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Carnaval e as fronteiras da fantasia

Daniela Castro*

Por Daniela Castro*

23/02/2025 - 3:00 h
Imagem ilustrativa da imagem Carnaval e as fronteiras da fantasia
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No calendário oficial, a festa ainda nem começou. Mas, na prática, o espírito de Momo já tomou conta do povo “de hoooje”, como dizemos na Bahia. Essa antecipação do clima carnavalesco não é nenhuma novidade, assim como também sempre volta à tona o debate sobre esse parêntese de exacerbação da liberdade que se abre em nossas rotinas. Mas, se é Carnaval, liberou geral? Peraí, bora devagar.

A gente sabe que uma festa dessa dimensão não é feita só de alegria e boas intenções. Há quem aproveite o embalo para levar para a avenida preconceitos contra determinados grupos sociais, como mulheres, indígenas, pessoas negras e LGBTQIAPN+, sob o pretexto de que vale tudo, basta chamar de brincadeira ou liberdade de expressão.

“Brincadeira também pode doer. E não adianta dizer ‘no meu tempo não era assim’. Estamos em um novo tempo, é preciso fazer concessões. Mesmo em ambiente lúdico, é preciso respeitar a diversidade. Se um grupo social diz que que seu comportamento é uma violência contra ele, pare e escute”, recomenda Cleidiana Ramos, jornalista, antropóloga e especialista em festa e memória.

“E eu não posso, com a desculpa de que é um ambiente de festa, adotar comportamentos que no momento atual incomodam e agridem. As festas são dinâmicas como as sociedades. Mas o segredo para perceber qual o limite é sempre o mesmo, o bom senso”, acrescenta Cleidiana, que recentemente ministrou um curso sobre celebrações baianas ligadas ao Carnaval e outras festas populares.

Trocando em miúdos, não pega bem reproduzir atitudes ou carregar símbolos que reforçam estereótipos negativos. Faz sentido, por exemplo, usar pinturas consideradas sagradas para povos originários só para dizer que “virou índio”, por pura chacota? Ou uma fantasia inspirada em um dos clássicos da axé music, que zomba da textura do cabelo da maioria das mulheres brasileiras? Vale pensar.

As mulheres, aliás, costumam ser tema preferencial de fantasias que tomam conta dos circuitos da festa, quase sempre em corpos que se identificam como homens cis e hetero. E isso é um problema? Não precisa ser. A simples referência ao universo feminino é visto como algo até positivo por Paulett Furacão, mulher trans e ativista do movimento LGBTQIAPN+.

“Ali eles têm a oportunidade de vivenciar em algum momento traços de uma identidade feminina. Acho que aproxima e pode ser positivo, se contribuir para desconstruir o machismo, por isso eu sou a favor”, diz a ativista, que atua na organização do Carnaval do circuito Mestre Bimba, no Nordeste de Amaralina, onde desfila como passista a bordo do Trio da Prevenção.

Mas ela tem suas ressalvas. Primeiro, evita o uso do termo “travestido”. “Porque a palavra gera confusão. Homens vestidos de mulher não são travestis, estão apenas usando adereços femininos. Eu não me incomodo com o uso da fantasia, sou uma mulher das artes, vejo essas pessoas como personagens. Mas acho importante deixar clara essa diferença”, pontua.

Paulett não tolera mesmo é quando a criatura perde a linha e deixa a brincadeira perder a graça. “O Carnaval acentua tensionamentos da sociedade que vivemos todos os dias. Por isso há também muito espaço para violências físicas e simbólicas. O limite se impõe a partir do momento que viola o direito de outra pessoa”, pondera.

*Daniela Castro é jornalista, mestra em Cultura e Sociedade e criadora da Inclusive Comunicação. Ela assina a coluna Plural sempre no último domingo do mês.

Dicas plurais:

Série:

Bahia, da Fé ao Profano, série documental dirigida pelo baiano Gastão Netto, virou tema do Carnaval da Mancha Verde, escola de samba do primeiro grupo do Carnaval de São Paulo. A produção, que retrata a dualidade de seis manifestações populares, está na programação recorrente do canal Futura, que pode ser acessado gratuitamente via Globoplay. A próxima exibição está marcada para terça, dia 25, às 20h30.

Livro:

Carnaval de Salvador - Inclusão e Diversidade LGBTQIAPN+ na Folia 2024 é resultado do trabalho do ativista Marcelo Cerqueira junto à Coordenadoria da Diversidade da Prefeitura, onde ele montou um observatório especial voltado para a comunidade LGBT. A obra documenta o fluxo e as experiências do público na festa, refletindo a diversidade e a inclusão que o Carnaval deve representar.

Podcast:

O que pode estar por trás das fantasias de Carnaval? Esse é o tema do podcast Interessa, disponível nas plataformas digitais. Especialistas analisam os significados e simbolismos que podem estar envolvidos nos adereços, máscaras e apetrechos usados durante a folia, abordando a sensação provocada pela possibilidade do anonimato e da chance de experimentar-se como algo que não se é no dia a dia.

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