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POR MAIS AFETO E ATITUDE

Coletivos articulam-se para fomentar a cena ballroom em Salvador

Inspirados no movimento norte-americano, membros produzem oficinas e o primeiro baile juntos

Por Vinícius Marques

17/01/2022 - 7:30 h

A norte-americana MJ Rodriguez fez história no último domingo, 9, ao se tornar a primeira atriz trans a ganhar o Globo de Ouro como Melhor Atriz em Série de Drama. O prêmio chega para encerrar o ciclo de três anos como protagonista da série Pose (em exibição no Brasil na Netflix e Star+). Em 2021, MJ também tinha se tornado a primeira pessoa trans a ser indicada ao Emmy em uma das categorias de atuação principais.

Em Pose, MJ é Blanca Evangelista, jovem trans que, durante a crise do HIV/Aids na Nova Iorque dos anos 1980, decide criar sua própria “house” [‘casa’ em português], no movimento ballroom, que é uma espécie de competição artística onde dança e moda se misturam com verdadeiros refúgios para pessoas LGBTQIA+, negras e latinas.

Geralmente, todos os membros de uma house moram numa mesma residência, como é o caso da família criada pela personagem de MJ. As donas dessas casas tornam-se figuras maternas e paternas, chamadas de "mother" ou "father", mãe e pai em português, respectivamente.

Em Salvador, o movimento ballroom só começou a criar raízes em 2019. Atualmente com três casas, todas elas surgiram praticamente ao mesmo tempo. House of Astra, House of Tremme e House of Afrobapho formam a tríade do ballroom na capital baiana.

Passado um período em que foram se descobrindo, crescendo e entendendo como fazer a cultura funcionar por aqui, hoje as três casas se unem para criar o projeto Ballroom Bahia, em que pretendem fomentar esse movimento com oficinas e o primeiro baile em equipe.

“Juntar as três casas foi um babado. Nós viemos de lugares diferentes, temos dinâmicas de trabalhos diferentes e nem sempre encontrávamos um lugar comum”, conta Filipe Moreira, um dos pais da House of Tremme, sobre a união entre as casas.

Ele lembra que a ideia surgiu quando notaram que as pessoas mostravam interesse pelo movimento e, assim, decidiram se unir: “Pouco importa nosso trabalho como casas individuais, o que importa mesmo é ter um movimento que seja ballroom. E ballroom é para ser unida. Não tínhamos como fugir disso. Estamos fazendo assim e está sendo incrível”.

Jornalista formado, Filipe atualmente é graduando em dança pela Universidade Federal da Bahia (Ufba) e cursa o técnico em dança pela Fundação Cultural da Bahia (Funceb). O pai da House of Tremme tem três focos de pesquisa: a dança Waacking, o Vogue e a cultura do ballroom. Durante o mês de janeiro, sempre às terças e quintas, ele oferta um curso de férias focado em Waacking, na Escola de Dança da Funceb.

“É uma coisa super nova em Salvador. É uma dança de homens latinos gays dos Estados Unidos na era da disco music nos anos 1970”, explica Filipe. No Waacking, esses homens dançavam nas ruas, influenciados pelo cinema da época e toda a construção de Hollywood com figuras como Marilyn Monroe, Greta Garbo, entre outras divas.

Intensivão

No entanto, ele revela que a dança não se aplica aos balls, já que são movimentos diferentes. “Hoje, o Waacking faz parte de um movimento de danças urbanas. É para chegar nas festas e se sentir confortável para dançar aquela estética, se vestir brilhando, de paetê”, conta Filipe. “Nas balls, a gente tem as categorias estéticas, que são de look, de rosto, de corpo e as categorias de vogue, que são as dançadas”, complementa.

No entanto, para aqueles que queiram um foco na cultura ballroom, entre os dias 17 a 21 de janeiro, Filipe, junto com as mães das outras casas, irão ofertar um intensivão sobre o movimento, na Escola de Dança da Funceb.

Pietra Felipa, a mãe da House of Astra – ou como prefere ser chamada, Felina Astra –, realizava intervenções artísticas com vogue em festas LGBTQIA+ de Salvador antes de ser mãe de uma casa. A House of Astra surgiu em 2018, em Brasília, e Felina foi convidada para criar um “capítulo” em Salvador, em 2019.

Capítulos são como chamam outras unidades de uma casa em outra cidade ou estado. Hoje, além de Felina, a agremiação da House of Astra em Salvador é formada também por Biela Astra e Gabriela Astra. “Somos três travestis. Para a gente é muito mais complicado esse acolhimento mais intenso em uma House. Nos fortalecemos, entre nós três, mas há outras pessoas que queremos na nossa casa”, explica Felina.

No intensivão que vão realizar, Felina vai demonstrar seus estudos em vogue aos interessados no movimento. Para além da dança, ela espera que a cultura do ballroom seja lembrada pelo seu maior propósito, que é o de acolhimento.

“Meu intuito maior é fazer com que essa mesma sensação que eu tive quando fui acolhida pela minha House se reverbere para diversas pessoas, que elas tenham outras pessoas para contar”, diz Felina.

Mãe de oito filhos, a coreógrafa e dançarina Lu Montty explica que a filiação para a House of Afrobapho vem de um processo muito natural. As pessoas se interessam pelo movimento, criam uma relação afetiva e daí surge o convite. Uma coisa em comum entre as filhas e filhos de Lu é o interesse pela arte: “A maioria deles se identificam com a dança, outras não. Tenho filha que canta trap, filha que dança, que não dança, mas todas vivem e gostam da arte”.

E isso se reverbera nas balls, onde os membros das casas vão juntos e lá a representam. Na ball coletiva que será realizada no dia 22 de janeiro, às 21h, na Casa Charriot, essas casas irão competir em sete categorias, incluindo Face (rosto), Best Dressed (melhor look), Runway (desfile), Baby Vogue Femme (para as pessoas novatas no vogue), Hands Performance (movimento dos braços e mãos), Sex Siren (sensualidade) e uma categoria surpresa.

“A gente compete, tem as categorias, mas ali é um lugar de acolhimento, afeto, um abraço. Na ball a gente amplia esses processos, entendemos que é uma identidade mesmo. Não é só dança, existe muita coisa por trás. É criação de diálogo”, explica a mãe da House of Afrobapho.

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