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Doses de cultura: a tradição baiana do cravinho

Por Alessandra Oliveira

23/02/2020 - 11:02 h | Atualizada em 21/01/2021 - 0:00
Mais de 30 opções no icônico O Cravinho | Foto: Uendel Galter | Ag. A TARDE
Mais de 30 opções no icônico O Cravinho | Foto: Uendel Galter | Ag. A TARDE -

Mistura de cachaça, cravo, limão e mel, o cravinho ganhou status dentre as tradicionais infusões baianas e se tornou um dos “símbolos da baianidade contemporânea”, de acordo com o sociólogo Ericivaldo Veiga. No verão, a demanda pode dobrar nos pontos de venda.

O mais antigo bar a vender a bebida no Pelourinho ficava na casa nº 5 do Terreiro de Jesus e pertencia ao tio de Julival Reis, dono do O Cravinho. “Não inventamos nada, resgatamos o que os escravos faziam“, diz Julival.

No O Cravinho, há 30 tipos de infusão, mas nem é preciso dizer qual o carro-chefe. A dose de todos eles custa R$ 4; e com 500 ml, R$ 16. Os ingredientes usados são da Feira de São Joaquim e ficam acondicionados “no melhor dos lugares para a cachaça, que são os tonéis de carvalho e jatobá“, explica.

Dentre as madeiras, as que “dão o gosto bom na bebida em si” são carvalho e umburana, segundo Carlinhos, 65, que já trabalhou com a família de Julival e abriu o bar próprio na Rua João de Deus após o início do Projeto de Requalificação do Centro Histórico de Salvador, em 1992.

Nascido e criado no Pelourinho, o primeiro presidente do Olodum aprendeu a receita de “pai para filho”. Os segredos da preparação não podem ser revelados, mas o modo de consumo é diferente. Enquanto outros cravinhos já vêm prontos, no bar do Carlinhos o limão e mel são acrescentados após a bebida ser tirada do barril.

Por lá, há nove opções de infusão. Todas saem por R$ 4 o copinho, R$ 15 a garrafinha de 500 ml e R$ 25 o litro. A dose maior vende bem entre os turistas. “Para eles, é uma novidade, um negócio todo concentrado no barril”, diz Carlinhos. Ele garante que não é preciso se preocupar se passa no aeroporto porque “o pessoal já conhece”.

Não é igual

A recepcionista Juciara Soares, 54, foi ao bar comprar a bebida para o primo feirense que mora em São Paulo há 40 anos. “Diz que os paulistas até tentam fazer, mas não é igual ao daqui”.

Moradora da Baixa dos Sapateiros há 52 anos, Juciara frequenta o local desde a requalificação de 1992. “Sento, consumo, bebo cerveja. Às vezes, eles querem fechar, mas eu fico pentelhando”, conta orgulhosa do seu desempenho.

Juciara não está sozinha, segundo aponta o antropólogo Ericivaldo Veiga. “O cravinho está inserido no contexto da baianidade contemporânea, do pertencimento ao Pelourinho, Olodum, axé music, da projeção da negritude, estabelecidos a partir dos anos de 1980”.

Tal gosto ganhou força nas comemorações da Terça-feira da Benção. A tradição de tomar infusões, porém, está documentada por historiadores, pelo menos, desde o século 19. Antes, a preferência era pelo aluá, bebida fermentada com rapadura, milho branco e gengibre, presente em rituais candomblecistas.

Sabores

Essa receita é uma das vendidas na Cravo Cravinho, empresa criada pela mercadóloga Aila Melo, 30, e o publicitário Adriano Dantas, 29. Nascida em Santo Antônio de Jesus, Recôncavo baiano, Aila foi criada com o dinheiro da venda de infusões feitas pelo pai. É ele quem produz os sabores que a filha vende na capital.

A Cravo Cravinho começou somente com as garrafinhas de 50 ml (R$ 5), com intuito de exportar a infusão por meio dos turistas. Hoje, vendem também doses de 300 ml (R$ 12) e alugam barris de três e quatro litros. A produção mensal de 25 litros chega a 55 litros de janeiro a março.

Aila diz que a receita está na família, descendente de escravizados, há gerações. “Meu pai aprendeu com o pai dele e passou para mim”. Sua bisa e os tataravós trabalhavam no antigo trem da cidade, onde havia “pequenos comércios de bebidas com infusões de plantas medicinais, alguns animais e, especialmente, do cravo”.

Conforme lhe contava uma das avós, antes de ser comercializado, “o cravo misturado com a cachaça era usado como anestésico, tanto para ingerir quanto para passar nas feridas dos escravos. Mas como era uma especiaria, não era tão barato, as escravizadas que trabalhavam nas casas dos senhores guardavam no cabelo ou na roupa para fazer esse tipo de medicamento”.

Aproveitando a fama desse efeito anestésico, a Cravo Cravinho fornece a bebida para dois estúdios de tatuagem no Nordeste de Amaralina. “Não tem como ter certeza de que ele vai deixar o corpo anestesiado, até porque a dose é muito pequena. Mas tem o efeito relaxante porque quando o cliente consome, ele acredita, assim como seria com outras bebidas alcoólicas”, diz Márcio Carttos, que mantém a parceria com Aila há três anos.

Ele nunca testou o processo em si mesmo e não deixa os clientes exagerarem na dose. Por mês, revende umas 30 garrafinhas. No São João, investe em infusões de sabores variados, mas o preferido segue sendo o cravinho.

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