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Festas pretas mudam a cara do verão de Salvador

Luis Fernando Lisboa e Filipe Moreira

Por Luis Fernando Lisboa e Filipe Moreira

29/01/2018 - 10:45 h | Atualizada em 21/01/2021 - 0:00
Criada em Salvador, a Batekoo cresceu e tem festas fixas em São Paulo, Rio de Janeiro e Recife
Criada em Salvador, a Batekoo cresceu e tem festas fixas em São Paulo, Rio de Janeiro e Recife -

Nos muitos verões da Bahia, há aquele que vibra com batidas e astral bem diferentes dos conhecidos ensaios das grandes estrelas do carnaval. Festas nas noites de Salvador promovem o encontro de pessoas numa sintonia entre musicalidade e atitude. A Muito conheceu quatro delas: Afrobapho, Batekoo, Clube do Ragga e Afrobaile. Em comum, a força das culturas negras, expressando características marcantes. Espalhadas pela cidade, do Rio Vermelho até o Engenho Velho de Brotas, passando pela Avenida Carlos Gomes e Largo dos Aflitos, os preços das entradas vão de R$ 10 a R$ 30. Mais uma diferença entre elas e os shows de pré-carnaval, com valores que chegam a até R$ 165. Sem periodicidade, essas festas inclusivas mudam de lugar a cada edição. Mas as pistas de dança estão sempre quentes com funk, reggae, kuduro, R&B e rap.

>> BATEKOO

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Montações exuberantes chamam atenção na fila que já escapa do Cine Teatro Solar Boa Vista, no Engenho Velho Velho de Brotas. Quase meia noite de sábado, e as luzes dos postes iluminam lantejoulas, pulseiras e roupas coloridas. Nos bancos ao redor, moradores do bairro olham desconfiados o desfile de looks. Ali na quadra, uma voz aguda e animada grita, aos risos: “Ela é infiltrada aqui!”. Uma jovem negra, de cabelo rosa, short brilhante e camiseta preta encontra a amiga branca, sentada no chão. “Ela tá pensando que é a tal da ‘nega lora’”, completa, depois de um abraço apertado. A ênfase na infiltração talvez seja por conta de um dos motes da Batekoo, festa que nasceu em 2014 em Salvador para evidenciar a potência da juventude negra, LGBTT e periférica.

Criada pelos baianos Wesley Miranda, 24, e Maurício Sacramento, 22, a ideia também era garantir alternativa de diversão sem que os preços dos ingressos impedissem , como diz Miranda, “a galera negra de se encontrar e divertir”. Atualmente, a festa é fixa em São Paulo, Rio de Janeiro e Recife, mas já passou por Belo Horizonte e Brasília. Na bilheteria, quem chegou na primeira hora da madrugada reclamou do preço que subiu de R$ 15 para R$ 25. “Ah, esse horário tá mais caro e aí dentro é apertado”, diz um jovem de cabelos cacheados e barba tingida de loiro. Na internet, dava para garantir a meia-entrada antecipada por R$ 10.

Logo na entrada do teatro, a agitação começa no bar improvisado, com garrafas de catuaba sendo esvaziadas na mesma rapidez com que vários copos de plástico se enchiam. Lá dentro, as arquibancadas e o pequeno vão na frente do palco foram transformados em pista de dança. Espaço não parecia um problema. Era difícil reconhecer contornos de rostos, mas os corpos eram inconfundíveis.

O tema musical da noite era dancehall, mas os DJs Bruxa Braba e Jack Nascimento apostaram nas batidas de funk, pop, rap, R&B e kuduro. O set list foi da cantora drag Kaya Conky, que convoca para tremer o bumbum, até o remix de Aquela Sarrada no Ar, com batidas de DJ Maligno e MC Crash. Bem, se os nomes são desconhecidos para você, por ali as figuras são ícones musicais.

A cada play, vale até se equilibrar nos batentes e criar maneiras de rebolar, desafiando a gravidade para tirar, literalmente, o pé do chão. Controvérsias também ficam de lado quando a primeira batida de Vai, Malandra, sucesso de Anitta, toca na caixa de som. Miranda acredita que mesmo com perfil LGBTT, a ideia da Batekoo congrega diversidade e jovens vindos de áreas distintas da cidade. Na Batekoo, todo mundo quer brincar sem olhares de repreensão. (LFL)

>> AFROBAILE

Imagem ilustrativa da imagem Festas pretas mudam a cara do verão de Salvador

Foto: Mila Cordeiro / Ag. A TARDE

Marcada para às 22h, uma fila animada espera para curtir o primeiro Afrobaile de 2018. A festa produzida pela banda Afrocidade aterrizou na Commons Studio Bar, no Rio Vermelho, com uma participação muito aguardada da baiana Luedji Luna e a discotecagem dos DJs Eric Melo e Nai Sena. Antes de uma hora da madrugada, a casa já está lotada, majoritariamente com pessoas negras, que dançam em sintonia com ritmos como pagode, reggae, ragga, kuduro e funk.

Há quatro anos, a banda Afrocidade se reuniu no município de Camaçari querendo estabelecer uma conexão com a história e a representação do povo negro. Sendo assim, criou músicas dançantes que têm a percussão como elemento principal e a primeira edição do Afrobaile, reunindo todo mundo que se interessava pela sonoridade para dançar.

Na festa, os DJs tocam sucessos como Sarrada no ar, do MC Crash, e Ritmo mexicano, do MC GW. Por todos os lados, as pessoas imitam as coreografias do FitDance ou elaboram seus próprios passos.

No show da Afrocidade, a música Que suingue é esse merece destaque: o refrão combina muito com o clima da festa. Ao chamar Luedji Luna para o palco, os ânimos se acalmam um pouco, mas canções como Banho de folha e Um corpo no mundo são cantadas em coro.

O resultado de tudo isso é uma explosão de gente bonita mexendo seus quadris livremente, porque ali ninguém é olhado e considerado exótico. "Você vê que preto reconhece logo seus iguais, né?", diz uma garota animada quando um desconhecido se junta ao seu grupo para dançar.

As sarradas, passos sensuais que têm marcado presença nas festas desde o ano passado, são feitas no chão e no ar, deixando a boate mais quente do que os 37° do verão em Salvador. Além disso, cabelos afro, trançados, dredados ou coloridos e corpos vestindo croppeds e shortinhos, estampas étnicas, ou até um simples jeans, se cruzavam com muita ginga. "Lá em casa, nosso som é black e soa, ecoa, percorre além", canta a Afrocidade e todo mundo chega junto para rebolar a "raba". (FM)

>> CLUBE DO RAGGA

Imagem ilustrativa da imagem Festas pretas mudam a cara do verão de Salvador

Foto: Mila Cordeiro / Ag. A TARDE

Num sábado à noite, o avançar da hora só faz o burburinho na Rua da Paciência aumentar: no parapeito da orla, garrafas de vinho e cerveja se perdem no meio de tanta gente. Bem no centro da agitação do Rio Vermelho, o De Buenas Music Bar funciona pelo segundo dia. Antes, já foi Tarrafas e, mais recentemente, 116 Graus. Seja lá qual for o nome oficial, há cinco anos o lugar recebeu a primeira edição do Clube do Ragga.

A potência musical nascida em encontros de sound systems permanece instigando o trabalho dos realizadores. Os microfones abertos rendem reuniões entre músicos de bairros periféricos para misturar reggae, rap, ragga e dancehall. Assim, foi inevitável o surgimento de uma banda: a CDR Style, com Fall Clássico e Luã Fayakayano nos vocais. A sigla desmembrada é Canto da Rua.

Perto das 23h, o clima ainda está em aquecimento. Por conta da timidez inicial, o som ainda não convence os poucos casais na varanda a se jogarem na pista de dança. O jeito é tomar uma cerveja, conversar baixinho e curtir o set list do DJ Jeff Boto, primeiro convidado da noite, vindo de São Paulo para esquentar os motores do Clube do Ragga. Vez ou outra, pinta uma voz criando interferências no microfone. Por aqui, nenhuma música fica intocada.

As atrações que passam pelo palco estão mais interessadas nas trocas e parcerias do que no comando solitário da plateia apertada, original e animada. Nos homens, bermudas, bonés e camisas de surfista dividem espaço com dreads, calças bem largas e blusões. As mulheres escolhem roupas apertadas, curtas, mas são poucos os saltos. A escuridão privilegia os tênis com solados luminosos, notados com facilidade na pista ou lá fora.

O fluxo de chegada já é maior quando Makonnen Tafari, músico do Pelourinho, assume as batidas com seu trap, uma variante do rap. A vibração é impressionante. O lugar fica mais cheio, quente, mas o ânimo do público não dá sinais de enfraquecer – nem no corpo nem na voz.

No intervalo, antes da CDR Style tomar conta do repertório, toca Sua cara, hit de Major Lazer na voz de Anitta e Pabllo Vittar. Uma galera ri da mudança brusca, mas, aos poucos, a pista vai lotando. Uma jovem antecipa para o namorado o som que virá: “Tem tipo uma pegada Bahia misturada com Jamaica”. Fall Clássico também diz algo parecido sobre o próprio som: “Mostramos a sonoridade e expressões das culturas negras que são parte da gente. O nosso movimento é de representatividade, com a pegada da música jamaicana”. A madrugada será longa. (LFL)

>> AFROBAPHO

Imagem ilustrativa da imagem Festas pretas mudam a cara do verão de Salvador

Foto: Mila Cordeiro / Ag. A TARDE

O relógio marca 23h28 e a festa Afrobapho está começando a esquentar quando Elvis Anjos, quarto membro do grupo de dança The Blacks – parte do coletivo Afrobapho – entra na Amsterdam Pop Club desfilando como se estivesse em uma dessas passarelas de fashion week. A essa altura, os outros três integrantes, Yago Chagas, Deivid Lisboa e Lucas Montty já estão suando suas blusas cortadas, depois de executar coreografias de músicas como Anaconda, da rapper Nicki Minaj, e Paradinha, de Anitta.

A festa produzida por Alan Costa inspira-se em símbolos como Jorge Lafond, a Vera Verão, e nos bailes de Vogue, dança que se caracteriza por linhas, poses e uma performance baseada em modelos, popularizada nas comunidades e clubs negros e LGBTs nos Estados Unidos dos anos 1980. "Estamos aqui contra o comportamento hegemônico de performar masculinidades", diz Alan.

A Afrobapho se propõe a ser um espaço para o público expressar sua singularidade, seja através das maquiagens, roupas, dança, estilos de cabelo ou até imitando em coro a nota mais alta que Pabllo Vittar executa na música Sua cara, como aconteceu na última edição. Servindo de referência para quem estava na festa, Alan chegou na Amsterdam com um maiô preto e durante a madrugada trocou o look por outro maiô dourado.

A noite ainda contou com diversas apresentações. Além das performances de dança do grupo The Blacks, Raoni Knalha, integrante da banda ÀTTØØXXÁ, e a cantora Nêssa incentivaram uma explosão de vitalidade com corpos balançando na pista de dança.

Todos se renderam, com aplausos, às interpretações intensas das drag queens – conhecidas como "monxtras"– Malayka SN, que levou a ancestralidade do Ilê Aiyê, e Ah Teodoro, com a psicodelia da música Los Ageless, de St. Vincent, ambas com um estilo de performance mais teatral e uma estética fora do padrão visto em artistas que simulam o feminino de divas.

Além da festa, que não possui periodicidade, o coletivo Afrobapho e Malayka SN se uniram para produzir as Tropquintas, no bar Caras & Bocas, localizado na Av. Carlos Gomes. Toda quinta-feira, o espaço conta com a discotecagem de Alan e performances de drag queens e outros convidados.

O local, que já sofreu dois ataques com pedras de gelo em menos de um mês de inauguração (incluindo o dia da primeira edição do Tropquintas), resiste. Está aí para quem quiser começar a se divertir antes do final de semana. (FM)

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