal, resolver a questão. O garoto de cabelo platinado tem duas tatuagens nos braços que homenageiam Aritana. "Eles fazem sem nem eu pedir", diz. Jefferson apressou-se a ligar para a loja no shopping e avisar que iriam passar lá, para pegar umas "seis ou sete calças, para ele experimentar". Depois, telefonou para o motorista, para deixá-lo a postos.

Aritana não esconde que é um homem vaidoso, nem vê nisso uma contradição com seu constante discurso de simplicidade. Diz que os adereços de ouro que ostenta representam poder, "são o dinheiro de Deus", e que a prosperidade deve chegar primeiro para ele. "Tudo que venho passando está traçado no meu destino. Primeiro, o santo tem que fazer milagre em minha casa, com a minha prosperidade, e depois fazer para o próximo".

A vida de Sílvio começou a mudar há quinze anos, quando avistou o índio que o rebatizou. Conta que morava de favor num barraco de tábua no bairro de Canabrava quando a entidade apareceu, anunciando seu dom e fortuna. A primeira consulta foi para um amigo, que estava se candidatando a vereador. Além de dizer que ele iria perder, emendou outra má notícia, a de que iria se separar da esposa. "Dito e feito".

Ares surrealistas

Por essa previsão, não cobrou nada. Depois, uma amiga, sabendo do seu "grau de mediunidade", comentou que um rapaz havia prometido dar metade do seu carro se ele conseguisse trazer sua mulher de volta. Ele fez orações para o homem e prometeu o regresso da amada em 28 dias. Pelo trabalho, ganhou R$ 35 mil, mas, por ordens do índio, conta que teve que investir todo o dinheiro num caruru em sua honra. "Fiz a festa e não fiquei com um centavo".

A partir daí, a história mística ganha ares surrealistas. Aritana conta que, por obra do boca a boca, ganhou logo depois um serviço maior ainda. Um empresário de São Paulo teria depositado em sua conta R$ 1 milhão, por ter resolvido seu problema. "Eu pedi esse dinheiro brincando, mas ele acreditou de verdade. Deu tudo certo".

Com esse histórico, resolveu transformar a vidência em profissão. Primeiro abriu uma salinha no Campo Grande, depois foi para a Carlos Gomes, investindo "pesado" em propaganda. A estratégia vale até hoje. Parte considerável do seu programa de televisão, cujo horário é alugado, é usado para promover as consultas espirituais, pelas quais cobra R$ 100 (fora o preço bem variável dos trabalhos). Na televisão, ele também distribui cestas básicas e cadeiras de rodas e conversa com representantes do candomblé.

Atualmente, Aritana atende no Edifício Themis, na Praça da Sé, e ocupa quase um andar inteiro do prédio. Lucas Teles, 21, um dos atendentes do Centro Aritana de Oxóssi, conta que o lugar já recebeu mais de 80 pessoas num único dia, e que por isso é preciso dispensar consultas. Aritana diz que atende no máximo 25 clientes por dia, muitos dos quais evangélicos, e que conta com a ajuda dos "filhos de fé". "A depender da situação, tem que ser eu mesmo. Mas se vejo que é coisa pouca, a gente bota os meninos para já começar a fazer todos os procedimentos". Cerca de 40 pessoas trabalham com ele, a maioria homens jovens, e Aritana tem orgulho de dizer que estão todos com a vida arrumada, de posse "do seu carrinho, da sua motinha".

Pelo menos duas vezes por semana, a "artesã capilar" Negra Jhô visita Aritana para dar um abraço no amigo. "É uma figura conceituadíssima. Uma vez mandou eu tomar um banho de folha que resolveu minha situação". Consulta mesmo ela diz que nunca fez, e nem precisa, porque ele só de olhar já sabe do que ela precisa. "A gente tem esse vínculo".

Negra Jhô conhecia Sílvio França de vista e sempre o cumprimentava quando passava por ele em Marechal Rondon. Também já tinha visto muito cartão e outdoor de Aritana de Oxóssi, mas nunca tinha ligado o nome à pessoa. "Para falar a verdade, eu pensava que Aritana era uma mulher. Aí um dia meu filho comentou que Aritana era Sílvio. Ele é uma pessoa muito simples, alegre, gosta de brincar, mas também tem a hora séria, de ajudar as pessoas. É um parceiro perfeito".

Para ela, o grande diferencial de Aritana em meio a outras pessoas que também vivem dos búzios é que ele "faz e mostra a cara". "Muitos que também têm vidência ficam mais reservadas, e ele não tem problema em se mostrar. E pode fazer isso, porque tem bons resultados".

Para comodidade do cliente, também é possível realizar uma consulta virtual, indicando nome completo e data de nascimento. Aritana garante que o resultado é o mesmo. Em sua página oficial, informa que aceita todos os cartões e indica contas em três bancos, para transferências.

Filial em Brasília

Em maio deste ano, Aritana recebeu em São Paulo o Prêmio África Brasil, promovido pelo Centro Cultural Africano, pelo programa que apresenta. Também neste ano auspicioso, abriu uma filial do seu centro em Brasília. Divide a semana entre Salvador e a capital federal, onde está uma das suas cinco casas (faz questão de mencionar ainda a "Fazenda Real").

Na primeira vez que visitou Brasília, levou uma carta com a previsão do impeachment de Dilma Rousseff. Tinha a esperança de se encontrar com a ex-presidente, o que não aconteceu. A viagem não foi em vão. Fez contatos que o animaram a trabalhar por lá, onde diz atender "dos mais humildes até a alta sociedade". Conta que em seu centro só não entra "dinheiro sujo". "Sou de Xangô, então sou pela justiça. Se um traficante me procura pra sair dessa vida, aí ajudo, mas não cobro. Dinheiro sujo não faz milagre. A mesma coisa com político".

Aritana diz que "o povo pede direto" para que ele saia candidato, mas que ele mesmo "nunca" pensou nisso. "A política precisa de alguém que possa representar a religião. Teria que pensar muito. Trabalho dentro da minha palavra, e se um dia fosse um político, teria que manter minha palavra ou então renunciar, se visse que não dava para mim. Mas o que tem que acontecer, acontece. Não adianta eu dizer que não quero ser e amanhã ou depois, ser".

O amanhã parece ter chegado rápido. Aritana já preencheu a ficha de filiação ao Partido Humanista da Solidariedade (PHS) e, após as eleições, deve participar de um ato para homologar a filiação. O presidente estadual do partido, Junior Muniz, conta que ele é pré-candidato do partido para o cargo de deputado federal, no pleito de 2018.

Solteiro e pai de cinco filhos, Aritana diz que não é um homem de divertimentos. Que não bebe, não fuma, não anda em festas. Em suas casas todas, conta que nunca tomou um banho de piscina. Parece gostar de trabalhar, de aparecer, e de não saber muito bem o que fazer com as folgas. Para estar sempre bem com todos, frequenta de igrejas evangélicas a terreiros de candomblé e umbanda. Nunca chegou a se iniciar em nenhum deles, mas num vídeo de divulgação da sua página se autointitula o "maior pai de santo do Brasil". "Primeiramente, vem a minha religião. Quanto mais eu subir, mais eu quero ser humilde".

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