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Festa dos livros: doze cidades baianas realizam feiras literárias

Por Gilson Jorge

12/08/2019 - 10:04 h | Atualizada em 21/01/2021 , 0:00
Contação de histórias com Helena Santos, durante a Flipelô, no Pelourinho
Contação de histórias com Helena Santos, durante a Flipelô, no Pelourinho -

O último dia 30 de julho foi particularmente movimentado para a diretora de livro e literatura da Fundação Pedro Calmon, Barbara Falcón. Depois de chegar à Estação da Lapa no início da manhã para participar da campanha de incentivo à leitura Leia e Passe Adiante, a servidora se deslocou às 9h para uma reunião com os organizadores da Festa Literária Internacional de Cachoeira (Flica), que, este ano, acontece de 24 a 27 de outubro. De volta à Lapa, ajudou na distribuição entre os visitantes do estande de uma pesquisa sobre hábitos de leitura. O levantamento, que deve ser divulgado até o fim do ano, vai mensurar entre outras coisas o grau de interesse pelas festas literárias, modelo que mistura literatura e outras artes que se populariza em todo o Brasil após o sucesso da Festa Literária Internacional de Paraty, no Rio de Janeiro.

Este ano, a FPC recebeu pedido de apoio para a realização de 12 festas, festivais e feiras literárias em diferentes locais do estado. Desde a Festa Literária Internacional do Sertão de Jequié (Felisquié), até a Festa Literária da Praia do Forte (FLPF), cuja primeira edição aconteceu em maio passado. O estado das festas de largo está virando também um estado de festas de livros. E o ano que começou com recorde de eventos pode terminar com uma ótima notícia: a Fagga|GL events, que vai assumir a administração do futuro Centro de Convenções de Salvador, na Boca do Rio, considera a possibilidade de retomar a Bienal do Livro da Bahia, que não acontece desde 2013. Curiosamente, a empresa francesa GL events, que em maio passado ganhou a licitação para gerir o prédio que está sendo erguido pela prefeitura, associou-se à produtora carioca Fagga, que detém a marca Bienal de Livros da Bahia. “Não há definição, estamos preparando um calendário para o local”, declara a diretora de negócios da Fagga|GL, Tatiana Zaccaro.

No calendário dos livros, ontem foi o último dia da 3ª edição da Festa Literária Internacional do Pelourinho (Flipelô), que, segundo avaliação feita pelos organizadores, “ganhou uma adesão entusiasmada” de empresas, instituições e moradores do Centro Histórico. “Quando realizamos a primeira edição, existia uma grande incógnita sobre a receptividade do público”, afirma Ângela Fraga, coordenadora-geral do evento e diretora-executiva da Fundação Casa de Jorge Amado, responsável pela festa.

Além das atividades em torno da literatura, a organização montou um roteiro de visita a museus e exposições no Centro Histórico e um roteiro gastronômico. A Flipelô deste ano homenageou Castro Alves, um dos poetas preferidos de Jorge Amado, que por sinal escreveu em 1941 o livro ABC de Castro Alves.

Na cidade imortalizada por Amado nos livros Cacau, Terras do sem-fim e Gabriela, Cravo e Canela, aconteceu na última semana de julho a 2ª Festa Literária de Ilhéus (Flios), como foi batizado o evento que unificou o antigo Festival Literário de Ilhéus e a Feira do Livro da Uesc, por intermédio da editora da universidade, a Editus, agora com o apoio da FPC e também da prefeitura municipal de Ilhéus.

O evento teve como atrações o rapper MV Bill e a influenciadora digital Tia Má, além de um bate-papo com a cantora Larissa Luz, mediado pelo escritor Saulo Dourado, vencedor em 2006 do Prêmio Correntes da Escrita, de Portugal, voltado para autores de 15 a 18 anos.

Mediação e curadoria

Dourado acredita que o diálogo da literatura com outras formas de arte, com não escritores falando sobre livros, torna as festas literárias mais interessantes. “Eu me surpreendi como a literatura tem influência na música de Larissa Luz”, afirma o escritor, em sua quarta experiência como mediador em festas literárias. “Nosso objetivo é aproximar o livro do público e trabalhar a formação de novos leitores”, explica a editora da Editus, Rita Argollo, que no último mês de maio foi empossada presidente da Associação Brasileira das Editoras Universitárias (Abeu).

Na turística Praia do Forte, a novata FLPF começou a ser imaginada há dois anos pela produtora cultural e jornalista Vanessa Vieira. Um ano depois, ela descobriu que outra produtora, Rebeca castro, da Gabiroba, tinha o mesmo sonho. As duas se uniram e, com o apoio de comerciantes e pescadores da região, conseguiram tirar do papel a festa, que, segundo a organização, levou um público superior a sete mil pessoas entre 2 e 5 de maio ao Espaço Baleia Jubarte, montado no Clube dos Pescadores.

A FLPF contou com a presença de 21 editoras, 17 pequenas editoras baianas e quatro editoras infantojuvenis de outros estados. “Decidimos que a festa ocorra durante a baixa estação para não dividir o público com a praia e o Projeto Tamar”, explica Vanessa, que convidou a poeta e tradutora Alice Ruiz para a curadoria desta primeira edição.

Curadoria, em eventos literários, é o trabalho de organizar a grade de atrações, escolher autores, debatedores e temas a serem abordados durante a festa. É, basicamente, garantir uma gama de atividades que torne agradável ao público a experiência de estar ali. “Quando se pensa em uma mesa, é necessário imaginar convidados com trajetórias que dialoguem”, explica o escritor, fotógrafo e jornalista Tom Correia, curador da Flica nas edições 2017 e 2018.

A Flipelô tem optado por um modelo de curadoria compartilhada. Na edição deste ano, além de Ângela Fraga, as decisões foram tomadas por Bete Capinan, responsável pela Editora Oiti e coordenadora editorial da Fundação Casa de Jorge Amado; José Inácio Vieira de Melo, poeta e jornalista; Henrique Rodrigues, escritor e integrante da equipe do departamento nacional do Sesc; Marli Niedermaier , coordenadora de cultura do Sesc-BA; e também analistas da Rede Sesc.

Imagem ilustrativa da imagem Festa dos livros: doze cidades baianas realizam feiras literárias
| Foto: Marcos Clement / Divulgação
A novata Festa Literária da Praia do Forte estreou em maio

Mas, independentemente da quantidade de curadores, às vezes o debate proposto no programa descamba para o embate por razões externas. Na Flica de 2013, os debates com o sociólogo e professor Demétrio Magnoli, contrário à política de cotas, e o filósofo e escritor Luiz Felipe Pondé foram cancelados depois que 30 manifestantes críticos à presença de ambos levaram a organização a temer pela integridade física dos palestrantes. Na Flip deste ano, o jornalista Glenn Greenwald, do site Intercept Brasil, foi alvo de protestos, mas conseguiu terminar sua fala.

Leitores

A venda de livros no estande da LDM da Flica 2018 aumentou em 30%, comparando-se com a edição do ano anterior. “O público leitor está crescendo”, afirma Luana Maldonado, gerente de eventos da LDM, que também está presente na Flipelô, na Flios e na Feira Literária de Mucugê (Fligê), que acontece de 15 a 18 de agosto. Luana acredita que esses eventos são uma chance de aproximação do público com autores que são pouco conhecidos. “É um momento de descoberta”, avalia.

Mas para que essa descoberta ocorra é preciso que o visitante esteja disposto a circular. “Há um monopólio das grandes editoras, que têm seus estandes perto do palco. As pequenas sempre ficam afastadas da área principal”, reclama o escritor Evanilton Gonçalves, que acaba de lançar a segunda edição de seu livro de estreia, Pensamentos supérfluos, coisas que desaprendi com o mundo, pelo selo paraLelo13S. Durante a Flipelô, ele participou de mesas e discussões no estande das editoras baianas, que foi instalado no prédio da antiga Faculdade de Medicina, no Terreiro de Jesus.

Não obstante a crítica, Gonçalves enaltece as iniciativas: “O escritor tem que estar em movimento, e as festas literárias aumentam o acesso aos leitores, permite contato com outros autores”. Ele, aliás, tem sido convidado a participar de debates em feiras. Em 2017, esteve em uma mesa na Festa Literária Internacional de Paraty (Flip) e no ano passado participou, por meio do Edital de Mobilidade Artística do Governo da Bahia, da Feira Internacional do Livro de Guadalajara (México).

Elogiado pela escritora Conceição Evaristo, o seu livro esgotou as duas primeiras tiragens, em um total de 400 exemplares, o que, para uma edição independente no mercado baiano, é considerado um sucesso.

Coordenadora da paraLeLo13S e da Livraria Boto-Cor-de-Rosa, Sarah Rebecca Kerlsey acredita que as festas e feiras literárias são uma oportunidade para que escritores e editoras independentes ganhem mais visibilidade, além de uma boa chance para que os leitores conheçam os livros com mais calma e conversem com pessoas que já leram as obras que estão sendo expostas. “É basicamente um encontro entre os autores, livros e os leitores, uma oportunidade para ver o que está sendo publicado e de ter contato corpo a corpo”.

Mesmo longe desse corpo a corpo este ano, o poeta, escritor e professor Ruy Espinheira Filho saúda o aumento de opções de festas literárias. Um alento para quem acha, como ele, que a Bahia anda imobilizada artisticamente. “Eu conheci uma Salvador muito mais ativa, culta e interessada em literatura e artes do que hoje”, dispara Espinheira, que tinha 16 anos quando Jorge Amado lançou Gabriela, Cravo e Canela, e foi contemporâneo de João Ubaldo Ribeiro nas redações de jornal na década de 1960. Acompanhou a efervescência do Tropicalismo, o cinema de Glauber Rocha, a arte de Juarez Paraíso, Carlos Bastos e Caribé. E na década de 1970 estreou como poeta e escritor. ”A Flica é um modelo muito bom”, avalia o autor, que lançou no último dia 25 em São Paulo o seu mais recente livro de poemas, Uma história do paraíso.

De acordo com Barbara Falcón, o papel da FPC é ajudar a fomentar e organizar os eventos literários que estão surgindo pelas mãos de prefeituras, universidades ou produtores privados, de acordo com as características de cada evento. “Podemos ajudar, por exemplo, com nossa expertise na formação de uma biblioteca”. A FLPF, a propósito, está planejando a abertura de uma unidade na Vila dos Pescadores da Praia do Forte, contando com doações de livros, 500 cedidos pela própria FPC e 100 pela Rede Jesuíta de Educação Básica. A Secretaria Municipal de Educação deve doar o mobiliário.

Temas

Livros para formar leitores, livro para incentivar novos escritores. Até outubro, deve ser publicada, em parceria com a Editora Gráfica da Bahia (Egba) e a Editora Caramurê, uma edição com os melhores poemas e redações do Concurso de Poesia e Redação para Escritores Escolares ao longo dos seus cinco anos de existência. “Normalmente, o vencedor recebe um prêmio, como um notebook. Mas este ano decidimos publicar um livro”, explica Barbara, que se declara impressionada com a qualidade dos textos e com os temas escolhidos, como empoderamento feminino e racismo. A cerimônia de entrega dos livros aos alunos deve acontecer no final de novembro, na sala principal do TCA. As inscrições para o concurso deste ano foram prorrogadas até o próximo sábado, pelo site da fundação: www.fpc.ba.gov.br.

Mas ainda que os jovens frequentem as feiras literárias e se animem a folhear e até levar para casa um livro nas ações de rua como o Leia e Passe Adiante, o preço de um exemplar novo em livrarias físicas ou online pode inibir a formação de bibliotecas domésticas em famílias de menor poder aquisitivo. “As pessoas acham que o livro é algo inacessível. Às vezes, durante a campanha, um estudante se aproxima acanhado e quando descobre que não vai pagar pelo livro abre um sorriso”, diz Barbara, da FPC.

Fernando Oberlaender, editor da Caramurê, até concorda que para famílias mais pobres ter livros na estante é difícil. Mas não considera que para a classe média os livros sejam caros. “Quanto custa um hambúrguer? O livro é mais saudável”, brinca o editor, que não acredita no fim da importância das edições impressas. “Eu vou abrir a internet quando estiver deitado na cama?”, questiona.

O editor acredita que há potencial no estado para pequenas editoras, aproveitando as características locais e não imitando modelos de outros mercados. “Precisamos de uma produção de dentro para fora, e não o contrário. Temos um potencial gigante em termos editoriais. Quem souber explorar esse material vai estar sempre em evidência”, afirma.

Em meio ao crescimento das feiras, parte do mercado editorial se mostra crítica à decisão tomada pelo governo federal, no último dia 24, de extinguir o Conselho Consultivo do Plano Nacional de Livro e Literatura. O plano foi criado em 2006 com o objetivo de estabelecer políticas para o setor. No ano passado, por exemplo, especialistas do Brasil, México, Colômbia e Espanha se reuniram em São Paulo durante a Bienal Internacional do Livro para apresentar experiências de bibliotecas públicas e comunitárias, além de iniciativas de incentivo à leitura. Com a decisão de agora, a sociedade civil fica excluída do processo.

“Eu acho lamentável a decisão, pois limita a participação crítica da sociedade nas ações do Plano Nacional do Livro e da Literatura (PNLL)”, critica Luana Maldonado, da LDM.

Tom Correia pensa que “todas as decisões e iniciativas do governo federal apontam apenas para o caminho do desastre social” e considera que as medidas “visam à devastação de qualquer possibilidade de futuro com alguma dignidade”.

Para Oberlaender, “qualquer movimento que promova o livro e a leitura é importante, ainda mais no momento que estamos vivendo”.

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