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ABRE ASPAS

“Cigarro eletrônico é mais viciante que a versão comum”, alerta pneumologista

Confira a entrevista com o pneumologista Octavio Messeder

Por Redação

08/12/2024 - 4:00 h
Imagem ilustrativa da imagem “Cigarro eletrônico é mais viciante que a versão comum”, alerta pneumologista
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O consumo de nicotina é até seis vezes maior para quem fuma cigarro eletrônico se comparado a 20 cigarros comuns. É o que apontou um estudo lançado na semana passada pelo Instituto do Coração do Hospital das Clínicas da Universidade de São Paulo (USP) em parceria com a vigilância sanitária do estado de São Paulo e o laboratório de toxicologia da USP. A análise revelou ainda que cigarros eletrônicos – conhecidos também como vaporizadores ou vapes – podem representar um risco substancialmente maior para a dependência. De acordo com o médico pneumologista baiano Octavio Messeder, o cigarro eletrônico é mais viciante porque o vaporizador proporciona um uso mais intenso. “Nós temos receptores no nosso cérebro que vão se ligando à nicotina”, explica Octavio, diretor técnico das Unidades de Tratamento Intensivo (UTI) do Hospital Português, em Salvador. “A pessoa inala e absorve pelo sangue e essa nicotina vai para esse receptor”. Nesta entrevista, o especialista ainda fala sobre tratamentos, os malefícios e o consumo crescente pelo público jovem.

Qual é a diferença do cigarro comum para o cigarro eletrônico?

Os dois têm diferenças significativas, mas, um ponto em comum: ambos são muito nocivos. Quando uma pessoa fuma, ela aspira nicotina. Quanto mais ela fuma, mais nicotina essa pessoa absorve, que é a substância que a estimula. No caso do cigarro eletrônico, essa nicotina é entregue por meio de vapor, que pode conter outras substâncias. Com esse tipo de cigarro, o sujeito pode absorver muito mais nicotina, porque se aspira muito mais vezes durante o dia. Afinal, ele não precisa acender, não precisa se preocupar tanto com o ambiente em que está, se está incomodando outras pessoas, por exemplo. Então, ele pode fumar de forma mais sorrateira. Isso é muito preocupante porque são doses muito altas de nicotina que são consumidas. No consultório, eu entro em contato com pacientes que usam o cigarro eletrônico de 150 a 180 vezes por dia. Um indivíduo não consegue fazer isso com um cigarro convencional, já que ele tem componentes que podem incomodar muito o paciente quando o uso é exacerbado. Esse alto consumo leva a um risco muito grande não só ao indivíduo, mas a quem está perto também. Isso já é ruim, agora imagine multiplicar esse risco por várias vezes.

O tabagismo perdeu muito espaço nas últimas décadas por causa das campanhas públicas de conscientização. No entanto, segundo levantamento da Inteligência em Pesquisa e Consultoria Estratégica (Ipec), entre 2018 e 2023, houve um aumento de 600% no número de brasileiros que consomem vaporizadores. A que isso se deve?

O tabagismo no Brasil, de fato, foi reduzido graças a uma campanha vitoriosa que mostrou ao público usuário os prejuízos desta prática. Isso foi feito num tempo relativamente curto. Na década de 1990, o Brasil tinha quase 35% de fumantes. Hoje, esse número caiu para algo em torno de 12%, segundo o Ministério da Saúde. Então, ainda existe um ganho muito grande na redução do hábito de fumar, sem dúvidas. O fato de aparecer uma novidade como o cigarro eletrônico pode trazer à tona o estímulo à nicotina. O cigarro eletrônico é mais viciante que a versão comum porque ele proporciona um uso mais intenso. A nicotina é atraente para quem quer o uso de um estimulante e o cigarro eletrônico proporciona um consumo muito mais intenso e frequente pela sua facilidade.

A dependência é mais fácil?

Depende muito da intensidade do uso. Quanto mais o indivíduo usa, mais dependente ele fica. Nós temos receptores no nosso cérebro que vão se ligando à nicotina. A pessoa inala e absorve pelo sangue e essa nicotina vai para esse receptor. Quanto mais você usar, mais viciado vai ficar.

Quais são os problemas desse consumo exacerbado?

Para que o cigarro eletrônico lhe entregue a nicotina, ele precisa de um mecanismo. Claro que o consumo de nicotina por si só já é motivo de muita conversa. Mas, é preciso analisar o que acompanha essa nicotina. O cigarro eletrônico gera um vapor que vem por meio de uma câmara de combustão e que usa substâncias como propilenoglicol e glicerina, fundamentais para que haja um vapor mais denso, inclusive. Então, na hora que a pessoa inala a nicotina pelo cigarro eletrônico, ela também respira essas substâncias, além de aromatizantes e outros elementos que possam ter sido incorporados no cartucho. Agora, dependendo da compulsão do indivíduo, ele pode consumir isso por várias vezes ao dia. Essa inalação consistente dessas substâncias que irritam os brônquios está bem definida como causa de doenças pulmonares, não apenas doenças brônquicas. É uma condição muito mais perigosa, podendo causar até a morte. A Lesão Pulmonar Associada ao Uso de Cigarro Eletrônico (Evali) é uma doença pulmonar grave que pode ser causada pelo uso desses vaporizadores. Essa lesão já foi descrita em vários lugares, inclusive na Bahia. O cigarro eletrônico só apresenta riscos. O benefício da nicotina como estimulante não é uma justificativa para esse tipo de comportamento.

O cantor Zé Neto afirmou na última semana que se afastou dos palcos porque perdeu a voz pelo uso excessivo de cigarro eletrônico. Ele disse que se arrependeu do consumo porque sentiu que o cigarro piorou o quadro de depressão que ele tinha. O consumo de “vapes” também pode agravar o quadro de doenças psíquicas?

Todo estimulante pode deixar o indivíduo dependente. Então, quando ele não tem aquele estímulo por algum motivo, a depressão se instala. Quanto à questão da voz, isso faz sentido porque quando se inala o vapor passa pelas vias aéreas superiores, inclusive pela laringe, que é onde começa a inalação. As substâncias presentes no cigarro eletrônico, a propósito, dão aquele pigarro e a sensação de garganta arranhada.

Em 2009, a Anvisa proibiu a comercialização, a propaganda e a distribuição de cigarros eletrônicos, mas as pessoas continuam fazendo uso. A facilidade de acesso ainda é um desafio?

Sim. O Brasil lida com algo proibido em pleno uso. No nosso país, isso é muito comum. É proibido, mas está aí, disponível, através de contrabando. A Sociedade Brasileira de Pneumologia e Tisiologia (SBPT) tem uma campanha muito forte contra os cigarros eletrônicos. Essa campanha, inclusive, se dá no parlamento brasileiro. Há alguns meses, a SBPT iluminou o Cristo Redentor, no Rio de Janeiro, com luzes verdes para simbolizar o ar puro das florestas. Esse é um protesto contra a presença do cigarro eletrônico e um alerta aos danos que ele pode causar. Foi uma atitude simbólica. A indústria do tabaco tem suas artimanhas. Vendo que eles estavam perdendo usuários, começaram a tornar a nicotina menos denunciante. No cigarro eletrônico, o cheiro é melhor, o que facilita o uso e a socialização. É uma estratégia muito inteligente e maléfica. Mas, na visão de muitos, o dinheiro que essa indústria pretende ganhar com isso, substitui o dinheiro que eles estão perdendo com o tabagismo. Um ponto que estamos insistindo junto ao parlamento é o gasto enorme do sistema de saúde com esse tipo de cigarro. Do ponto de vista econômico, apoiar o cigarro eletrônico é uma verdadeira roubada.

O IBGE indica que quase 17% de jovens entre 13 e 17 anos já experimentaram o “vape”. O que pode ser feito para conscientizar essa parcela da população?

Como aconteceu com o tabagismo, é preciso investir em campanhas de educação. A campanha contra o cigarro convencional é vitoriosa. O câncer de pulmão é a doença mais importante em termos de gravidade e prevalência no mundo. Além do câncer de próstata nos homens e de mama em mulheres, o câncer de pulmão é de difícil tratamento e alta mortalidade. É preciso que os jovens saibam disso: para que o pulmão se manifeste, ele precisa estar muito comprometido. É possível que o indivíduo tenha um tumor no pulmão e não sinta nada, porque não dói. Frequentemente, este órgão se manifesta por falta de ar, por tosse ou secreção. No consultório, eu vejo jovens asmáticos, de 17 e 18 anos, fumando o cigarro eletrônico. Eles chegam com a doença brônquica totalmente fora de controle porque estão propiciando uma inflamação constante. É muito triste que isso aconteça. Pense: são jovens que têm patologia pulmonar usando o cigarro eletrônico. É preciso que haja uma conscientização em massa dos males deste consumo. É necessário que todos saibam que ele não é uma substituição para o cigarro comum, que podem ser nocivos de maneiras diferentes, mas que continuam sendo nocivos. E não sabemos as consequências em longo prazo. Veja, na década de 1940, fumar era uma coisa aceitável socialmente, era até charmoso. Com o tempo, ficou provado que era exatamente o contrário, que o cigarro é altamente nocivo para a saúde, que afeta pulmão, bexiga, coração, vias aéreas.

A indústria do tabagismo é um obstáculo?

Sim. E um parlamento que ainda tem alguns apoiadores a essa indústria. Embora nós tenhamos conseguido manter a proibição, o acesso é muito fácil. Certa feita, eu estava conversando com uns jovens sobre como é que eles conseguiam comprar “vape” se a venda era proibida. Um deles me disse: “O senhor quer receber um na sua casa agora à noite? Eu consigo para você”. Então, é o tipo da coisa que é ilegal, mas que prevalece. E é uma dependência muito difícil de ser tratada. Porque a nicotina é altamente viciante, já foi comparada à heroína. Os receptores cerebrais ficam muito dependentes da quantidade e da frequência que esse estimulante é apresentado. Existem medicações que tentam reduzir esse vício, mas ainda não têm muito sucesso. Existem até medicações que foram projetadas para ocupar parcialmente esses receptores, o que diminuiria a ânsia de fumar, mas são medicações caras e que não são livres de consequências. Então, é uma situação de difícil tratamento medicamentoso.

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