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16/09/2023 às 18:55 - há XX semanas | Autor: Gilson Jorge

“Dona Beja foi um divisor de águas na minha carreira”, diz cineasta

Nesta entrevista, Ceci Alves fala de seu momento no universo da sétima arte

Imagem ilustrativa da imagem “Dona Beja foi um divisor de águas na minha carreira”, diz cineasta
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A cineasta, jornalista, produtora audiovisual e professora baiana Ceci Alves está vivendo um ano de sonhos. Seu curta-metragem, O velho rei, com Antonio Pitanga, está completando 10 anos de lançamento e deve ganhar evento comemorativo. Além disso, a ex-repórter de cultura, que trabalhou no Grupo A TARDE e estudou na Escola Internacional de Cinema e TV, em Cuba, está envolvida com o remake da novela Dona Beja [agora sem a letra ‘i’], na adaptação de Torto arado, de Itamar Vieira Junior, para o cinema e na série Pensão Ludovico, ambientada em Cachoeira.

Doutoranda em Artes Cênicas pela Ufba, Ceci também está fazendo um documentário que reencena o show Barra 69, que marcou a despedida de Gilberto Gil e Caetano Veloso a caminho do exílio em Londres durante a ditadura. Nas palavras da cineasta, o filme "tensiona a linguagem documental com técnicas de realidades expandida e imersiva". Nesta entrevista, ela fala de seu momento no universo da sétima arte e analisa o futuro do mercado de trabalho para roteiristas com a expansão da Inteligência Artificial.

Como foi o trabalho de adaptação de Torto arado para o cinema?

Está com a produtora para fazer a filmagem e a distribuição. Foi um trabalho incrível, maravilhoso, uma obra que discute as questões que devem ser discutidas na contemporaneidade e tratando de uma saga que começa logo depois da abolição da escravatura. É delicado, ao mesmo tempo em que é plangente. Foi um desafio grande estar numa sala de roteiro fazendo a ampliação dessa obra. Quando terminou o trabalho, a gente se sentiu meio órfão. E foi uma sala de roteiro de cabeças caras. Teve Luh Maza, roteirista e diretora das mais badaladas e geniais; Maria Shu, que é super com cancha; Viviane Ferreira, nem dizer, diretora de Ó paí ó 2, e Renata di Carmo, a primeira roteirista negra do país.

Você está na equipe de roteiristas de Dona Beja. Como está a produção?

Eu não posso falar muito sobre Beja porque há uma questão de sigilo no contrato. Mas fui chamada para colaborar por Daniel Berlinsk, que é o chefe de sala, roteirista tarimbado, foi roteirista da Globo durante muitos anos, e fui chamada para ser colaboradora. É a minha primeira experiência com novela, telessérie, foi muito gratificante e muito maravilhoso até porque, além dessa novidade de estar fazendo novela, eu estava fazendo algo que sempre quis fazer. Não sei se você passou por isso, mas quando a gente é criança a gente assiste novelas querendo ser autora daquilo. Foi inclusive uma novela muito icônica para mim na época, que eu adorava e sempre assisti quando passou. Quando fui chamada para escrever justamente Dona Beja fiquei desesperada. Foi um divisor de águas na minha carreira porque me provou que eu podia e que posso escrever e me dedicar a escrever qualquer narrativa, ou seja, deu um upgrade grande nessa minha pretensão de roteirista, de autora, realmente é um antes e depois. Essa adaptação é uma releitura da novela homônima de 1986, inspirada em dois livros sobre Ana Jacinta de São José, uma personagem real: A vida em flor de Dona Beja, de Agripa Vasconcelos, e Dona Beija: a feiticeira de Araxá, de Thomas Leonardos, publicado em 1957. Estou me sentindo muito honrada de fazer parte de dois projetos, Torto arado e Dona Beja, que estão inaugurando uma nova perspectiva de mercado nacional.

Outro projeto seu é a série Pensão Ludovico, ambientada em Cachoeira. Como surgiu essa produção?

Pensão Ludovico é uma parceria com Carollini Assis. É a história de duas crianças que contaminam o universo adulto com sua ingenuidade, pureza e inocência. Coisas que a gente vai perdendo quando cresce e passa a ser esculpida para ser maliciosa, para se defender e conseguir sobreviver nesse mundo. A série fala dessa contaminação, de por que não ser como Gonzaguinha fala, ficar com a pureza da resposta das crianças. E isso é bem o que a gente precisa depois de ter passado por tanto horror nos últimos anos.

É uma história relacionada a Cachoeira ou a cidade foi escolhida por ser um lindo cenário?

Carol [Carollini] sempre escolhe contar histórias que não são do centro, histórias da margem, ao contrário de mim, que sou mais urbana. Minhas histórias sempre são em Salvador ou em uma outra metrópole, a não ser as histórias que escrevo por encomenda. E Carol tem essa propensão que eu acho bem bacana, de escrever sobre o entorno de Salvador ou no interior. Nesse caso, é uma história que se passa em Cachoeira, um cinto cachoeirano, mas uma história universal. É uma pauta que vai do local para o universal. É uma história que tem a ver com as questões ambientais de Cachoeira, que surge a partir de um fenômeno climático. Tem uma enchente lá que faz com que as pessoas percam suas casas e se percam de si. Não é uma coisa que aconteceria facilmente em Salvador, que não é banhada por um rio. Infelizmente, né? Salvador já teve vários rios e afluentes, mas tamparam tudo. A série traz também questões comportamentais da cidade mas numa perspectiva universal.

Tem data para a estreia?

Não. A gente está em pré-produção, deve filmar no próximo verão, depois do Carnaval. Queremos que esteja pronto para distribuição no segundo semestre de 2024. Carol tem vários projetos escritos, ela é muito profícua nesse sentido. E há muito tempo eu tinha essa vontade de filmar um roteiro que fosse de outra pessoa. Uma história que eu não tinha escrito. Eu sempre tive esse interesse, mas no mercado de produções independentes as pessoas tendem a dirigir seus próprios roteiros. É curioso porque é quase como se fosse um formato de produção. No mercado formal, há um fluxograma. O roteirista só escreve, o diretor só dirige. E na produção independente a gente escreve, dirige e produz. Não tem esse fluxograma demarcado. Mas Carol um dia me ofereceu espontaneamente Pensão Ludovico para que eu dirigisse. Isso demonstra muita confiança dela em mim. Era isso que eu queria, alguém que confiasse em meu processo.

Vocês fizeram lives juntas durante a pandemia. Como foi isso?

Há uma coisa sobre Carol. Além de a gente se adorar e ela ser minha parceira de vida, minha irmã querida, a gente tem juntas o projeto Live de Roteiristas, e foi muito por conta desse projeto inclusive que consegui estar desenvolvendo esses trabalhos no âmbito nacional. É muito graças ao convite que Carol me fez que consegui ter essa visibilidade nacional e encampar esses outros projetos além dos que eu já fazia na Bahia. Sou muito grata a Carol por ter me feito esse convite durante a pandemia, esse convite meio um salto no escuro, para fazer uma live de roteiristas para poder congraçar os roteiristas, para a gente meramente conversar e ver ‘o que vai ser do mercado agora que a gente está tão perto do fim do mundo’, como é que a gente ia lidar com isso juntos, juntes. No movimento que criamos na pandemia e dura até hoje, o Vamos fazer coisas juntes, que tem uma base de inscritos imensa, está a Live de Roteiristas. Queria fazer essa pontuação que, a partir da Live de Roteiristas e da nossa amizade, fomos conversando sobre projetos, chegamos a Pensão Ludovico, com roteiro assinado por Carollini Assis, e temos mais alguns projetos juntas.

Você tem feito muita coisa fora da Bahia. O que mais está por vir?

Estou envolvida em outros projetos com produtoras nacionais, um deles não poderei falar porque estou sob sigilo de contrato e num deles fui chefe de sala de uma série documental de uma personalidade baiana, não vou poder dizer quem é agora, mas já já a produtora anuncia. Fiquei muito feliz porque é uma personalidade que é muito cara a mim, muito próxima e que amo e admiro demais; e segundo, porque pude encampar esse desafio de ser chefe de sala justamente com um documentário, que é meu elemento, meu objeto de estudo, e é uma coisa que tenho pendor enorme por fazer, adoro fazer documentário, gosto muito de ficção também, claro, mas acho que o documentário abarca inclusive a ficção enquanto retrato de uma época. Fico muito feliz de ter tido essa oportunidade de dirigir uma sala de documentário.

E aqui em Salvador, tem mais alguma novidade?

Esse ano faz 10 anos do curta O velho rei, que gravei com Antonio Pitanga e estou planejando uma comemoração com Marília Hugues e Claudio Marques, do Cine Glauber e do Panorama. Não faremos no Panorama, mas estamos planejando fazer uma exibição especial para comemorar esses 10 anos desse curta meu com Antonio Pitanga.

Estamos vivendo um momento de retomada do audiovisual, com a volta dos editais e com as leis de incentivo. Ao mesmo tempo, nos Estados Unidos, os roteiristas de Hollywood fizeram greve por conta do uso da Inteligência Artificial no setor. Como você analisa o futuro do mercado de trabalho para quem escreve as histórias?

Tem várias nuances nessa questão da Inteligência Artificial dentro do mercado audiovisual. Algumas ajudam, outras atrapalham. Mas há várias formas de se olhar para essa questão. Pode ser que eu esteja sendo ingênua, mas eu não tenho muito medo do que está sendo dito, que vai mudar o processo, que vai haver perda de empregos. A não ser que aconteça o que se deu em Matrix e a gente pague a língua, com as máquinas tomando o controle. A gente tem que lembrar que por trás da máquina existe o homem. A história foi escrita pelo ChatGPT mas teve alguém que programou, eu quero um roteiro assim, assado, com personagens que têm tais características. Há uma parte humana, não foi o ChatGPT que fez tudo. Não estou negando que isso precarize o mercado de trabalho ou que vá haver perdas de empregos por isso. Pode ser que haja uma adaptação, uma inflexão. Todas as vezes que houve um avanço tecnológico a gente se adaptou.

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