GASTRÔ
Delícias juninas na Rota Sabores do Interior
Memórias afetivas e "comidas inesquecíveis" fazem parte de uma viagem singular
Por Gilson Jorge
Em 2013, quando cursava gastronomia na Faculdade Batista Brasileira, a chef Cléa Oliva e seus colegas de turma foram instados, por um dos professores, a inventar um prato utilizando como base um item típico da culinária das festas juninas. Os estudantes, já perto do fim do curso, receberam o prazo de um mês para apresentar suas criações. Cléa pensou em produzir uma alternativa à feijoada. Primeiro, testou misturar as carnes com milho, mas o resultado não lhe agradou. Mudou para o amendoim cozido, trocou o fato por osso de peru, e assim surgiu a amendoinzada.
O prato voltou a ser produzido no ano passado para que a Cantina da Lua, restaurante de seu pai, Clarindo Silva, participasse de um concurso gastronômico. A receita venceu o certame e, este ano, é novamente a atração do restaurante do pai durante a Rota Gastronômica Sabores do Interior, que reúne 49 estabelecimentos gastronômicos do Centro Antigo de Salvador, com refeições, lanches, sobremesas e drinques em uma faixa de R$ 22 a R$ 89.
Cada casa oferece um item da rota, que se estende até o próximo dia 25, no trecho que vai da Rua da Misericórdia ao Santo Antônio Além do Carmo, mas também na Baixa dos Sapateiros e na Saúde.
"Fizemos um evento baseado nas nossas memórias afetivas, das comidas inesquecíveis que provamos na casa da avó ou de um padrinho", declara Simone Carrera, coordenadora de produção do São João no Pelourinho, Simone Carrera, que é dona da Sole Produções, realizadora da rota, em parceria com a Associação de Empreendedores do Centro Histórico (Ache).
A coordenadora afirma que o objetivo da rota é seduzir os soteropolitanos que gostam de comida com toque caseiro. "Tem gente que vai a Cachoeira atrás de uma maniçoba. Queremos trazer essas pessoas", provoca Simone.
Mais caseira do que a amendoinzada da Cantina da Lua, impossível. A criadora do prato ajuda a produzir comida para o negócio do pai, Clarindo, desde os seus sete anos de idade, quando começou a auxiliar a mãe na cozinha.
Coruja, Clarindo realça a trajetória da filha chef. "Ela tem inventado pratos de sucesso. Há algum tempo, ela fez o calapolvo, com camarão, lagosta e polvo", conta o comerciante, sobre o prato feito em sua homenagem, como declara sua filha chef. O cala, com as primeiras sílabas de dois ingredientes, é também um dos apelidos de Clarindo, que gosta de enumerar os feitos de sua herdeira. "Depois, ela fez a mariscada grill. E recentemente teve esse concurso que ganhamos", conta o octagenário guardião do Pelourinho, que se declara feliz com a rota, mas decepcionado com o abandono do Centro Histórico ao longo do ano. Uma luta que não sai do seu cardápio de cidadania.
A Família Prado, do CGC, na Praça da Sé, há 14 anos serve comida caseira, de olho principalmente nos servidores públicos da administração municipal que trabalham na área, seja nos prédios da Câmara de Vereadores, seja nos funcionários do Poder Executivo.
O Cantinho Gourmet do Centro, que deu origem à sigla, é o substituto da charmosa tabacaria que os Prado mantinham no mesmo casarão amarelo até 2010. Veio o cerco ao tabagismo, com a proibição de se fumar em ambientes fechados e, paralelamente, a campanha contra o fumo. A família, cujos antepassados tiveram uma papelaria e um armarinho, precisou outra vez se reinventar. O dono, Alberto Prado, não cozinhava nem em casa, mas teve que aprender a fazer o mal assado, que se tornou um dos carros-chefes da casa, e assumiu a cozinha. Seu filho, Alberto Prado Júnior, comanda o salão.
Para a rota gastronômica deste ano, a família optou por um prato que faz parte do cardápio regular. "A gente já fazia o sarapatel de carneiro. Como o tema é comida do interior, e sarapatel combina com o interior, a gente escolheu esse prato. Sobre o carneiro, escolhemos para diferenciar um pouquinho do sarapatel de porco, que todo mundo acha", pondera Alberto Júnior.
Outro participante da rota que precisou adaptar a sua receita de negócio foi a Tropicalia Gelato e Café, inaugurada há sete anos, na Rua da Misericórdia. Antes, o imóvel localizado ao lado da Galeria Fundação Pierre Verger abrigou um serviço de telefonia à distância, usado principalmente por turistas. Com as novas tecnologias, como o WhatsApp, o serviço ficou obsoleto e o empresário Roberto Scarpa aceitou a proposta da administradora de empresas Ana Raquel Costa de abrir uma sorveteria, mesmo levando em conta a existência de A Cubana nas proximidades. Ambos entraram em sociedade com o também administrador de empresas Cláudio Scarpa, irmão de Roberto. "Depois, a gente ficou pensando no que fazer para os meses de chuva, porque as pessoas não saem muito, e decidiu botar o café, como tem na Europa, nos Estados Unidos, uma cafeteria e gelateria", explicou Ana Rachel.
Para a sua terceira participação na rota, a Tropicália oferece como sobremesa de divulgação um bolo de milho com gelato de quentão por R$ 23. "Na verdade, a gente fez duas coisas para o São João, mas pela rota só é possível divulgar uma. Fizemos também um fondue de chocolate, que não é bem junino, mas serve para essa época", afirma Ana Raquel. O fondue, para duas pessoas, custa R$40.
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