TENDÊNCIA
Casamento para poucos: o miniwedding em Salvador
A tendência atual é de cerimônias e festas para poucos
Por Pedro Hijo
Trabalhar em home office, assistir a shows online e tirar os sapatos antes de entrar em casa. A pandemia de Covid-19, entre 2020 e 2022, deixou como herança esses hábitos, amplamente seguidos no período e adotados por muitas pessoas após o fim do isolamento social. Outra mudança provocada pela pandemia foi o corte na lista de convidados para casamentos.
Se, antes, noivos e noivas desejavam casamentos grandiosos com muitos convidados, a tendência atual é de cerimônias e festas para poucos, com até 60 pessoas. De acordo com profissionais da área de eventos, a demanda pelos miniweddings (“minicasamentos”, em inglês) tem crescido desde o fim da pandemia.
As restrições para aglomerações de pessoas na pandemia, que começou em 2020, levaram noivos e noivas a casar com, no máximo, 20 convidados. Após o fim das regras de distanciamento, o número cresceu, mas profissionais do setor garantem que o gosto pelos miniweddings pegou. Mais intimistas e baratos, esses eventos têm acontecido em maior frequência.
A decoradora de casamentos de Salvador Fernanda Andrade diz que havia poucos clientes interessados pelo formato de miniwedding até 2020: “Agora, faço no mínimo um por mês”. O fotógrafo baiano David Lingerfelt também percebeu a tendência: “O casamento mais intimista ganhou muita força de uns anos para cá”.
David estima que metade dos casamentos que fotografa por ano é no formato de miniwedding. “Mas a realidade de casamentos grandes, tradicionais ou não, continua muito viva e forte”, pondera. Segundo o organizador de casamentos e cerimonialista baiano Raphael San, mesmo as festas maiores tiveram uma redução no número de convidados.
“Quando os eventos voltaram [depois da pandemia], percebi que os casamentos que aconteciam para 200 a 250 pessoas caíram para 150”, diz Raphael. Ele conta que, apesar da tendência dos miniweddings ter ganhado força, os casamentos para 150 pessoas têm sido os mais requisitados por noivos e noivas.
A médica Larissa Leite gostou do formato mais intimista de casamento e promoveu uma festa para 60 pessoas num restaurante no bairro do Rio Vermelho, em Salvador, no mês de março: “A gente nunca pensou num casamento clássico, grande, porque não é a nossa vibe. Então, pensamos em restaurante ou hotel que fosse reservado para poucos”.
Apesar da identificação do casal com o formato, a noiva admite que foi difícil manter a lista reduzida de convidados. “A minha família por parte de mãe é grande. A família do meu noivo é pequena, mas ele tem um grupo de amigos grande”, conta Larissa. “Essa parte é dura, mas a gente soube lidar muito bem com essa decisão”.
Uma solução que os noivos criaram foi incluir os familiares e amigos que não estavam entre os 60 convidados em outros eventos relacionados à cerimônia, como chá de lingerie e despedida de solteiro. No dia da celebração, diz Larissa, o objetivo era criar uma conexão com as pessoas mais próximas da história do casal.
“Já fui a casamentos grandes onde eu percebia que os noivos não passavam um tempo de qualidade com os convidados. No meu, eu consegui ter um momento com cada um deles”, comemora Larissa, que aproveitou o número reduzido de pessoas para personalizar detalhes da festa para agradar familiares ou amigos.
Economia
Sobre os gastos no casamento, a noiva afirma que conseguiu economizar. Como fez a cerimônia e a festa em um restaurante, ela não contratou itens como gerador, mobiliário e toldo. Mas pondera que teve gastos similares a festas maiores, como banda, DJ e roupas, por exemplo. “Não é porque você faz um miniwedding que você, necessariamente, vai gastar menos”, ressalta.
Para Raphael San, que trabalha no setor há 16 anos, os empresários da área tendem a sinalizar que o miniwedding é necessariamente mais barato do que um casamento grande, mas isso, na visão do organizador de eventos, é um equívoco. “Um custo de um miniwedding em Ibiza, por exemplo, seria o mesmo de uma festa para 200 pessoas aqui em Salvador”, exemplifica.
Na maioria das vezes, no entanto, a lista de convidados é um fator que impacta diretamente no valor total. Segundo o cerimonialista, o custo médio de um casamento é de R$ 1 mil por convidado. “A partir do momento em que a pessoa decide alugar um espaço e contratar um buffet, isso vai exigir uma entrega [financeira]”, destaca Raphael.
Se antes era tradição o pai da noiva custear o evento, atualmente, diz Raphael, é comum que os próprios noivos e noivas assumam os gastos. Esse é um dos fatores que têm levado os casais a optar pelo miniwedding. Ainda segundo o cerimonialista, muitos noivos também têm renunciado à celebração na igreja. Nos miniweddings, é habitual que cerimônia e festa sejam realizadas em restaurantes.
Orçamento
Essa mudança tende a diminuir o orçamento da decoração dos miniweddings, diz Fernanda Andrade. A decoradora de casamentos explica que, como os restaurantes já são alugados pelos casais com os móveis, não há necessidade de contratar mobiliário, diferentemente do que ocorre em cerimoniais. “A gente só entra com a parte floral e com as mesas de bolo e doces”.
“Por conta da quantidade de convidados, o miniwedding é mais econômico, porque, quanto mais convidados, mais acentos a gente vai ter que oferecer”, completa Fernanda. A decoradora cita como os restaurantes mais procurados em Salvador para o formato de evento o Blue Praia Bar, o Alfredo’Ro, o Amado, o Chez Bernard e o Coco Bambu.
Alinhado ao objetivo dos noivos e noivas de economizar, David Lingerfelt criou um pacote de fotografia exclusivo para miniweddings. “O valor é menor em razão de o trabalho ser menor. O tamanho físico do casamento afeta a logística do trabalho e a pós-produção das fotos”, explica. Em um casamento grande, a contratação de David fica em torno de R$ 5,7 mil. Já em um mini-wedding, o valor cai para R$ 3 mil.
A cobrança de serviços de fotografia para casamentos grandes em Salvador, diz David, pode chegar a R$ 15 mil. Os valores dos eventos com até 60 convidados têm atraído os casais. “Sem dúvida, o número de miniweddings aumentou”. David já chegou a fotografar até mesmo um casamento com apenas quatro convidados, no Vale do Capão, na Chapada Diamantina.
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