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De Che Guevara ao Muncab: disco revive a força política de Capinan na MPB

José Carlos Capinan começou a escrever poemas aos 15 anos de idade

Por Gilson Jorge

18/05/2025 - 3:00 h
Capinan está festejando a vida e sua obra
Capinan está festejando a vida e sua obra -

Guardadas as devidas proporções, a morte do guerrilheiro revolucionário argentino Ernesto "Che" Guevara, em outubro de 1967, na Bolívia, causou na esquerda latino-americana um pesar semelhante ao provocado na última terça-feira, com o falecimento do ex-presidente uruguaio Pepe Mujica.

Há quase 60 anos, quando foi informado que Che havia morrido, o jovem poeta baiano José Carlos Capinan sentou-se e compôs a letra de Soy loco por ti, America, destacando que o nome do homem morto já não podia ser dito. A música, uma parceria com Gilberto Gil no início da Ditadura Militar e pouco antes do Ato Institucional Nº 5 (AI-5), apontava o medo de que a "definitiva noite" se espalhasse pela América Latina. E tornou-se, posteriormente, a canção em português que melhor encarnaria o sentimento de ser latino-americano naquele período. Capinan deixava a sua marca, com a música que foi sucesso na voz de Caetano Veloso.

E depois, o baiano faria outras tantas parcerias marcantes com João Bosco (Papel marché), Edu Lobo (Ponteio), Geraldo Azevedo (Moça bonita) e Caetano Veloso (Clarice).

No início da década de 1990, o LP, O Viramundo, de Capinan, foi um dos prêmios de um bingo que acontecia na Península de Itapagipe. Dois irmãos de sobrenome Leal foram os vencedores e receberam o disco das mãos do músico. Esse foi o primeiro contato do jornalista e pesquisador Cláudio Leal, então um garoto de 11 anos, com o poeta baiano.

Mais de três décadas depois do encontro ao azar, está sendo lançado o disco Cancioneiro geral - Tributo a Capinam. Quem você imagina que está assinando a supervisão artística? Se a sua aposta foi Cláudio Leal, bingo! O álbum traz as participações de Renato Braz, de Jards Macalé e do próprio Capinan, no coro e voz.

"O disco é um desdobramento do livro dele, Cancioneiro geral, mas com total autonomia, até porque foram outras pessoas que se envolveram", pontua Leal, que compartilhou com o poeta e crítico literário Leonardo Gandolfi a organização do livro, publicado no ano passado.

"Todo esse processo ê um pouco para rever a intervenção poética de Capinan que, eu acho, nunca se preocupou muito em reunir sua obra em uma antologia e recuperar o trabalho crítico dele", assinala o jornalista.

Além disso, Leal pontua que o retorno do artista à Bahia, no início da década de 2000, afastando-se do centro editorial do país, São Paulo e Rio de Janeiro, prejudicou um pouco o trabalho em cima de sua obra. Mas o nome do homem imortal (Capinan ocupa a cadeira 36 da Academia de Letras da Bahia) não foi esquecido.

Em uma conversa sobre literatura, Gandolfi consultou Leal sobre poetas baianos e o jornalista mencionou o nome de Capinan, dando origem ao projeto. "O objetivo foi por em circulação de vez o conjunto da obra de Capinan e depois fazer uma série de atividades que dimensionem as várias frentes do trabalho dele”, argumenta Leal

A amplitude do trabalho de Capinan passa pelo cinema. Ele foi coautor de algumas canções que integraram a trilha sonora de Brasil 2000, um filme de ficção científica de Walter Lima Jr, que mostrava um país devastado por uma virtual Terceira Guerra Mundial.

"Muita gente se esquece, mas as primeiras músicas definidamente tropicalistas floram de Capinan e Gil para esse filme", pontua Leal, ressaltando que o lançamento de Brasil 2000 acabou sendo postergado por conta de dificuldades na produção e a obra ficou defasada em relação ao tropicalismo.

Poemas

Nascido em Esplanada, em 1941, José Carlos Capinan começou a escrever poemas aos 15 anos de idade. Cinco anos depois, veio morar em Salvador para cursar direito na Ufba e logo ingressou no Centro Popular de Cultura (CPC), uma entidade que havia sido criada recentemente pela União Nacional dos Estudantes (UNE).

Nos anos 1970, Capinan abraça a contracultura. "As canções dele com Jards Macalé nesse período chegam a ser mais experimentais do que no tropicalismo. Na verdade, ele nunca perdeu a sua personalidade do CPC", aponta Leal, ressaltando que Capinan integra uma geração que procurou redescobrir o Brasil.

O peso das questões sociais para Capinan não se limita à música. A criação do Museu Nacional da Cultura Afro-Brasileira (Muncab), no Centro Histórico de Salvador, foi uma batalha pessoal sua. "Nós temos uma dívida muito grande com a contribuição africana na formação da nossa cultura, da nossa identidade", afirma Capinan, diretor-executivo da Sociedade Amigos da Cultura Afro-Brasileira (Amafro), entidade mantenedora do Muncab. Capinan destaca a influência negra em vários níveis do conhecimento; moda, gastronomia e artes.

No tocante à integração regional, o autor de Soy loco por ti, América destaca que a eleição de Donald Trump nos Estados Unidos fortalece a extrema-direita no continente, mas ao mesmo tempo vê surgir novas forças. "Até mesmo o novo Papa, Leão XIV, parece mais comprometido com a América Latina mais precisada de apoio. Ele trabalhou no Peru e conhece um pouco essa demanda", afirma Capinan, que vê no novo líder católico uma possibilidade de contraponto às forças reacionárias e negacionistas, que classifica como extremamente perigosas.

"O neofascismo aparece com uma nova cara e a gente não pode vacilar, pois a gente já conseguiu muitos avanços, muitas pautas importantes e precisamos ter cuidado com essas nomenclaturas novas que estão surgindo", declara o poeta. Sobre Mujica, ele diz: "Admirável protagonista; dos que lutam e dão exemplos de um verdadeiro humanista".

Capinan está festejando a vida e sua obra. Uma dessas faces é o show com Roberto Mendes que deve realizar no segundo semestre, em comemoração aos 25 anos de parceria.

Sobre o disco, Capinan afirma não conseguir dimensionar o valor do tributo, mas agradece a iniciativa. "É o reconhecimento do meu esforço para contribuir com a música popular brasileira. É uma coisa que considero de grande importância para mim, pela representatividade dos parceiros", destaca o poeta.

O álbum digital Sessões Selo Sesc #14: Cancioneiro Geral – Tributo a Capinan (gravado no Sesc 24 de Maio em 24 de maio de 2024 ) está disponível nas principais plataformas de música.

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